O ministro dos Negócios Estrangeiros português vai reunir-se com a Renamo e com o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) na quinta-feira, um dia após a tomada de posse do novo presidente da República, confirmou o Jornal Económico (JE) com o gabinete de Paulo Rangel.
Estes encontros decorrerão no rescaldo das acusações feitas por Venâncio Mondlane ao chefe da diplomacia portuguesa que, nas palavras do candidato presidencial, tem atuado com parcialidade na forma como tem acompanhado o período pós-eleitoral.
"Não há trabalho feito da sua parte em relação ao diálogo em Moçambique. Pelo contrário, o senhor sempre foi parcial, foi tendo posições totalmente tristes, sempre foi de adjetivos contra a minha pessoa", afirmou Mondlane, num direto a partir da sua conta oficial no Facebook.
Além disso, segundo o político moçambicano, o ministro português tem vindo a "manipular" a opinião pública quando diz que acompanha o processo pós-eleitoral no país.
Ao Jornal Económico (JE), o ministro assegura "que está sempre disponível para falar com todas as forças políticas e com a sociedade civil", pelo que estão previstos "previstos contactos com as forças políticas da oposição".
Na mesma publicação no Facebook em que interpela Rangel, Mondlane afirmou: "Saiba muito bem como é que se vai posicionar em Moçambique".
O ministro é esperado em Maputo na quarta-feira para representar o Governo português na tomada de posse de Daniel Chapo como quinto Presidente da República de Moçambique, conforme resultados eleitorais proclamados pelo Conselho Constitucional (CC), que Venâncio Mondlane não reconhece.
"Mandaram a terceira linha, que é o ministro dos Negócios Estrangeiros. Aliás, é um ministro que sempre se posicionou de forma muito ríspida, de forma extremamente descortês comigo, já me chamou de populista, já me chamou todo o tipo de nomes, tem tido pronunciamentos extremamente tristes em público", continuou.
De acordo com o candidato presidencial, foi no dia 12 de janeiro que se deu o único contacto feito entre ambos através de uma chamada telefónica "ocasional, circunstancial", explicou, durante um encontro em Maputo com o embaixador de Portugal em Moçambique, António Costa Moura.
Venâncio Mondlane afirmou, ainda, que Rangel "não pode enganar os portugueses, enganar os moçambicanos, enganar a comunidade internacional, tentando demonstrar" que "tem feito trabalho".
Na segunda-feira, decorreu também a cerimónia de tomada de posse dos deputados parlamentares eleitos em 9 de outubro. Os partidos Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e Movimento Democrático de Moçambique (MDM), forças da oposição, cumpriram com o anunciado e não estiveram presentes na cerimónia.
"O dados apurados indicam que estão presentes nesta sala 210 deputados eleitos, sendo 171 da bancada parlamentar da Frelimo e 39 do partido Podemos, zero da Renamo e zero do MDM", confirmou no dia Filipe Nyusi.
Daniel Chapo, sucessor de Filipe Nyusi, irá tomar posse esta quarta-feira. O novo presidente foi proclamado pelo Conselho Constitucional (CC) de Moçambique, em última instância de recurso em contenciosos eleitorais, vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos.
A eleição de Chapo é contestada nas ruas de Moçambique, com manifestantes pró-Mondlane, que segundo o CC garantiu apenas 24% dos votos mas que reclama vitória, a exigirem a "reposição da verdade eleitoral", com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização. Os confrontos entre a polícia e os manifestantes já provocaram 300 mortos e mais de 600 pessoas foram feridas a tiro.