A trégua de quatro dias para a troca de reféns do Hamas por prisioneiros palestinianos encerrados em Israel tem corrido dentro do que estava teoricamente previsto. Apesar dos percalços – com acusações mútuas de desrespeito pelo acordo (nomeadamente a alteração das listas inicialmente pensadas para os prisioneiros) – a troca tem decorrido de forma aceitável pelos observadores internacionais.
Talvez por isso, sucedem-se os apelos a que o cessar-fogo seja mais amplo e possa ser o esteio para o fim da guerra. Mas Israel afirma que não será nada disso que vai acontecer. E que a guerra ao Hamas é para continuar. Mesmo assim, há muitos analistas que afirmam que o cessar-fogo e a forma como as trocas aconteceram é uma forte vitória para o grupo radical. De qualquer modo, e segundo a imprensa israelita, o sentimento geral dos cidadãos do país não é favorável ao fim da guerra: os israelitas querem que o Hamas e todos os grupos radicais desapareçam da sua vizinhança – para não voltarem a colocar em causa a segurança.
Do outro lado, e segundo as mesmas fontes, dá-se mais ou menos o mesmo: uma sondagem citada pela imprensa diz que 75% dos palestinianos apoia a investida do Hamas em 7 de outubro – e considera-a uma reação lógica a décadas de perseguições e sofrimentos.
Isso mesmo disse também ¬Jibril Rajoub, secretário-geral do Comité Central do partido Fatah, que lidera a Autoridade Palestiniana. Aquele responsável justificou o 7 de outubro como um ato "no contexto da guerra defensiva que o nosso povo está a travar". Em intervenção num encontro com jornalistas no Kuwait, Rajoub disse que Israel é responsável por causar o 7 de outubro, o pior assassinato de judeus num único dia desde o Holocausto, devido à sua "agressão em todas as terras palestinianas".
Citado pela imprensa israelita, disse ainda que a investida do Hamas "frustrou o objetivo do direito israelita# de estabelecer acordos com países muçulmanos (por via dos Acordos de Abraão) sem resolver a questão palestiniana.
Rajoub, que também é presidente da Associação Palestiniana de Futebol, acrescentou que "o Hamas faz parte de nosso tecido político e social e da nossa luta, eo seu envolvimento é importante", mas reiterou que o único representante legítimo é a Autoridade Palestiniana.
Até agora, a Autoridade Palestiniana recusa condenar o 7 de outubro. O Ministério das Relações Exteriores da autoridade chegou a afirmar que Israel fabricou provas dos assassinatos de 7 de outubro pelo Hamas para justificar o seu ataque a Gaza – uma declaração que mais tarde foi retirada depois de o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a descreveu como "absurda".
O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, também presidente do Fatah, indicou que aquela estrutura está disposta a assumir o controlo da Faixa de Gaza depois de o Hamas ser removido do poder e com a condição do estabelecimento de um Estado palestiniano com as fronteiras de 1967, tendo com Jerusalém Oriental como capital.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse também que uma Autoridade "revitalizada" deveria governar a Faixa de Gaza após a guerra, algo que Israel rejeitou, apontando para a recusa em condenar o ataque de 7 de outubro. Israel ainda não deu uma ideia clara do que pretende fazer depois de destruir o governo do Hamas.
Entretanto, na Cisjordânia, o ambiente está cada vez mais tenso. Segundo a imprensa israelita, membros de um grupo armado palestiniano executaram dois homens na cidade de Tulkarem, na Cisjordânia, na noite de sexta-feira, acusados de colaborarem com Israel, enquanto uma multidão aplaudia. Um jornalista palestiniano, falando sob anonimato, disse que os moradores espancaram e pisaram os cadáveres depois de os dois terem sido baleados nas ruas.