Vão crescendo as dúvidas no seio do governo dos EUA sobre o cumprimento pelas forças israelitas da lei internacional em Gaza. De acordo com um memorando interno a que a Reuters teve acesso, vários membros de gabinetes federais norte-americanos expressaram as suas reservas quanto ao uso dado pelos israelitas de armamento fornecido por Washington, isto quando se aproxima o prazo para o secretário de Estado apresentar ao Congresso um relatório sobre possíveis violações da lei internacional no enclave palestiniano.
Vários oficiais do Departamento de Estado norte-americano consideram que as provas fornecidas por Israel quanto ao cumprimento da lei internacional na ofensiva na Faixa de Gaza não são “credíveis ou fiáveis”, mostrando a extensão das tensões no seio da administração Biden sobre a atuação das forças israelitas.
O secretário de Estado Anthony Blinken terá de apresentar a 8 de maio um relatório no Congresso dos EUA sobre as garantias dadas pelo governo israelita quanto à observância do direito internacional e no uso do armamento norte-americano, sendo que pelo menos sete departamentos manifestaram, até 24 de março, dúvidas quanto a estas garantias, reporta a Reuters. As dúvidas não são transversais, com vários oficiais a manifestarem apoio às ações de Telavive.
Em específico, uma submissão conjunta de quatro departamentos (Democracia, Direitos Humanos e Trabalho; Populações, Refugiados e Migrações; Justiça Criminal Global e Relações Institucionais Internacionais) levanta “sérias preocupações sobre o não-cumprimento” da lei internacional e de guerra na ofensiva israelita em Gaza, detalha a agência.
Estes departamentos questionam a credibilidade das garantias dadas pelas autoridades israelitas, apontando ainda várias situações em que estas bloquearam arbitrariamente a entrega de ajuda humanitária a populações civis, ataques repetidos a locais e profissionais protegidos no contexto de guerra, como médicos e jornalistas, e a falta de vontade em investigar as violações das suas forças militares.
A agressão israelita à Faixa de Gaza causou já mais de 34 mil mortos, a maioria deles mulheres e crianças, de acordo com as autoridades de saúde palestinianas. A ofensiva surge como resposta ao ataque de 7 de outubro pelo Hamas, que resultou na morte de quase 1.200 israelitas no sul do país, cerca de 700 deles civis.
A elevada contagem de vítimas no enclave palestiniano e os relatos de execuções arbitrárias, bombardeamentos de locais protegidos, castigo coletivo pela negação de fornecimento de água, eletricidade e comida e a retórica dos representantes israelitas levou a África do Sul a acusar o país de genocídio contra o povo de Gaza no Tribunal Internacional (TPI) de Haia. O caso está em apreciação, tendo levado à determinação de medidas preventivas para parar o que o tribunal considera um caso plausível de extermínio de uma população civil.
A preocupação norte-americana é que uma condenação de Israel gere repercussões legais para Washington, o principal suporte político e financiador bélico e económico do Estado sionista. Em linha com tal, o presidente Biden ordenou a apresentação de um relatório do Departamento do Estado sobre possíveis violações do direito internacional pelas forças armadas de Telavive.
Apesar de reforçar continuamente o apoio “inabalável” dos EUA a Israel, mesmo confrontado com a acusação no TPI, Biden ameaçou recentemente condicionar futura ajuda militar à tomada de medidas pelo governo de Netanyahu para melhorar a situação humanitária no enclave de Gaza, isolado do resto do mundo por um bloqueio israelo-egípcio há 16 anos.