A economia da zona euro vai continuar a desacelerar, avisou hoje a presidente do Banco Central Europeu (BCE). Lagarde apontou que a atividade económica da zona do euro deverá perder força no terceiro trimestre, alertando também para a incerteza à volta das tarifas e o seu impacto.
Christine Lagarde considera que as tarifas norte-americanas estão a prejudicar a economia europeia e que o crescimento do bloco europeu será impactado pela adoção de tarifas e pela normalização dos fluxos comerciais após as medidas pré-tarifárias implementadas nos primeiros meses do ano.
"No primeiro trimestre, a economia focada nas exportações beneficiou de uma concentração da procura [devido às tarifas]. Os setores com mais exposição aos EUA, como o farmacêutico, registaram um forte crescimento", disse hoje a responsável num evento do Fórum Económico Mundial em Genebra, Suíça. "Espera-se que o crescimento desacelere no terceiro trimestre, à medida que esta antecipação se vai diluindo", alertou Lagarde durante a sua participação no Conselho Empresarial Internacional do mesmo fórum.
O efeito do aumento da procura para antecipar as tarifas está a recuar "e a desaceleração já é evidente no segundo trimestre". Para o terceiro trimestre, as previsões do BCE apontam que a atividade económica vai continuar a desacelerar à medida que as "compras antecipadas terminam e as tarifas mais altas fazem o seu efeito".
Christine Lagarde defendeu assim que o acordo para as tarifas entre Washington e Bruxelas dá mais "certezas" num momento em que a "incerteza global persiste perante o ambiente político imprevísivel". A líder do BCE observou que o recente acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos impõe tarifas mais altas sobre produtos da zona do euro em comparação com a situação anterior a abril. Nesse sentido, enfatizou que o acordo comercial com os EUA estabelece uma tarifa efetiva média estimada entre 12% e 16% para as importações americanas de produtos da zona do euro, o que é ligeiramente superior, embora próximo, às premissas utilizadas pelo BCE nas suas projeções.
"O resultado do acordo comercial está muito aquém do cenário severo de tarifas dos EUA excedendo 20% sobre produtos da zona do euro, projetado nas previsões de junho", enfatizou, embora tenha reconhecido que "a incerteza persiste", já que as tarifas específicas sobre produtos farmacêuticos e semicondutores continuam obscuras.
Assim, o BCE terá em consideração as implicações do acordo comercial UE-EUA para a economia da zona do euro nas projeções de setembro, que vão orientar as decisões do Conselho do BCE nos próximos meses. Lagarde destacou ainda que o acordo comercial entre Bruxelas e Washington "reduziu", mas "certamente não eliminou" a incerteza global, nomeadamente porque ainda é necessário clarificar as tarifas específicas para os setores farmacêutico e de semicondutores.