Depois de o governo israelita ter deixado claro que não conta cumprir qualquer recomendação ou deliberação do Tribunal Internacional de Justiça de Haia – onde o país enfrenta acusações de genocídio avançadas pela África do Sul – o gabinete de crise parece ter encontrado uma alternativa a uma guerra que já está ativa há cem dias e que não para de gerar cada vez mais mortos, quase todos do mesmo lado dos combates.
Assumindo uma disposição que alguns países que apoiam Israel já tinham avançado – nomeadamente os Estados Unidos – o ministro da Defesa, Yoav Gallant, reconheceu finalmente que o Hamas está a tentar incitar a Cisjordânia (liderada pela Autoridade Palestiniana) a juntar-se à luta contra Israel e afirmou que o Estado hebraico deve tomar medidas para evitar isso. Fortalecer a Autoridade Palestiniana é, na sua opinião, aquilo que impedirá a junção de dois partidos (o Hamas e a Fatah, que lidera a Autoridade) e o aumento da sua força.
“O Hamas está a tentar ligar Gaza e a Judeia e Samaria, e contaminar a área”, disse Gallant em comunicado emanado do seu ministério, usando o nome bíblico para a Cisjordânia. “Devemos impedir isso de todas as formas e lidar com a questão dos trabalhadores e do dinheiro”, acrescenta. É que, reconhece, uma união entre os dois lados da Palestina ” pode prejudicar a nossa capacidade de atingir os nossos objetivos de guerra.”
Gallant referia-se a propostas para permitir que trabalhadores palestinianos da Cisjordânia voltem a trabalhar em Israel – aliviando assim a pressão sobre a região – bem como o regresso de fundos neste momento congelados e que Israel fornece à Autoridade Palestiniana como forma de financiamento – questões que têm sido altamente controversas no gabinete desde o início da guerra, segundo avança a imprensa israelita.
O ministro acrescentou ainda que “espero que o governo aceite a posição das Forças de Defesa de Israel (IDF) e do Shin Bet [uma das ‘secretas’ de Israel]. Vou dizer isto da maneira mais clara possível: uma Autoridade Palestiniana forte é do maior interesse para a segurança de Israel”.
Até agora, a posição do governo de Israel era exatamente o contrário. O próprio primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse à semanas que a Autoridade Palestiniana era o mesmo que o Hamas com menos motivação de combate, mas advertiu que as duas entidades se conjugavam na defesa do desaparecimento do Israel. Um erro histórico que na altura os comentadores não compreenderam – dado que a Autoridade foi desde o início apoiada por Israel com a função de isolar os movimentos radicais.
Pouco depois do início da guerra, e perante as reticências de Netanyahu, a Casa Branca apressou-se a afirmar que Israel devia contar com a Autoridade Palestiniana para, no pós-guerra, impedir que o poder caísse nas ruas – ou, pior ainda, nas mãos de grupo radicais semelhantes ao Hamas è a Jihad Islâmica. Mas o governo de crise disse sempre que não contava com ‘esta’ Autoridade Palestiniana, liderada por Mahmoud Abbas – o que levou os analistas a considerarem que, no limite, Netanyahu quer controlar diretamente a Palestina, que é o mesmo que decretar o fim da possibilidade da existência de dois Estados na região.
Guerra de números
Entretanto, as IDF publicaram um grande conjunto de dados com informações sobre as suas operações na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e no Líbano, desde o número de agentes terroristas mortos até o número de locais atingidos. De acordo com os dados, citados pela imprensa, mais de nove mil agentes do Hamas e combatentes de outros grupos foram mortos pelas FDI na Faixa de Gaza desde o início da guerra, além de cerca de mil terroristas dentro de Israel em 7 de outubro.
Os dados das IDF dizem que os militares mataram dois comandantes de brigada do Hamas e 19 comandantes de batalhão e outros altos funcionários com patentes equivalentes. Mais de 50 comandantes de companhias do Hamas e agentes com patente semelhante também foram mortos, de acordo com os dados. No Líbano, as IDF dizem terem morto mais de 170 agentes subversivos, a maioria membros do Hezbollah.
Cerca de 30 mil alvos foram atingidos na Faixa de Gaza desde o início da guerra, incluindo mais de 3.400 que foram descobertos como locais do Hamas durante os combates. No Líbano, cerca de 750 posições do Hezbollah foram atingidas.
Desde o início da guerra, cerca de nove mil projéteis disparados de Gaza cruzaram a fronteira com Israel, outros dois mil vieram do Líbano e cerca de 30 da Síria.
As IDF dizem ainda que a Unidade 504 (Direção de Inteligência Militar) interrogou cerca de 2.300 suspeitos palestinianos na Faixa de Gaza, alguns dos quais foram presos e levados para Israel para novos interrogatórios.
Um total de 7.653 camiões transportando ajuda humanitária que entram na Faixa de Gaza foram inspecionados pelas autoridades israelitas nas passagens de Nitzana e Kerem Shalom. As IDF dizem que os camiões transportaram um total de 137.920 toneladas de ajuda.
As IDF também fizeram 79 mil telefonemas, lançaram 7,2 milhões de panfletos, enviaram 13,7 milhões de mensagens de texto com avisos de evacuação.
Desde 7 de outubro, as IDF dizem que as tropas prenderam mais de 2.650 palestinianos na Cisjordânia, incluindo mais de 1.300 filiados ao Hamas. Ali, cerca de 40 ataques ao nível de brigada foram realizados e 14 casas de palestinianos acusados de terrorismo foram demolidas.
De acordo com os dados das IDF, um total de 295 reservistas foram convocados desde o início da guerra. Os quase 300 mil reservistas estão de prevenção. Os homens representam 81% dos reservistas. Pelo menos 115 mil dos reservistas são pais e cerca de três mil são mães. Metade dos reservistas tem entre 20 e 29 anos, sendo que 31% têm entre 30 e 39 anos. Outros 13% têm entre 40 e 49 anos, 5% entre 50 e 59 anos e 1% entre 60 e 69 anos.
Um total de 522 soldados, reservistas e agentes de segurança (israelitas) locais foram mortos e outros 2.536 ficaram feridos desde 7 de outubro. Destes, 188 foram mortos e 1.113 ficaram feridos durante a ofensiva terrestre em Gaza. As IDF também registam 19 soldados mortos devido a fogo amigo em Gaza, e outros 36 por acidentes durante a guerra, incluindo acidentes de viação e incidentes militares.