Notícias veiculadas pela imprensa externa a Israel dão conta de que a polícia do Estado hebreu está a levantar fortes restrições ao acesso à mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, o que pode rapidamente resultar no aumento da tensão entre israelitas e palestinianos no quadro do início do Ramadão.
Um dos mais importantes eventos do calendário religioso muçulmano, o Ramadão, teve início esta sexta-feira e todos os observadores anteciparam que iria ser o palco ideal para o aumento da insegurança em todo o território, mas particularmente em Jerusalém. O governo liderado por Benjamin Netanyahu tomou antecipadamente medidas para acautelar o aumento da tensão – nomeadamente ‘mandando calar’ o ministro da Segurança, Itamar Ben-Gvir, que pura e simplesmente queria fechar todo o acesso ao complexo por parte dos palestinianos.
Mas, apesar das promessas que foram avançadas pelo executivo, no terreno, as coisas estão a começar a correr mal – e ainda falta um mês para o final do Ramadão. Segundo reportagem da cadeia Al Jazeera, a polícia israelita está a levar por diante uma longa campanha para impedir que os palestinianos entrem no complexo. "Nos últimos dias, a polícia emitiu ordens para impedir que muitos palestinianos entrassem no complexo da mesquita de Al-Aqsa e prendeu muitos nas suas próprias casas, além de agredir fiéis", disse Firas al-Dibs, especialista em assuntos religiosos.
“Há também uma ampla mobilização policial em toda a cidade, bem como uma intensa presença militarizada nos becos da Cidade Velha de Jerusalém e contínuas incursões de colonos no complexo – tudo como parte de uma política israelita sistémica para afastar fiéis da mesquita".
A própria Jordânia – que gere o complexo à distância, numa lógica que resultou de negociações muito difíceis mas escala a quase todos os observadores – alertou para as movimentações que podem com grande facilidade acabar em violência. A Jordânia recordou que as restrições impostas por Israel ao acesso de fiéis ao complexo da mesquita de Al-Aqsa durante o Ramadão estão a empurrando a situação para uma "explosão".
O complexo de al-Aqsa é um dos lugares mais importantes tanto para o Islão como para o judaísmo. Os terrenos sagrados, conhecidos pelos muçulmanos como Al Haram Al Sharif e pelos judeus como Monte do Templo, têm sido um foco de tensões entre Israel e os palestinianos mais ou menos desde sempre.
Apenas os muçulmanos estão autorizados a rezar no complexo, ao abrigo de um acordo de estatuto originalmente alcançado há mais de um século. Visitantes não muçulmanos podem entrar no complexo em determinados horários e apenas em determinadas áreas.
Os muçulmanos festejam este ano o Ramadão entre 11 de março e 10 de abril, e todos os analistas consideram que será um período de fortes problemas de segurança em Israel e mais particularmente em Jerusalém. O governo, ciente de que será um período especialmente difícil de gerir em termos de segurança – com os ânimos ainda mais ‘sobreaquecidos’ com a guerra na Palestina – está a tentar encontrar uma resposta necessariamente musculada, mas ao mesmo tempo aceitável pelos muçulmanos
Recorde-se que Itamar Ben Gvir visitou o Monte do Templo 27 de julho de 2023, o que lançou palestinianos e israelitas numa tensão que já não era vista há muito. Os confrontos e as mortes começaram a avolumar-se a partir daí, e alguns dão mesmo razão aos analistas que tentam estabelecer uma ligação direta entre a visita – contestada transversalmente por todas geografias, Vaticano incluído – e os acontecimentos de 7 de outubro.