ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, está em Washington para reunir com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e discutir a transição para uma nova fase da guerra em Gaza – ao mesmo tempo que a administração Biden quer alargar o debate até ao contexto do pós-gerra. Gallant também vai encontrar-se com o seu homólogo, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin.
Para Israel, a chamada ‘Fase C’ – aparentemente a fase seguinte ao assalto a Rafah – inclui combates de baixa intensidade em Gaza, ataques aéreos direcionados, retirada das forças de áreas consideradas mais seguras, o estabelecimento de uma zona-tampão perto da fronteira de Gaza e encontrar uma alternativa ao domínio do Hamas no enclave. Além de ser claro para a maioria dos analistas que este último desiderato é basicamente impossível, a nova fase da guerra – mas isso é a parte não-oficial – parece pressupor um aumento da intensidade dos combates com o Hezbollah, o ‘irmão’ libanês do próprio Hamas.
De acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, durante as conversas com o ministro israelita, Blinken quis deixar clara a necessidade de um plano “robusto” no pós-guerra. Mas isso é a um prazo indeterminado. Blinken sabe que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que só estaria disposto a concordar com um acordo de cessar-fogo “parcial”, que não encerraria desde já a guerra.
As declarações não surpreenderam ninguém, dado que não se desviaram do que já havia dito antes – e principalmente do que inegavelmente inferido pelas movimentações no terreno. A proposta de cessar-fogo do Hamas fica assim remetida para uma gaveta – indo acompanhar todas as outras que já lá estão. O conjunto de propostas nunca subscritas levam os analistas a considerarem que a paz é impossível antes de o governo de Netanyahu ter atingido os objetivos tornados claros ainda em outubro passado. As horas e horas que os negociadores passaram a debater o tema revelam-se assim inúteis – ou pior ainda, só serviram para alimentar esperanças irrealizáveis. As declarações do líder israelita podem representar mais um revés para os mediadores que tentam acabar com a guerra, referem diversos jornais.
De qualquer modo, Miller disse que Blinken abordou “a importância de trabalhar em todos esses planos para o dia seguinte ao conflito”. “Temos sido bastante consistentes em que, para que haja uma derrota duradoura do Hamas, é preciso haver um plano para o que o vai substitui e o que substitui o Hamas precisa ser uma governação liderada pelos palestinianos, precisa ser um plano de segurança realista”, afirmou.
Recorde-se que no passado domingo Netanyahu disse estar pronto para fazer um acordo de cessar-fogo parcial para trazer de volta alguns dos 120 reféns ainda mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza, mas que o seu governo está “comprometido em continuar a guerra após uma pausa para completar o objetivo de eliminar o Hamas”. O movimento palestiniano não aceita a parcialidade do cessar-fogo e insiste que não libertará os reféns restantes sem que esse cessar-fogo seja permanente e acompanhado de uma retirada total das forças israelitas de Gaza.
Para os analistas, os termos propostos pelo Hamas são completamente irrealistas. Em final de mandado, o Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, disse que está “agora claro que não há cessar-fogo” e descreveu a situação humanitária como “desastrosa”. Falando no Conselho dos Negócios Estrangeiros no Luxemburgo, e citado pela “Euronews”, o espanhol confirmou que há acordo político entre os ministros da União para avançar com sanções contra o Hamas, bem como contra “colonos israelitas violentos”.
Mas Gallant também chegou aos Estados Unidos com outro assunto na agenda. O gabinete do ministro da Defesa divulgou comentários da sua reunião em Washington com o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, dizendo que “o povo de Israel nunca esquecerá” o apoio dos Estados Unidos após o ataque do Hamas em 7 de outubro. “Estou aqui para discutir objetivos comuns: garantir a segurança do Estado de Israel”, disse – o que passa, acrescentou, por olhar para o Irão como “a maior ameaça ao futuro do mundo e ao futuro da nossa região”. “O tempo está a esgotar-se. É hora de percebermos o compromisso das administrações americanas ao longo dos anos, de prometer impedir que o Irão possua armas nucleares”.