O Banco Central Europeu (BCE) só deverá começar a cortar nas taxas de juro na recta final deste ano, segundo a previsão do JP Morgan que põe água na fervura nas expetativas dos mercados.
"Esperamos dois ou três cortes no final do ano tanto para a Fed como para o BCE", disse Elena Domecq do JP Morgan Asset Management numa chamada com jornalistas na terça-feira. "O mercado está a ser muito otimista, está a descontar cortes durante o verão, acreditamos que isso é muito cedo e que estão a ser muito otimistas".
Os mercados esperavam na terça-feira um corte de 140 pontos base este ano, com o primeiro passo a ser dado em abril, segundo a "Reuters".
Sem surpresa, o BCE manteve os juros inalterados na primeira reunião do ano, que teve lugar na semana passada, procurando ainda afastar a noção do mercado que cortes estarão para breve. A presidente do organismo reiterou que essa discussão é “prematura”, reforçando a dependência dos dados, particularmente os relacionados com a dinâmica salarial na moeda única.
Os juros mantiveram-se assim entre 4,0% e 4,75% pela terceira reunião consecutiva, um resultado largamente esperado pelo mercado, mais focado em possíveis sinais da política monetária de curto prazo do que no resultado da reunião desta quinta-feira. Depois dos comentários em Davos, onde insinuou que os cortes de juros podem arrancar no verão, Christine Lagarde, presidente do BCE, procurou resfriar a discussão em torno deste assunto.
“O consenso do Conselho [de política monetária do BCE] foi que é ainda prematuro discutir cortes de taxas”, afirmou Lagarde, que diz tipicamente manter-se fiel aos seus comentários. “Continuamos dependentes dos dados que forem surgindo”, acrescentou.
Regressando à apresentação do JP Morgan, a analista espanhola considera que os "riscos de recessão estão a descer", mas nem tudo são rosas no outlook. "Antecipamos um crescimento lento em 2024. A inflação irá descer provavelmente. Ainda há algumas coisas a que precisamos de estar atentos, mas os bancos centrais deverão ter uma política menos restritiva. Mas a resiliência da economia tem sido surpreendente".
No entanto, destacou que os EUA têm sido mais "resilientes" e que a Europa tem "estado a desiludir no crescimento, assim como a China".
A analista apontou que a economia norte-americana "tem estado menos sensível às taxas de juro", e se a Fed baixar as taxas de juro, é preciso ver como "as condições financeiras melhoram". A acontecer a descida, é de "prever no final do ano que se comece a sentir o alívio nas condições financeiras".
Na Europa, "o consumo e o investimento têm se mantido muito bem. Temos um ambiente com menos inflação e vemos dados de produção a melhorar aos poucos, pode vir a ser um ambiente mais favorável para a Europa".
Na China, a política Covid-zero limitou a retoma pós-pandemia. "A expetativa era que a população chinesa tivesse o mesmo comportamento. Nós gastámos muito, consumimos muito, mas na China comportaram-se de forma oposta, muito cautelosos, sem consumir bens ou serviços".
A contribuir para isto estão os problemas no sector imobiliário do país que afeta a maioria da população. Apesar de o Estado chinês estar a implementar medidas, ainda "demoram muito tempo até surtir efeito".
O banco vê o sector privado chinês a recuperar a "confiança", mas ainda há uma "grande crise de confiança" no país.
Por outro lado, a China "não tem inflação, o banco central está a aliviar a política monetária, estão a implementar muitos estímulos... mas tudo isto vai demorar, recuperar a confiança demora tempo".
Sobre a inflação, o JP Morgan espera que a inflação continua a recuar, mas avisa que o "último quilómetro vai demorar tempo" até atingir a "meta dos bancos centrais de 2%". "É preciso manter a monitorização dos dados".
Em termos de ações versus obrigações, o banco prefere ações e norte-americanas. Nos ativos de rendimento fixo, a preferência recai para yields elevadas na dívida soberana face a investment grade.
O banco continua a apostar no mercado de ações norte-americano para 2024, dando destaque às "sete magníficas", as cotadas do sector tecnológico (Apple, Microsoft, Alphabet, Amazon, Nvidia, Meta e Tesla), acreditando que "ainda há espaço para melhorar".
Olhando para os riscos geopolíticos, o banco disse estar "confortável" com o seu cenário base, avisando que pode mudar a sua visão se houver alterações de monta.