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Israel confrontado com o novo mundo: republicanos dos EUA querem solução dos dois Estados

O Estado hebraico começa a perceber que o mundo à sua volta mudou: republicanos querem manter boas relações com a Arábia Saudita – que agora tem interesses diplomáticos a defender com o Irão.

O senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, disse este domingo que outros países árabes não concordarão em normalizar os laços com Israel a menos que Jerusalém concorde com uma solução de dois Estados. Os comentários, diz a imprensa norte-americana, equivalem a um raro reconhecimento de um parlamentar republicano de que o Estado palestiniano é uma condição para a expansão dos Acordos de Abraão – criados por Donald Trump e intensamente aplaudidos por Israel. E são também um verdadeiro alerta para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que bloqueou a possibilidade da criação dos do Estado palestiniano e afirmou a semana passada que velará a sua estratégia de guerra até ao fim mesmo que com a oposição do mundo inteiro.

Ao ser entrevistado num programa televisivo, Lindsey Graham elogiou o esforço do governo Biden para retomar as negociações de normalização entre Israel e Arábia Saudita – o que de algum modo implica que há uma aproximação de pontos de vista entre republicanos e democratas. Não em termos de ajuda a Israel – área em que a convergência entre os dois partidos norte-americanos é total há décadas – mas do que podem ser as linhas vermelhas que os Estados Unidos estão dispostos a aceitar, linhas essas tradicionalmente bastante mais flexíveis entre os republicanos.

Daqui para frente, afirmou Graham, "as opções são continuar a espiral da morte ou usar o 7 de outubro como catalisador de mudanças". "Acho que os árabes vão exigir alguma forma de solução de dois Estados para reconhecer Israel", especulou o parlamentar republicano. "Acho que Israel vai exigir amortecedores de segurança diferentes", acrescentando que eles são fundamentais para garantir que os massacres do Hamas ocorridos em 7 de outubro não se repitam. "Se não acertarmos desta vez, estamos a falar de outra geração de mortes", afirmou.

Mas o mundo tal como Israel o vê mudou muito nos últimos meses. É que a Arábia Saudita passou a ter relações diplomáticas com o Irão – patrocinadas pela China – e essa verdadeira ‘revolução diplomática’ alterou de forma profunda o balanço de forças no Médio Oriente e nas regiões circundantes. É evidente para os analistas que a possibilidade de um ataque direto de Israel ao Irão – um tema que está em cima da mesa desde a revolução iraniana de 1979 – já não tem a mesma margem de potencial aceitação que tinha antes do acordo entre o Irão e a Arábia Saudita. Ora, o governo de Netanyahu age como se nada à sua volta tivesse mudado e a postura do primeiro-ministro tem cada vez menos margem em diversas chancelarias.

Os países que estão do lado de Israel também começam a questionar-se sobre as mais que duvidosas vantagens da ligação entre Netanyahu e o seu partido, o Likud, e os partidos de extrema-direita que suportam o governo atual (e o anterior, que foi remodelado depois de 7 de outubro para a forma atual de gabinete de crise).

Um dos problemas continua a ser a extrema-direita religiosa ortodoxa – que por exemplo não apoiou o cessar-fogo e a troca de reféns por prisioneiros palestinianos. Mas principalmente o ministro da Segurança, Itamar Ben-Gvir, que, entre outras coisas inimagináveis, já disse ser favorável à entrega de armas aos colonos israelitas que vivem nos colonatos (ele próprio é um deles) para serem usadas contra as ousadias dos palestinianos que vivem na sua cada vez mais pequena Cisjordânia.

Esta inacreditável possibilidade – que seria realizada ao arrepio de quaisquer leis civilizadas – levou mesmo a que os Estados Unidos interrompessem em envio de armas ligeiras para Israel, temendo exatamente que elas acabariam nãos mais dos colonos.

Entretanto, os confrontos no norte de Israel, na fronteira com o Líbano, são cada vez mais significativos. Segundo a imprensa israelita, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, voltou a ameaçar aumentar drasticamente a ação militar contra o Hezbollah, enquanto o grupo radical libanês apoiado pelo Irão continuava a realizar ataques frequentes.

Foguetes e mísseis foram disparados do Líbano contra várias cidades do norte de Israel ao longo do dia de domingo. O Hezbollah reivindicou a responsabilidade por pelo menos 10 ataques. Em resposta, um caça israelita e um helicóptero de ataque atingiram vários edifícios usados pelo Hezbollah, e um drone atingiu membros do grupo. Armamento e um posto de observação do Hezbollah foram também inutilizados pelas forças de defesa de Israel (IDF).