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Ministro russo Sergey Lavrov reúne com o Secretário de Estado Marco Rubio

Um dia depois de Donald Trump ter alterado o posicionamento dos EUA face à Ucrânia, os ministros do exterior russo e norte-americano reuniram em Nova Iorque, à margem da Assembleia-Geral da ONU. Oligarquia russa desvaloriza e a contraditória mudança de opinião do presidente dos EUA.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, reuniu com o secretário de Estado dos Estados Unidos, o seu homólogo Marco Rubio, à margem da semana de alto nível da 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU. A reunião não foi antecedida de qualquer comentário e foi mantida à porta fechada – e sucede um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter surpreendido os seus interlocutores ao alterar radicalmente a sua posição face à guerra na Ucrânia: depois de ter passado meses – juntamente com o vice-presidente JD Vance – a aconselhar Kiev a esquecer a Crimeia e o leste do país, disse na terça-feira que os ucranianos devem usar a ‘janela de oportunidade’ da crise económica russa para reaverem pela força as suas antigas terras, Crimeia incluída.

Os encontros entre os dois chefes da diplomacia têm-se multiplicado: em 10 de julho, Lavrov e Rubio realizaram uma reunião bilateral de quase uma hora à margem dos encontros da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) na Malásia e mantiveram diversas conversas telefônicas já este ano. E lideraram as suas respetivas delegações na reunião de 18 de fevereiro em Riad, que durou aproximadamente 4,5 horas – para além de se terem encontrado no quadro da cimeira do Alasca.

A agência russa TASS deu grande destaque ao encontro desta quarta-feira – ao contrário do que parece ter sucedido com a imprensa norte-americana. Paralelamente, a TASS dava igual destaque a declarações do porta-voz presidencial, Dmitry Peskov, sobre o futuro do Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Novo START), que a Rússia diz que cumprirá por mais um ano, O presidente russo, Vladimir Putin, está "a estender a mão" aos Estados Unidos com a sua proposta sobre o futuro do Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Novo START), disse Peskov. "Esta é uma questão muito complexa. Neste caso, é claro, o presidente Putin está a estender a mão. Mas há uma ressalva importante: todas as nossas propostas, a boa vontade política de Putin, só permanecerão viáveis ​​se Washington tomar uma posição correspondente", observou.

Questionado sobre se Moscovo já havia recebido alguma resposta de Washington, Peskov observou, irónico, que "aparentemente, Vladimir Zelensky não deu ao presidente Donald Trump a oportunidade de formular uma posição em resposta a essa iniciativa do presidente Putin". Peskov enfatizou que o tópico de estabilidade e segurança estratégicas e o facto de estar a "expirar o documento bilateral fundamental nesta área" foram levantados nas negociações entre Putin e Trump, mas "não houve discussões substantivas".

Recorde-se que, na passada segunda-feira, em reunião com o Conselho de Segurança Russo, Putin declarou que o seu país está preparado para continuar a subscrever os principais limites quantitativos estabelecidos por um ano após o término do Tratado de Armas Ofensivas Estratégicas em fevereiro de 2026, mas deixou claro que isso só sucederá se os Estados Unidos concordarem em retribuir.

Os comentários de Trump segundo os quais a Ucrânia poderia retomar todos os territórios ocupados pela Rússia desencadearam uma onda imediata de críticas de autoridades russas. Dmitry Peskov disse que a mudança de Trump ocorreu após as suas conversas com Zelensky e foi motivada por "interesses comerciais". "A Rússia não é de forma alguma um ‘tigre de papel’. Afinal, a Rússia é mais comumente associada a um urso. Não existe 'urso de papel', e a Rússia é um urso de verdade", disse Peskov.

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev, que já teve uma discussão pública com Trump e é conhecido por suas provocações, disse que o presidente dos Estados Unidos "acabou numa realidade alternativa". "Depois de se encontrar com os palhaços de Kiev e Paris, ele publicou uma mensagem vívida. Na nova realidade, tudo é diferente: Kiev está a vencer, a Rússia está em pedaços", disse Medvedev, para enfatizar que não é bem assim. O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia acrescentou que Trump "regressaria" dessa "realidade paralela" porque "ele sempre regressa" e pode até pedir à Ucrânia que "assine um acordo de rendição".

Leonid Slutsky, presidente do Comité de Assuntos Internacionais do Parlamento Russo, criticou a posição de Trump, sugerindo que as suas declarações estão cheias de contradições. "Trump fez uma série de declarações contraditórias sobre a falta de desenvolvimento económico da Rússia e a suposta futilidade da guerra. É um equívoco extremamente perigoso".