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Israel: cessar-fogo continua a ser uma hipótese no meio do caos

Primeiro em Paris, depois em Doha e mais tarde no Cairo. As rotas das negociações para um cessar-fogo continuam muito ativas, num contexto em que Israel promete mais guerra.

Fontes repetidamente citadas pelos jornais – nomeadamente pelos israelitas – avançam que partes e contrapartes podem estar perto de conseguirem um cessar-fogo de que resulte a libertação de reféns. Mas, ao mesmo tempo, as notícias que chegam de Israel apontam precisamente para o contrário – como se a guerra tivesse entrado em regime de esquizofrenia.

As negociações para um cessar-fogo temporário em Gaza foram retomadas em Doha, no Qatar, entre "especialistas do Egipto, Qatar, Estados Unidos e Israel", bem como com representantes do Hamas, referem este domingo jornais egípcios ligados ao Estado.

A notícia surge depois de vários relatos indicarem que uma estrutura idêntica e formada pelos mesmos países esteve reunida em Paris no fim-de-semana. As negociações são uma "continuação do que foi discutido em Paris" e "serão seguidas por reuniões no Cairo", informou a Al-Qahera News, ligada aos serviços de inteligência estatais egípcios. O gabinete de guerra de Israel concordou no sábado em enviar uma delegação ao Qatar para continuar as negociações.

Mas, enquanto surgem mensagens de esperança, em Israel, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, disse que o país aumentará os seus ataques contra o grupo libanês do Hezbollah em resposta aos seus ataques diários no norte de Israel, mesmo que se verifique um cessar-fogo temporário na Faixa de Gaza.

"Estamos a planear aumentar o poder de fogo contra o Hezbollah, que não consegue encontrar substitutos para os comandos que estamos a eliminar", disse Gallant durante uma visita às posições do Comando Norte das Forças de Defesa de Israel (IDF), em Safed.

"No caso de uma trégua temporária em Gaza, aumentaremos o fogo no norte e continuaremos até à retirada total do Hezbollah da área de fronteira e o regresso dos moradores às suas casas", disse o ministro, referindo-se aos cerca de 80 mil israelitas deslocados para fugirem aos ataques do Hezbollah. "O objetivo é simples: empurrar o Hezbollah de volta para onde deveria estar. Ou por acordo, ou pela força", acrescentou.

Por outro lado, um alto representante do Hamas, Sami Abu Zuhri, disse que os comentários feitos pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ao programa "Face the Nation", da CBS, lançaram dúvidas sobre a disposição de Israel para garantir um acordo para os reféns. Netanyahu disse à CBS que o Hamas precisa de fazer exigências mais razoáveis para que seja possível um acordo, mas recusou a discutir detalhes.

Citado pela Reuters, o membro do Hamas disse que “os comentários de Netanyahu mostram que ele não está preocupado em chegar a um acordo" e acusou o líder israelita de querer "prosseguir a negociação enquanto os bombardeamentos decorrem e o derramamento de sangue" dos palestinianos em Gaza continua.

Entretanto, o vice-ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Yıldız, deve entregar a declaração oral ao Tribunal Internacional de Justiça (CIJ), esta segunda-feira, durante mais uma audiência sobre os eventuais atropelos dos direitos humanos em Gaza. As audiências públicas começaram na passada segunda-feira em Haia, após o pedido da Assembleia Geral da ONU de um parecer consultivo sobre as consequências jurídicas decorrentes das políticas e práticas de Israel no território palestiniano ocupado, incluindo Jerusalém Oriental.

"No final deste processo, serão apresentadas conclusões legais sobre a opressão dos palestinianos", disse Oncu Keceli, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros turco. Pelo menos 52 Estados, a Liga Árabe, a Organização de Cooperação Islâmica (OIC) e a União Africana, vão apresentar os seus argumentos em tribunal – num processo que teve início com a declaração da própria Palestina. Israel também apresentou uma declaração escrita.

Uma das principais atribuições da CIJ incluem a resolução de disputas legais que surjam entre os Estados, em conformidade com o direito internacional e a emissão de pareceres consultivos sobre questões jurídicas que lhe são submetidas. A pedido da Assembleia Geral, o tribunal da ONU emitirá um parecer consultivo não vinculativo sobre as consequências legais das políticas e atos de Israel na Palestina ocupada. Esta é a primeira vez que um número tão elevado de Estados fez declarações escritas e orais para adicionar a um parecer consultivo perante o tribunal.

O parecer consultivo da CIJ não está relacionado com um caso específico entre dois Estados, ao contrário do caso apresentado pela África do Sul no Tribunal Penal Internacional (TPI) contra Israel por violação da Convenção sobre Genocídio.