Os norte-americanos da KKR já estão instalados na cadeira do poder na Greenvolt, disse o CEO da energética na terça-feira, garantindo que a estratégia já está a ser pensada em conjunto com o novo dono.
"As decisões já são tomadas com o apoio do KKR. Somos uma empresa detida por eles, o conselho de administração já é dominado por eles, já fazemos parte do KRR", assegurou João Manso Neto durante a habitual call com os analistas, após a apresentação dos resultados semestrais: a companhia agravou os prejuízos para 19 milhões de euros.
O fundo já conta com mais de 80% do capital da energética portuguesa, fruto da oferta pública de aquisição (OPA), e subiu o valor da sua oferta, por imposição da CMVM, para comprar o restante capital da empresa em falta e atingir o seu objetivo de retirar a companhia de bolsa.
Em termos de venda de ativos, a expetativa é fechar o ano com "500 megawatts vendidos". Além dos ativos vendidos em Itália à Nuveen, existem mais cinco carteiras à venda, esperando que três sejam fechadas este ano.
Manso Neto adiantou que a companhia recebeu "quatro ofertas não-vinculativas" pelos seus ativos, esperando concluir "três este ano", para atingir os 500 MW de vendas previstas.
A companhia abordou a expansão do seu portfólio, adiantando que conta com um pipeline de encomendas de 9,3 gigawatts (GW), com 3,6 gigas em fase ready to build (pronto para construir), esperando que este valor suba para quatro gigas até ao final do ano.
O CEO também salientou a aposta no armazenamento de energia em baterias, destacando os seis projetos na Hungria, Polónia e Reino Unido, num total de 560 MW. "O armazenamento não é a resposta para tudo, mas é importante. Hungria é o mercado com menos risco, Polónia é o mais rentável, a vantagem de first mover é muito importante".
Em termos de liquidez, a companhia destacou: "A nossa posição financeira permite continuar a suportar o plano estratégico", disse, por seu turno, Miguel Valente, administrador financeiro da empresa, referindo-se aos 425 milhões de euros por usar em cash e linhas de crédito.
Sobre os prejuízos de 19 milhões de euros, Manso Neto apontou que já eram "esperados" sem a venda de ativos e "num momento de forte crescimento que requer um forte Capex". "Não assinámos nenhum acordo de venda no primeiro semestre. Esta falta de rotação de ativos teve impacto". Na chamada, o executivo também destacou que "todos os negócios estão a aumentar as receitas".
A empresa conta com 800 MW de projetos em construção, "é normal que EBITDA seja de 26 milhões e que haja prejuízos neste período" esperando aumentar a rotação de ativos.
Em termos de projetos ready to build com acordos de compra e venda já assinados, este ano já supera os 400 MW distribuídos pela Polónia (112 MW), Portugal (190 MW) e 110 MW em outros mercados, entre energia eólica e solar fotovoltaica. Outros 53 MW já foram vendidos/entregues.
Em Itália, a companhia chegou a acordo com a Nuveen Infrastructure para a venda de uma carteira fotovoltaica com 150 MW em várias regiões por 19 milhões de euros. Num total de 19 projetos de centrais, as vendas de cada central à Nuveen vão tendo lugar à medida que atingem o estatuto de ready to build, o que deverá acontecer ao longo deste ano e de 2025.
Em julho, a "Bloomberg" revelou que o maior acionista da EDP, a China Three Gorges, estava em negociações para adquirir um portefólio de ativos renováveis da Greenvolt em Espanha, com 170 megawatts (MW). O portefólio inclui ativos eólicos e fotovoltaicos já em fase avançada de desenvolvimento, estando avaliados em 200 milhões de euros. Com esta aquisição, a China Three Gorges consegue expandir o portefólio que tem na Península Ibérica, sendo este um mercado visto como estratégico para as energias renováveis. No entanto, este negócio não tem sido referido pela empresa.
Greenvolt regista prejuízos de 19 milhões no primeiro semestre
A Greenvolt registou prejuízos de 19 milhões de euros no primeiro semestre deste ano face a período homólogo, revelou a companhia na passada segunda-feira.
“O resultado líquido atribuível à Greenvolt, excluindo o impacto das operações descontinuadas, foi de -16,8 milhões de euros, sendo o resultado líquido global atribuível à Greenvolt de -19,0 milhões de euros”, pode-se ler no comunicado.
Já as receitas subiram 42% face a período homólogo para 188 milhões de euros, com o EBITDA a recuar 40% para 26,5 milhões de euros.
A energética liderada por João Manso Neto salientou que os resultados foram influenciados pelos “baixos preços da pool de eletricidade no Reino Unido e pelo investimento em curso no segmento Utility-Scale [grandes centrais], onde não ocorreram novas transações de rotação de ativos durante o semestre”.
A Greenvolt destaca também que os “resultados deste período estão em linha com as expectativas, uma vez que refletem a fase de investimento do Grupo, com cerca de 800 MW de ativos em construção e o arranque de operações de DG [geração distribuída]em 6 países. Não se verificaram operações de rotação de ativos no primeiro semestre do ano e alguns efeitos one-off imprevistos afetaram negativamente os resultados”.
No segundo trimestre, a Greenvolt atingiu um total de 9,3 gigawatts de pipeline de centrais Utility-Scale, com 3,6 gigawatts em fase Ready to Build (RtB).
A companhia também salienta o reforço da sua posição na biomassa sustentável no Reino Unido, através do investimento em curso na central elétrica de Kent, e também o crescimento do backlog de Geração Distribuída para 311,4 MW.
No comunicado divulgado na segunda-feira, o CEO revelou que os resultados do primeiro semestres estão “alinhados” com as “expetativas”, tendo destacado que na biomassa, a empresa continua a ser penalizada pelos “baixos preços da energia registados no Reino Unido, enquanto no Utility Scale não foi ainda assinada qualquer operação de rotação de ativos, isto ao mesmo tempo que o segmento da Geração Distribuída foi impactado por atrasos nas instalações devido a constrangimentos operacionais”.
Já na geração distribuída, a energética diz estar confiante “quanto ao acelerar das instalações em curso nas 12 geografias em que já estamos presentes, metade delas ainda numa fase inicial. A carteira de encomendas, atualmente com mais de 300 MWp, é a prova do sucesso desta estratégia”.
“São várias as razões para estarmos confiantes quanto à estratégia de crescimento que temos definida, sendo essa reforçada pela cada vez mais sólida estrutura financeira do Grupo Greenvolt, detido em mais de 80% pela KKR”, rematou João Manso Neto.