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Luís Todo Bom: "PME sem tecnologia e a funcionar no mercado nacional vão passar dificuldades"

Em entrevista ao JE, o engenheiro e gestor projeta um acréscimo evidente das dificuldades para as empresas portuguesas com a subida de custos, embora diferencie entre as mais inovadoras e com presença internacional e as mais pequenas, tradicionais e limitadas ao mercado nacional.

A subida de juros veio agravar uma dinâmica de acréscimo de custos para as empresas portuguesas que gerou bastantes preocupações, dado o elevado endividamento do sector produtivo nacional, a sua descapitalização, baixa produtividade e salários baixos. Luís Todo Bom, engenheiro e gestor, explica ao JE que o recurso a tecnologia e inovação cria uma diferença clara entre as empresas portuguesas, com as mais avançadas capazes de se projetarem num mercado internacional altamente competitivo.

Leia aqui um excerto da entrevista que sairá na íntegra no caderno especial sobre 'Reestruturação de Empresas', a publicar esta sexta-feira, dia 4 de agosto, com o JE.

Como avalia a performance das empresas portuguesas face ao atual ambiente de subida de custos por vários canais, nomeadamente pelos juros, matérias-primas e energia?

Penso que as nossas empresas estão a passar grandes dificuldades. Por todas essas razões, pelo aumento do custo da energia, pelo aumento da inflação e pela redução do poder de compra do mercado nacional. Portanto, empresas de pequena dimensão, sem tecnologia, com produtos que são commodities e funcionando basicamente no mercado nacional vão passar muitas, muitas dificuldades. Pelo contrário, as empresas de média e grande dimensão, com tecnologia inovadora e que trabalham para o mercado internacional conseguem, digamos, sobreviver melhor, até porque, as crises financeiras e de consumo não são iguais em todos os mercados – no português é muito mais agreste do que noutros da Europa. Portanto, dependendo da dimensão, do sector, da incorporação de tecnologia, diferenciação, etc., as empresas estão a passar grandes dificuldades diferentes.

No fundo, é um bocadinho à semelhança do que acontece com a economia em geral em termos macro, onde a procura externa também tem sido muito importante para sustentar o crescimento.

O nosso crescimento a ser suportado basicamente pela exportação de serviços, portanto, basicamente turismo e alguns serviços informáticos, porque há empresas nessa área que estão a trabalhar para clientes. Não é nada de muito significativo, mas conta para a balança comercial e para o crescimento. Quanto ao consumo interno, caiu claramente.

Por outro lado, os juros ainda devem continuar a subir. Que perspectivas tem para os próximos meses do sector empresarial nacional?

Vai depender um bocadinho do comportamento dos custos e da capacidade das empresas de fazer ajustamentos. O discurso da presidente do BCE tem vindo a referir esse aspeto. Mas em Portugal o controle salarial é muito complicado, porque as pessoas ganham muito pouco, os nossos salários muito baixos. Não percebo como é que está toda a gente a embandeirar em arco porque a economia portuguesa está a crescer 3%. Enquanto isso, os salários são baixos, são muito mais baixos do que em Espanha, são metade do verificado em França ou um terço do praticado na Alemanha. É muito difícil fazer contenção salarial em Portugal, as empresas têm dificuldades. Há carência de mão-de-obra nalgumas áreas, nomeadamente empresas industriais, portanto, eu receio que a capacidade de acomodação dos custos salariais não seja grande na economia portuguesa, e assim os juros vão continuar a subir. As empresas que tenham produtos inovadores e mercados externos conseguem repercutir no preço esse aumento; as outras não. Assim, vamos assistir, ou já começamos a assistir, ao encerramento de empresas que trabalham ara o mercado nacional e com produtos de baixo valor acrescentado. Se esse movimento continuar a ocorrer e é preocupante ao nível do emprego e da realidade social do país.