O presidente francês, Emmanuel Macron, abriu a porta para que países europeus enviem tropas à Ucrânia, embora tenha alertado que não há consenso nesta fase. Macron revelou que não descarta que tropas ocidentais lutem no terreno na Ucrânia, mas admitiu que não houve consenso numa reunião de cerca de duas dezenas de líderes europeus em Paris, convocada pelo próprio Macron.
"Não há consenso para apoiar oficialmente com tropas no terreno. Dito isto, nada deve ser excluído. Faremos tudo o que pudermos para garantirmos que a Rússia não ganha", afiançou. Foi a primeira vez que se abriu a discussão sobre se os Estados deverão fornecer tropas para apoiar o cada vez mais desfalcado exército ucraniano. "Tudo foi discutido de forma muito direta e aberta", garantiu Macron.
Apesar de para alguns analistas as palavras de Macron não passarem de um bluff – numa altura em que a própria NATO está a ser questionada por posições recentes (e repetidas) do candidato às primárias republicanas Donald Trump, as declarações do presidente francês foram devidamente registadas no Kremlin.
Segundo as agências internacionais, “o próprio facto de discutir a possibilidade de enviar contingentes de países da NATO para a Ucrânia é um elemento novo muito importante", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, quando questionado sobre as declarações de Macron.
O Kremlin recordou que o conflito entre a Rússia e a NATO será inevitável se os membros europeus da organização enviarem tropas para a Ucrânia. "Nesse caso, precisaríamos falar não sobre a probabilidade, mas sobre a inevitabilidade de um conflito direto", disse Peskov. Para o porta-voz, o Ocidente dever perguntar se tal cenário é do interesse dos países.
Num sentido que parece ser de maior acalmia de declarações, horas depois das palavras de Peskov, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, apelou a que não se atribuísse demasiada importância às palavras da União Europeia sobre a Ucrânia em Paris.
"O número de conferências ocidentais está obviamente a crescer. Eles estão a tentar compensar a queda drástica das capacidades financeiras para manter o regime de Zelensky. Os franceses e o presidente de França, Emmanuel] Macron, estão excessivamente entusiasmados com a convocação de todos os tipos de eventos, pouco se importando com o seu potencial resultado. Eu não daria muita importância às conferências organizadas em Paris", disse, citado pela agência Tass.
Lavrov lembrou que estes eventos nunca produziram resultados concretos. Como exemplo, citou a Conferência do Clima em Paris, em 2015, quando os países ocidentais prometeram destinar cerca de 100 mil milhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento para garantir a sua transição energética em dez anos. No entanto, de acordo com Lavrov, não mais do que 20 ou 30 mil milhões foram alocados para esses fins desde então, enquanto as somas destinadas a Kiev são muito maiores.
A conferência de Paris sobre a Ucrânia contou com a presença do chanceler alemão, Olaf Scholz, do presidente polaco, Andrzej Duda, e de primeiros-ministros de cerca de 20 países da União. Os Estados Unidos foram representados pelo secretário de Estado adjunto para Assuntos Europeus e Eurasiáticos, James O'Brien, e David Cameron representou o Reino Unido.
Recorde-se que a Rússia e os Estados Unidos - a grande potência por trás da NATO - têm os maiores arsenais de armas nucleares do mundo. A contraofensiva da Ucrânia em 2023 não conseguiu furar as linhas russas e a Rússia tem avançado ainda mais em território ucraniano, no momento em que o apoio dos EUA à Ucrânia está emaranhado nos debates políticos internos, recorda a agência Reuters.
Um elemento da Casa Branca disse àquela agência que os Estados Unidos não tinham planos de enviar tropas para a Ucrânia, nem havia qualquer plano de enviar tropas da NATO.