Provavelmente esta será a sua última entrevista de fôlego enquanto presidente da ATIC. O que sai deste seu ciclo?
Sai uma transformação enorme. A grande transformação e o grande desafio que a indústria cimenteira tem está relacionado com a descarbonização, como todos nós sabemos, dado o impacto que a indústria tem a nível de emissões de CO2. E tudo isto começou há muitos anos. Mas nos últimos anos – eu diria, talvez, nos últimos sete, oito ou nove anos – acelerou. Eu quando assumi esta responsabilidade da Cimpor em Portugal e em Cabo Verde, nós estávamos numa fase ainda um bocado… Sabíamos que tínhamos este desafio, mas não havia uma análise profunda dentro da empresa e também dentro do sector sobre os caminhos que nós deveríamos tomar.
O que fez mudar esse cenário?
Eu penso que em 2014, ou por volta disso, foi o primeiro roadmap da CemBureau (Associação Europeia do Cimento) em que houve, de facto, aí um alerta para os desafios que nós tínhamos e aquilo que todos nós tínhamos que fazer a nível europeu – e Portugal também, obviamente – para irmos no caminho da descarbonização da indústria. Na altura, mesmo a nível da União Europeia, a situação não era tão agressiva e não havia decisões tão focadas como há hoje, e como começaram a aparecer desde que foi publicado o Green Deal. O Green Deal foi a grande mudança.
Na sequência desse acordo o que aconteceu?
Na sequência do Green Deal, nós, a indústria cimenteira europeia e a CemBureau refez o seu roadmap, que foi publicado em 2020, e no qual foram traçadas metas para 2030 e 2050. O nosso roadmap foi publicado em 2021, também com as mesmas metas de 2032 e 2050. Portanto, aqui estamos a falar de em 2050 atingir a neutralidade carbónica. E, de facto, aquilo que nós vemos na indústria cimenteira actualmente é que este é um problema que está na ordem do dia. Todos os investimentos das empresas são vocacionados, são focados neste tema, na descarbonização, porque isto é uma questão de sobrevivência da indústria e sobrevivência das empresas, com o impacto que isto vai ter a nível de custos e outros.
Outros? Que outros?
Nomeadamente, o facto de que, com o aumento de custos derivados do CO2, da energia inerente a muitos projetos que que estão em curso, isso vai levar-nos a perder competitividade face a outros fora da Europa.