O encontro entre as diversas partes que estão a negociar a libertação dos reféns nas mãos do grupo radical Hamas – que aconteceu em Paris durante o fim-de-semana – não suspendeu os trabalhos, o que é sempre uma boa notícia, mas os envolvidos têm poucas esperanças numa solução rápida.
Estados Unidos, Israel, Qatar e Egipto mantiveram os contactos – apesar de Israel aparentar estar cada vez mais incomodado com a presença dos dois países muçulmanos – mas já esta segunda-feira o gabinete de crise israelita admitiu que há "um longo caminho pela frente", até ser possível encontrar uma forma de libertar os reféns.
Os comandantes da Mossad e do Shin Bet (duas das ‘secretas’ israelitas) disseram aos seus interlocutores, no encontro de Paris, que estão dispostos a ser flexíveis sobre a duração de um cessar-fogo, o número de prisioneiros libertados e a quantidade de ajuda humanitária destinada a Gaza, mas em nenhuma circunstância concordarão em acabar com a guerra. A acreditar nos jornais israelitas, essa é precisamente a pretensão central do grupo islâmico – na tentativa de ‘salvar’ o que ainda resta do seu corpo de combatentes e das infraestruturas logísticas.
Ora, é precisamente aí que o governo de Benjamin Netanyahu não quer chegar: o fim da guerra só se dará quando a questão militar estiver resolvida, pelo que as posições dos dois lados são antagónicas e inconciliáveis. Só a cedência vai permitir a aproximação de posições. Mas se o governo ceder, arranjará um problema interno. O lado mais radical da coligação que comanda Israel não quer sequer ouvir falar em negociações – pelo que o fim da guerra é uma absoluta impossibilidade.
Mesmo assim, há alguns avanços. Esta segunda-feira, o ministro da Defesa, Yoav Gallant terá prometido aos Estados Unidos que Israel não vai permitir que novos colonatos sejam instalados na Cisjordânia. O problema é que a promessa não é apenas antiga, como nunca antes foi cumprida. E há mesmo ministros – entre eles Itamar Ben-Gvir, com a pasta de Segurança – que são favoráveis ao aumento dos territórios dos colonatos. Vivendo ele próprio num, Ben-Gvir afirmou repetidamente ser não apenas favorável a novos colonatos, como à sua defesa com o recurso a todo o poder militar do Estado hebraico. Dito de outra forma: é altamente improvável que Gallant possa assegurar, a quem quer que seja (mesmo a Antony Blinken), que Israel não vai aumentar a área dos colonatos.
De qualquer modo, um relatório citado pela imprensa israelita afirma que Gallant se reuniu com o embaixador dos Estados Unidos em Israel, Jack Lew, e que a opção é construir uma zona-tampão (supõe-se que entre o limite dos colonatos e o que resta do território palestiniano) que seria livre de qualquer construção de novos colonatos. A zona-tampão não seria usada para qualquer colonato civil e seria temporária.
Provando a clara impossibilidade da promessa, 11 ministros do governo e pelo menos 15 deputados dos partidos que o formam, prometeram, este domingo, reconstruir colonatos no coração da Faixa de Gaza e incentivaram os palestinianos a, no pós-guerra, saírem da região, procurando outros lugares para viverem.
Falando em clima de total euforia, no Centro Internacional de Convenções de Jerusalém, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, líder do partido ultranacionalista Sionismo Religioso, exaltou as virtudes da criação de novos colonatos , declarando: "Se Deus quiser, vamos estabelecer-nos [em Gaza] e seremos vitoriosos".
Itamar Ben-Gvir, líder do partido de extrema direita Otzma Yehudit, disse que é "hora de voltar para casa em Gush Katif" - o nome do colonato israelita que existia em Gaza e que foi evacuado em 2005. Smotrich e Ben Gvir, juntamente com seis deputados da coligação do governo, assinaram um ‘Pacto de Vitória e Renovação dos colonatos’ que promete “aumentar os colonatos judaicos" na Faixa de Gaza.
Ao lado deles, o ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, do partido Likud (de Netanyahu), também pediu a construção de colonatos em Gaza e "o incentivo à emigração voluntária" – sendo que, a ver pelo que foi dito, ‘voluntária’ é um eufemismo. Karhi disse isso mesmo: segundo a imprensa israelita, o ministro afirmou que os palestinianos deviam ser coagidos a deixar o território. A última declaração de Benjamin Netanyahu, sobre o assunto dos colonatos, é que não é política do governo aceitar novas extensões do que já existem. Recorde-se que o tempo de Netanyahu enquanto primeiro-ministro foi de aumento permanente dos colonatos em território palestiniano.