O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, passou os últimos dias numa intensa atividade diplomática junto dos países árabes do Médio Oriente, na tentativa de abrir uma frente de saída de refugiados palestinianos sitiados pelas tropas israelitas na Faixa de Gaza para o Egipto (que não está assegurada, e que terá de ser na região de Rafah), mas principalmente para gerir a resposta árabe ao que quer que seja que resulte da investida das forças de defesa de Israel (IDF).
Com o avanço das tropas de Israel sobre Gaza – iminente há várias horas mas até agora ainda não efetivada – a grande questão prende-se com os efeitos colaterais que daí vierem a resultar. A fronteira entre o direito de defesa face à agressão do Hamas e uma investida punitiva sobre os civis palestinianos é muito ténue e os países árabes – e no seu todo a Liga Árabe – não parecem estar dispostos a tolerar o uso desproporcionado da força por parte de Israel. Essa ténue fronteira pode ser a diferença entre uma guerra Israel-Hamas ou um embate entre o Estado hebreu e a Liga Árabe (que já aconteceu por diversas vezes no passado).
As escaramuças que continuam a acontecer todos os dias na fronteira entre Israel e o Líbano e o facto de, segundo várias agências noticiosas, o Irão estar a sugerir a deslocação de grupos armados para perto de Israel, por via da Síria, tem todos os ingredientes para uma escalada da guerra para um nível mais global que a mera guerra Israel-Hamas.
Aparentemente, segundo avança alguma imprensa israelita, é a frente diplomática que está a atrasar a decisão de o IDF entrar em Gaza e não as armadilhas deixadas no terreno pelo Hamas, que são evidentemente esperadas pelo comando militar.
Mas, por outro lado, há ainda a questão dos reféns mantidos pelo Hamas em lugar desconhecido. O tema – que tem sido alvo dos mais espantosos esquemas de contra-informação, tornando mais uma vez evidente que as redes sociais são em definitivo um lugar a evitar por quem quer manter uma visão do problema próxima da realidade – está também a ser tratado com grande cuidado por parte do governo israelita. A imprensa israelita afirma que os serviços secretos colocaram em Gaza um elevado número de operacionais que se afazem passar por palestinianos e que tentam, fortemente pressionados pelo tempo, encontrar pistas sobre o paradeiro dos reféns.
Entretanto, o IDF disse este domingo que matou outro comandante das forças do comando do Hamas que liderou os ataques contra o sul de Israel. Com a incursão a aproximar-se, as IDF continuaram a pedir aos palestinianos do norte de Gaza que fujam para o sul do enclave costeiro.
Mais uma vez, o ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, prometeu, durante uma visita a uma base do exército perto da fronteira com Gaza, que a guerra contra os grupos considerados terroristas será “mortal” e mudará para sempre a situação no sul de Israel.
As IDF disseram que atingiram mais de 100 alvos durante a noite de sábado para domingo, incluindo centros de comando do Hamas, complexos militares, dezenas de pontos de lançamento de foguetes e mísseis e postos de observação.
Segundo as mesmas fontes, e após alguma acalmia de 12 horas, as sirenes de alerta soaram em várias cidades do sul na manhã de domingo, com um foguete lançado de Gaza a atingir uma casa na povoação de Sderot. Ainda no domingo, as sirenes também soaram na capital, Tel Avive – o que acabou por obrigar uma delegação conjunta do Congresso norte-americano, de visita a Israel, a ter de se abrigar.