Parece um cenário do futuro sobre o qual apenas se discute em conferências de mobilidade e tecnologia, mas é mesmo verdade que, em 2024, nos podemos deslocar num automóvel sem qualquer condutor. Lembra-se quando lhe falavam sobre veículos autónomos e torcia o nariz com dúvidas se algum dia fossem colocados nas estradas? Eles existem mesmo e o Jornal Económico (JE) mostra-lhes aqui como funcionam.
A cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, é a segunda no mundo onde os carros autónomos da Waymo estão totalmente disponíveis ao público, como se fossem um Uber ou Lyft. A maior diferença é que não têm qualquer pessoa ao volante. Mas não é a única. Desde logo, salta à vista a gama dos automóveis, que é de calibre superior ao das outras aplicações de transporte de passageiros. Toda a frota dos carros que se conduzem sozinhos é elétrica e de modelo premium, o que é compreensível devido à infraestrutura tecnológica necessária, e especificamente da marca Jaguar.
Spoiler alert: este vídeo termina bem e os dois passageiros chegam ao destino. No entanto, importa explicar que o processo até à entrada no Waymo, para quem não é residente nos Estados Unidos, não é tão simples quanto abrir uma das outras apps “TVDE” e chamar um automóvel. Neste caso, a aplicação não está disponível na App Store (Apple) ou Pay Store (Google) de Portugal, o que requer ter uma conta internacional nestas lojas. Em termos mais “técnicos”, ter um Apple ID ou conta Google baseada dos EUA para conseguir instalá-la no telemóvel.
E depois? Surge um novo obstáculo para turistas que é o meio de pagamento. Atualmente, como só está disponível nos EUA, a Waymo apenas aceita cartões de pagamento norte-americanos (Visa, Mastercard, American Express, Maestro, Discover…), pelo que recorremos a um cartão pré-pago. Ultrapassadas essas exigências do sistema, basta chamar o veículo. Neste momento, a nossa experiência não foi a melhor, uma vez que tivemos de andar cerca de sete minutos até o encontrar. Em causa está o facto de a operação estar circunscrita a uma determinada zona da cidade. Por fim, pode aproveitar tranquilamente a viagem.
De facto, é uma viagem tranquila - sem conversas de circunstância e até consegue escolher a música - e pode ser uma alternativa para quem não se sente seguro num automóvel com alguém desconhecido a conduzir. Ademais, estará a bordo de um SUV Jaguar I-PACE, o que por si só significa conforto. Geralmente, os preços são mais elevados comparativamente a outros serviços de transporte. No entanto, este trajeto acabou por ficar a um valor semelhante: 17 dólares (15,20 euros) para 3km em cerca de 13min.
Quem nos “guiou” neste táxi-robô foi um software que nasceu na Google em 2009 no âmbito de um projeto à moda de Elon Musk: uma ideia de génio que não se faz a mínima ideia se vai funcionar. A partir de 2016, a casa-mãe da gigante tecnológica assumiu as rédeas deste negócio e tem vindo a desenvolvê-lo e financiá-lo. Há cerca de dois meses, a Alphabet anunciou um investimento de mais cinco mil milhões de dólares (4,5 mil milhões de euros) nesta subsidiária.
A Waymo conta com mais de dois milhões de viagens realizadas, entre Phoenix (Arizona) e São Francisco, onde está oficialmente desde junho (em Los Angeles opera com restrições). Na Europa, este nível de evolução ainda está apenas nas páginas de jornal.
Procurámos esclarecer as principais dúvidas e recolher alguns feedbacks de quem teve esta experiência, mas é natural que as suas dúvidas continuem (ou até aumentem).
“É o momento”
Na abertura da conferência Dreamforce, na terça-feira, o CEO da Salesforce desafiou os 45 mil participantes a instalarem a app da Waymo e a experimentarem. “É o momento. A primeira vez que experimentarem um Waymo é o momento. Tentem”, disse o bilionário e filantropo norte-americano Marc Benioff.
A sua ideia não era pôr a audiência no centro de congressos Moscone Center a correr para os Waymo, mas fazer “uma metáfora simples” para o seu negócio e o das outras empresas que estão a investir na digitalização.
“O momento é a primeira vez. A primeira que desenvolverem e implementarem [Inteligência Artificial], que é a forma de conseguirem melhores resultados com um assistente virtual. Estamos na terceira onda da IA em que vocês é que constroem os vossos modelos. Nós adoramos fazer o nosso CRM, é o que adoramos e fazemos há 25 anos, mas vamos entregar uma nova evolução”, referiu o CEO da Salesforce no primeiro dia do evento anual da empresa.