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Israel: Netanyahu pede para adiar depoimentos em julgamento

Casos de corrupção que envolvem o primeiro-ministro surgiram depois de ter deixado o governo pela última vez – e foram sempre apontados como a causa para o seu regresso. No terreno, sucede-se informação e contrainformação sobre o cessar-fogo.

Os advogados do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, entregaram em tribunal um documento que pede o adiamento dos depoimentos "enquanto não houver uma mudança substancial na situação de segurança no país", citando dificuldades de comunicação entre o primeiro-ministro e a sua equipa jurídica devido à guerra em Gaza.

O Tribunal Distrital de Jerusalém tem agora que decidir sobre o pedido de adiamento do depoimento de três testemunhas no julgamento por corrupção: David Shimron, um associado próximo de Netanyahu, Shlomit Barnea Farago, o conselheiro jurídico do Gabinete do Primeiro-Ministro e o brigadeiro da polícia Coresh Barnoor, segundo avançam os jornais israelitas.

O regresso de Netanyahu à política era apontado, pelos seus críticos, como uma forma de obter imunidade face aos julgamentos em curso, mas o entretanto reeleito primeiro-ministro negou sempre qualquer evidência de causa-efeito face à decisão de regressar.

Entretanto, na frente da guerra, a questão das negociações para o cessar-fogo continua envolta em sucessivos mistérios. Na manhã desta terça-feira, a CNN noticiava, com base num depoimento recolhido pela agência espanhola EFE, que as partes envolvidas tinham conseguido finalmente chegar a um acordo e que o cessar-fogo iria durar 40 dias. Mas, inesperadamente, os jornais israelitas – e aqueles que têm jornalistas no terreno, como por exemplo a Al Jazeera – não deram qualquer seguimento ao caso e nunca chegaram a noticiar o pretenso acordo.

Aparentemente, esse acordo continua a não existir. Segundo os principais jornais israelitas, a ‘bola’ está no lado do Hamas – que afirma não ter meios para concordar com a mais recente imposição do lado israelita: uma lista atualizada da identidade dos reféns que ainda se encontram em Gaza e uma nota sobre o seu estado de saúde.

As palavras do próprio secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, vão no mesmo sentido: citado pela imprensa israelita, pediu ao Hamas que aceite um "cessar-fogo imediato" com Israel, enquanto as negociações com mediadores egípcios e qataris decorrem no Cairo. "Temos uma oportunidade para um cessar-fogo imediato que possa trazer reféns para casa, que possa aumentar a assistência humanitária que chega aos palestinianos que tanto precisam dela e, em seguida, também estabelecer as condições para uma resolução duradoura", disse Blinken durante uma visita do primeiro-ministro do Qatar a Washington. “Cabe ao Hamas tomar decisões sobre se está preparado para se envolver nesse cessar-fogo".

Algures nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump voltou a fazer polémicas declarações sobre o assunto: afirmou que os ataques do Hamas a 7 de outubro, bem como a consequente guerra que Israel está a travar, nunca teriam acontecido se ele ainda estivesse na Casa Branca. "Isto nunca teria acontecido se eu fosse presidente. O Irão estava em falência... Eles não tinham dinheiro para o Hamas, para o Hezbollah, estavam falidos", disse em entrevista à Fox. “Eles fizeram isto porque não têm respeito por Biden".

Trump recordou declarações suas anteriores, segundo as quais “da mesma forma, a Rússia nunca teria atacado a Ucrânia. Nunca. Você sabe, todos o sabem. Isto tudo depende de Biden".

Uma coisa é certa: nem todo o gabinete de Biden parece estar confortável com a benevolência com que o presidente norte-americano tem aceitado as investidas de Israel em Gaza. A vice-presidente, Kamala Harris, recebeu o membro do gabinete israelita Benny Gantz em Washington, depois de ter tecido fortes críticas à abordagem de Israel à guerra no enclave.

Após a reunião, a Casa Branca disse que Harris expressou a Gantz, ex-ministro da Defesa, a sua "profunda preocupação com as condições humanitárias em Gaza e a recente tragédia horrível em torno de um comboio de ajuda no norte de Gaza", na qual mais de cem palestinianos foram mortos enquanto tentavam obter alimentos.

Os dois debateram também a situação na cidade de Rafah, no sul da Palestina, e a necessidade de um plano humanitário viável antes da grande operação militar israelita, para ali preparada, ter efeito.

Segundo a Casa Branca, a reunião com Kamala Harris foi organizada a pedido de Benny Gantz – havendo a hipótese, segundo alguns jornais israelitas, de a viagem a Washington ter tido a discordância de Netanyahu – possivelmente agastado com algumas palavras de elementos da Casa Branca sobre a guerra na Palestina. Segundo o “The Times of Israel”, o primeiro-ministro israelita recusou assinar a visita de Gantz, "que vê como parte de um esforço para minar a sua autoridade" – e terá instruído o embaixador israelita na capital dos Estados Unidos para que não concedesse qualquer apoio protocolar.

Recorde-se que as sondagens indicam que o partido de centro-direita União Nacional, liderado por Gantz, está agora na liderança das intenções de voto dos israelitas, o que coloca o ex-ministro da Defesa numa situação incómoda: deve ou não fazer tudo para acabar com o governo de crise do qual faz parte desde a primeira hora?