O maior banco privado português, e o único que integra o PSI, apresenta esta quinta-feira os seus resultados do semestre (que integra a atividade do segundo trimestre que será pela primeira vez revelada). O foco vai estar na evolução da margem, na eficiência operativa e nos rácios de capital. Estes serão os indicadores "estrela" da sessão.
Julien Grandjean, director, Financial Institutions da Fitch Ratings disse ao Jornal Económico que "para o BCP, antevejo receitas sólidas no segundo trimestre de 2023, impulsionadas nomeadamente por um novo aumento da margem financeira".
"O benefício das taxas de juro mais elevadas está a ser alimentado pela rentabilidade, enquanto os custos permanecem sob controlo, permitindo que o banco continue a cobrir os riscos legais na Polónia, mantendo-se rentável", refere o analista da Fitch.
Para estimar os números dos primeiros seis meses do ano, contamos com os números já divulgados do primeiro trimestre do ano. Esta evolução do resultado líquido consolidado nos primeiros três meses do ano “ficou a dever-se ao crescimento expressivo registado quer na atividade em Portugal, quer na atividade internacional, levando a que a rendibilidade dos capitais próprios (ROE) do grupo se situasse nos 17,7%, significativamente acima dos 8,2% apurados no primeiro trimestre de 2022”, revelou o banco sobre as contas de março.
No primeiro trimestre o BCP tinha reportado lucros de 215 milhões de euros, quase o dobro face ao mesmo período do ano passado. Ora, bastaria imaginar que o valor do segundo trimestre era semelhante ao do primeiro trimestre para antever que o BCP se prepara para reportar um lucro semestral de 430 milhões. Se isto vai ser assim? Provavelmente não. Até porque o BCP só contabiliza os custos regulatórios (que incluem contribuições extraordinárias para o Fundo de Resolução) no segundo trimestre razão pela qual o ROE é tão alto no primeiro trimestre.
Estes custos operacionais que não dependem da atividade corrente somaram no Grupo BCP em 2022, um total de 209,7 milhões de euros, incluindo a contribuição para fundo de proteção institucional polaco (IPS - Institutional Protection Scheme). No ano passado, as contribuições obrigatórias para entidades nacionais do setor bancário em Portugal (contribuição extraordinária, Fundo de Resolução e adicional de solidariedade) foram de 62,2 milhões de euros.
Basta isto para não se poder extrapolar que o semestre vá ser o dobro do trimestre.
Mas se no trimestre os lucros do BCP subiram 90,5% face ao mesmo período do ano passado, o banco liderado por Miguel Maya poderá estar perto de repetir a proeza no segundo trimestre.
Para o crescimento do resultado líquido do primeiro trimestre “contribuiu largamente a evolução dos proveitos core, beneficiando sobretudo do desempenho da margem financeira, quer na atividade em Portugal, quer na atividade internacional”.
O resultado dos três primeiros meses do ano reflete também o ganho extraordinário, considerado como item específico, de 127,01 milhões de euros, resultante da venda, por parte do Bank Millennium, de 80% das ações da Millennium Financial Service.
Por outro lado, no primeiro trimestre o BCP escreveu que “os custos associados à carteira de créditos hipotecários em moeda estrangeira continuam a penalizar fortemente o desempenho da subsidiária polaca e consequentemente do Grupo, tendo registado, globalmente, um aumento de 77,81 milhões de euros, passando de 127,91 milhões de euros no primeiro trimestre de 2022, para 205,71 milhões de euros, no primeiro trimestre de 2023”.
Extrapolando o que aconteceu no primeiro trimestre, o BCP vai repetir o aumento da margem financeira do grupo (que no primeiro trimestre cresceu 42,9% para 664,6 milhões de euros). O crescimento foi transversal às várias geografias onde o banco opera, mas o destaque vai agora para a atividade em Portugal.
“O desempenho favorável da margem financeira na atividade em Portugal reflete em larga medida o maior rendimento gerado pela carteira de crédito a clientes, decorrente dos aumentos registados nas taxas de juro. Por outro lado, a subida das taxas de juro repercutiu-se na remuneração da carteira de depósitos, com o consequente impacto negativo”, revelou em comunicado dos resultados do primeiro trimestre do ano.
Tal como os outros bancos, também a instituição liderada por Miguel Maya vai beneficiar da subida dos juros, mas continua condicionada pela Polónia. Ora, o Millennium Bank polaco apresentou esta quarta-feira as suas contas.
Bank Millennium: de prejuízos a lucros
O Bank Millennium, banco polaco detido pelo Banco Comercial Português (BCP) em 50,1%, apresentou lucros de 358 milhões de zlotys (77,3 milhões de euros) no primeiro semestre deste ano, um valor que compara com prejuízos de 263 milhões de zlotys (-56,7 milhões de euros) do período homólogo.
No segundo trimestre de 2023, “os resultados do Bank Millennium mantiveram-se condicionados pelos encargos relacionados com a carteira de créditos hipotecários denominados em francos suíços que totalizaram 808 milhões de zlotys antes de impostos (174,5 milhões de euros) e que incluíram, a aplicação de ajustamentos mais conservadores ao modelo de provisionamento decorrentes da decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia”, explica o banco.
O banco polaco do BCP acumula assim três trimestres de resultados positivos, com o segundo trimestre de 2023 a ser também de lucros depois de um longo histórico de prejuízos graças às provisões para risco de litigância associado aos créditos hipotecários concedidos no passado em créditos suíços.
Assim como para a banca em geral, também se prevê para o BCP que a forte melhoria da margem financeira provocada pela subida da Euribor, a manutenção da receita de comissões e a manutenção da qualidade da carteira de crédito, que faz com que não haja necessidade de provisões adicionais para crédito e uma estrutura de custos controlados, apesar da inflação. Isto produzirá o melhor semestre de resultados do BCP.
No entanto, Mário Martins, analista da ActivTrades, realça que os lucros da banca portuguesa "podem ser condicionados negativamente pela incorporação de reservas com vista a acondicionar as imparidades previsíveis do aumento no crédito malparado”. O BCP não é exceção,
Recorde-se que a Stantard & Poor’s manteve em abril o rating do BCP no nível “BB+”, deixando-o perto de sair do patamar de investimento especulativo e melhorou as perspetivas de evolução (outlook) de estáveis para positivas, o que antecipa uma subida da classificação de risco no próximo ano a ano e meio. Esta ação de rating foi justificada com “o desempenho operacional do BCP" que "deverá continuar a melhorar em 2023 e 2024” à boleia do aumento das taxas de juro, o que suportará “a acumulação de capital”.
"Nesse sentido, desde que os custos jurídicos extraordinários decorrentes da subsidiária polaca Bank Millennium não excedam as nossas expectativas, o rácio de capital ajustado ao risco (RAC) no BCP poderá melhorar e situar-se sustentavelmente acima dos 7% até 2024”., defendeu a S&P Ratings.
Os números do BCP não vão destoar muito do que já aconteceu nos bancos onde os números são conhecidos. A Caixa Geral de Depósitos divulgou na sexta-feira um resultado histórico de 608 milhões de euros no primeiro semestre, mais 25% que no mesmo período do ano passado, devido à forte subida (127,7%) da margem financeira, com a escalada das taxas de juro.
O banco espanhol Santander já apresentou os seus números e na sexta-feira será a vez do Santander Totta. Mas os resultados do Grupo Santander já desvendam que no caso de Portugal, os lucros andarão à volta de 321 milhões, mais 43% do que no ano passado, com o crédito concedido a recuar 4%, para 39 mil milhões de euros, e os depósitos a baixarem 9%, para 37 mil milhões de euros.
O grupo espanhol Santander teve lucros de 5.241 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, mais 7% do que no mesmo período de 2022.