Havia dúvidas sobre qual seria o sinal que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, queria tornar explícito com a sua visita a Israel: seria um apoio incondicional, ou uma chamada de atenção para que a comunidade internacional não toleraria ver mais imagens de massacres como resposta a outros massacres nos ecrãs de televisão à hora do jantar?
Tudo indica que a resposta é seguramente a primeira: o chefe da Casa Branca mostrou-se completamente do lado do país agredido pelo Hamas e, ao aceitar como boa a narrativa de que o massacre de terça-feira num hospital de Gaza resultou de um míssil islâmico, abriu as portas a um regime de larga tolerância ao nível da resposta que as forças israelitas preparam.
O apoio está em todas as frentes. Desde logo quando os Estados Unidos vetaram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia uma “pausa humanitária” na guerra entre Israel e o Hamas porque o texto não incluía uma referência ao direito de Israel de se defender. O texto atirado para o lixo dizia que o Conselho de Segurança "condena firmemente toda a violência e hostilidade contra civis e todos os atos de terrorismo”.
“Os Estados Unidos estão desapontados por esta resolução não mencionar o direito de autodefesa de Israel", disse a embaixadora norte-americano na ONU, Linda Thomas-Greenfield, citada pelos jornais. “Como todas as nações do mundo, Israel tem o direito inerente de autodefesa, conforme refletido no Artigo 51 da Carta da ONU”, esclareceu.
E enquadrou o veto: “após os ataques terroristas anteriores de grupos como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, este conselho reafirmou esse direito. O texto [agora vetado] deveria ter feito o mesmo". Doze dos 15 conselheiros (os cinco membros permanentes mais 10 temporários) votaram a favor da resolução apresentada pelo Brasil e negociada ao longo de vários dias; para além do veto dos Estados Unidos, Rússia e Reino Unido abstiveram-se. Já ontem, quarta-feira, uma resolução apresentada pela Rússia também tinha sido vetada.
Entretanto, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou sanções "contra dez membros-chave do grupo terrorista Hamas, agentes e facilitadores financeiros em Gaza e noutros lugares. Esses indivíduos apoiaram o Hamas e outras organizações terroristas, permitindo que o Hamas realizasse atos como o ataque cruel a Israel", diz uma nota do Departamento, citada pelos jornais. “Estas ações de são dirigidas aos terroristas do Hamas e sua rede de apoio, e não aos palestinianos".
Reforçando a imagem do seu apoio inequívoco, Biden participou – ou deixou-se filmar – numa reunião do gabinete de crise, que conta com personalidades da oposição. No final do encontro, o presidente dos Estados Unidos lembrou que “a grande maioria dos palestinianos não é do Hamas”. “Fiquei indignado e triste com a enorme perda de vidas ontem no hospital em Gaza. Com base nas informações que vimos até o momento, parece o resultado de um foguete errante disparado por um grupo terrorista em Gaza”, explicou, citado pelos jornais israelitas.
Biden disse ter pedido ao gabinete de guerra de Israel que permitisse que a ajuda chegasse aos civis. "Israel concordou que a assistência humanitária pode começar a deslocar-se do Egipto para Gaza”, revelou – mas assegurou que, se o Hamas desviar essa assistência, “isso impedirá que a comunidade internacional possa fornecer essa ajuda”.
O presidente anuncia ainda que o seu país atribuirá uma verba de 100 milhões de dólares para assistência aos palestinianos, tanto os de Gaza como os da Cisjordânia. E não esqueceu ‘o dia seguinte’: “devemos continuar a trabalhar para uma maior integração de Israel com os seus vizinhos [todos eles muçulmanos]. Esses ataques só fortalecem o meu compromisso, determinação e minha vontade de o fazer”.
Entretanto, depois de terem sido difundidas imagens do hospital em Gaza atingido esta terça-feira por um míssil, manifestações contra Israel foram convocadas para várias cidades, não apenas no mundo muçulmano. Uma das que prometia poder resultar mais facilmente em violência foi a organizada em Ramallah, na Cisjordânia – mas os manifestantes acabaram por dispersar sem desacatos, ou, pelo menos, não chegaram notícias de qualquer desentendimento.
Um dos temores das autoridades israelitas é precisamente a possibilidade de a violência fundamentalista do Hamas ‘contaminar’ elementos ou grupos mais radicais na margem do Jordão e acender mais um foco de violência.
Outro foco que parece casa vez mais ‘aceso’ é o da fronteira entre o Líbano e Israel: os confrontos entre o exército de defesa israelita (IDF) e elementos do Hezbollah não param há mais de uma semana – e ninguém parece acreditar que não venham a aumentar de intensidade.