Os trabalhistas regressaram ao poder no Reino Unido ao fim de 14 anos. O famoso gato Larry (um dos poucos hóspedes permanentes) vai ter o seu sexto dono depois de ter sido adotado em 2011 por David Cameron.
Keir Starmer é o senhor que se segue, tendo vencido 410 lugares (212 em 2019), face aos 119 lugares dos conservadores (menos 249). Em terceiro, os Liberais Democratas com 71 lugares (aumento de 63).
Mas a lua-de-mel vai acabar depressa: o país enfrenta um défice orçamental de 4,4% e a dívida pública aproxima-se dos 100% do PIB.
Os mercados reagiram de forma positiva, mas amena, tendo já descontando a vitória trabalhista. A libra estava a subir face ao dólar na sexta-feira, registando a marca mais forte este ano face ao dólar entre as principais moedas. Já o FTSE 250 (mais focado no Reino Unido) atingiu o seu nível mais elevado desde abril de 2022, e ultrapassa este ano o FTSE 100 (mais global). Já as obrigações UK a 10 anos recuaram para 4,128%. A nível global, o índice mundial MSCI tocou num novo valor recorde na sexta-feira.
A chegada ao poder dos trabalhistas foi recebida de forma positiva na sexta-feira, a primeira sessão após as eleições. A libra estava a subir face ao dólar, registando a marca mais forte este ano face às principais moedas. Já o FTSE 250 (mais focado no Reino Unido) atingiu o seu nível mais elevado desde abril de 2022, e ultrapassa este ano o FTSE 100 (mais global).
Para Simon Gergel da Allianz GI, "os mercados de ações recearam em tempos perante a possiblidade de um Governo trabalhista. Contudo, há duas razões pelas quais as coisas são diferentes desta vez. Primeiro, o partido mudou para o centro do espetro político, sinalizado pelas declarações e programa. Segundo, como o curto executivo de Liz Truss comprovou, os mercados de investimento têm poder sobre governos que dependem do financiamento do mercado de obrigações. Se o Labour aspirar a aumentar o défice orçamental britânico, uma reação similar teria lugar".
"É por isso que Sir Keir e a sua ministra sombra das Finanças Rachel Reeves pregaram uma mensagem de prudência orçamental durante a campanha. Deverão seguir o roteiro da vitória do Labour [Tony Blair] em 1997 - que significou 13 anos no poder - talvez tendo em conta uma duração semelhante no Governo. Semanas depois desta vitória, o então ministro das Finanças, Gordon Brown, introduziu as primeiras regras orçamentais formais ao UK", escreveu o analista da Allianz GI que destaca que a "estabilidade atual no UK contrasta com a volatilidade política" noutras regiões, como a União Europeia ou os EUA.
Para James Smith, economista do ING "o novo Governo enfrenta enormes desafios financeiros e orçamentais. As yields elevadas refletem o facto de que a dívida pública está muito próxima dos 100% e o défice está nos 4,4%".
O cargo de Chancellor of the Exchequer vai ser ocupado pela primeira vez por uma mulher: Rachel Reeves é a nova ministra das Finanças.
Por seu turno, Roberto Cobo do BBVA destaca que "Starmer é visto como amigável com os mercados e ortodoxo em termos de política orçamental. Mais, os mercados, e nós, estão confiantes de que o novo Governo vai ser vigilante para evitar o caos que teve lugar há dois anos, quando a crise do mini-orçamento provocou o disparo nos gilts [yields da dívida soberana do UK]".
A abrdn destacou que a maioria absoluta no Parlamento "providencia clareza e estabilidade que os mercados de ações precisam num mundo cada vez mais volátil. A agenda pró-crescimento do Labour é chave para entregar as receitas fiscais necessárias para financiar serviços públicos, com o capital privado a providenciar um papel vital em apoiar o investimento. Se o novo Governo acertar, os negócios com exposição significante à economia do UK deverão ser os prováveis vencedores, essencial em particular para as empresas no FTSE 250 e FTSE Small Cap. Com apenas um pouco de paciência, os investidores deverão finalmente ser recompensados", escreveu Ben Ritchie da abrdn.
O analista defende que uma prioridade para o novo Governo deve ser "tornar as ações britânicas mais atrativas para investidores domésticos e internacionais. Uma das formas mais rápidas e eficazes seria eliminar o imposto de selo tornando o UK mais competitivo, recompensado aforradores e atraindo investimento necessário".
Martin Wolburg da Generali AM escreveu: "Como a mudança de Governo já era esperada, a reação dos mercados financeiros tem sido limitada", tendo destacado que, apesar de o manifesto do Labour sugerir a manutenção do atual cenário orçamental, "a maioria confortável poderá ser tentada a embarcar num caminho orçamental mais solto", com o Orçamento para 2025 a ser apresentado no final de setembro, início de outubro.
"Muitos desafios para o novo Governo. Durante as campanhas eleitorais, os tópicos chave foram a queda no nível de vida, serviços públicos fracos, especialmente no Serviço Nacional de Saúde, carga fiscal elevada e imigração. Starmer prometeu melhorar relações com a UE para resolver os problemas criados pelo Brexit, apesar do regresso à UE não estar em cima da mesa. Nos assuntos externos, contudo, não haverá muitas diferenças face ao anterior Governo", acrescentou Martin Wolburg.
Por sua vez, o Goldman Sachs aponta que os trabalhistas irão "provavelmente aumentar a despesa em 14 mil milhões de libras por ano face ao assumido" para impedir que os gastos dos ministérios caiam em termos reais.
Sobre uma aproximação comercial à UE, os analistas James Moberly and Sven Jari Stehn preveem "um crescimento ligeiramente mais forte no curto prazo e uma inflação ligeiramente mais elevada", com a nova maioria.
Se o Labour avançar para o aumento do salário mínimo, existem riscos de cortes mais lentos das taxas de juro pelo Banco de Inglaterra, alertam.
O sistema eleitoral britânico, com círculos uninominais com uma única volta, tem várias peculiaridades. Uma delas é que o Labout capturou 63% dos assentos, com apenas 34% dos votos, com a sua fatia a subir apenas 1,5 pontos face a 2019. Por outro lado, os partidos do centro capturaram menos de 60% dos votos, face aos 75% registados há cinco anos.