Está instalada a total confusão em torno das negociações que deverão, ou deveriam, ter início no Cairo, capital do Egipto, para a aceitação de um cessar-fogo entre Israel e os palestinianos. Os Estados Unidos asseguraram durante o fim-de-semana que o governo israelita concordou com o cessar-fogo – mas, no domingo, a posição oficial, segundo os jornais israelitas, é a de que o Estado hebraico nem sequer deverá deslocar-se ao Cairo porque o Hamas recusou fornecer a identidade dos reféns ainda em seu poder.
Para Washington, Israel concordou com a estrutura de uma proposta de tréguas em Gaza e um acordo de libertação de reféns, tendo advertido que cabe ao Hamas concordar com as premissas do disposto, referia um alto funcionário do governo dos Estados Unidos este sábado. Mediadores internacionais trabalham semanas para intermediar o acordo antes do mês sagrado muçulmano do Ramadão, que começa em 10 de março e corre até 11 de abril. O acordo permitiria que chegasse mais ajuda a centenas de milhares de palestinianos no norte de Gaza.
Os israelenses “aceitaram mais ou menos” a proposta, que inclui um cessar-fogo de seis semanas, bem como a libertação pelo Hamas de reféns considerados vulneráveis, o que inclui doentes, feridos, idosos e mulheres, disse aquela fonte – que assim não fez passar uma imagem de certeza que a comunidade internacional estaria à espera.
“Neste momento, o lance está no campo do Hamas e continuamos a insistir nisso o máximo que pudermos”, disse, falando sob anonimato. “Os reféns têm de ser libertados”, “mas não quero criar expectativas de uma forma ou de outra”.
As reticências reveladas por aquela fonte revelar-se-iam sensatas logo no domingo, quando o encontro do Cairo devia ter início: Israel não enviou a sua equipa de negociação ao Cairo, como reação à resposta insatisfatória que receberam do Hamas. É que, diz o lado israelita, a organização radical recusou, via Qatar, aceitar a exigência de fornecer uma lista dos reféns vivos. Neste contexto, tanto o gabinete israelita de crise como as estruturas militares do país concordaram que não fazia sentido deslocarem-se ao Cairo.
Para Israel, que 31 dos 130 reféns mantidos pelo Hamas estão mortos. A primeira fase do acordo em presença prevê a libertação de 40 dos reféns vivos, incluindo mulheres, crianças, idosos e doentes, no decurso de uma trégua de seis semanas e a libertação de cerca de 400 prisioneiros de segurança palestinianos encarcerados em Israel. O esboço do acordo prevê negociações sobre a libertação gradual dos reféns restantes, vivos e mortos, em troca de pausas mais longas nos combates e mais libertações de prisioneiros palestinianos.
Na tarde de domingo, um elemento do Hamas disse à CNN que o grupo não concordará com um acordo sem que Israel aceite o fim da guerra em Gaza. Citando “uma fonte altamente colocada” no grupo, a CNN informou que as outras duas áreas sem acordo são a retirada das tropas das forças de defesa de Israel (FDI) de Gaza e a permissão dos civis que habitam em Gaza regressem às suas casas. O Hamas queria ainda que Israel aceitasse o fim da guerra nas “24 a 48 horas seguintes”. “Se Israel concordar com as exigências do Hamas, que incluem o regresso dos palestinianos deslocados ao norte de Gaza e o aumento da ajuda humanitária, isso abriria caminho para um acordo nas próximas 24 a 48 horas”, disse à AFP um elemento do Hamas. No Cairo, a delegação do Hamas deveria reunir com mediadores egípcios, dos Estados Unidos e do Qatar.
As esperanças internacionais de um acordo bem-sucedido como resultado das negociações em andamento aumentaram na semana passada, após uma ronda mediada pelo Qatar e pelo Egipto em Doha. O Hamas não recuou na sua posição de que uma trégua temporária deve ser o início de um processo para acabar por completo com a guerra, mas Israel disse que não aceitará tais termos. A primeira trégua conseguida aconteceu na última semana de novembro passado, que levou à libertação de 105 civis do cativeiro imposto pelo Hamas em troca de 240 prisioneiros de segurança palestinianos.