O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu desafiadoramente na tribuna do Knesset, o parlamento, que vai continuar a lutar em Gaza, apesar da crescente condenação internacional da ofensiva em Rafah, e rejeitou, esta segunda-feira, as acusações de que o governo não está a negociar de boa fé para a libertação dos reféns mantidos no enclave.
"Aqueles que dizem que não estão prontos para enfrentar a pressão levantam a bandeira da derrota. Não vou levantar essa bandeira, vou continuar a lutar até que a bandeira da vitória seja levantada", disse. "Não pretendo acabar com a guerra antes de todos os objetivos terem sido alcançados. Se cedermos, o massacre voltará. Se cedermos, daremos uma grande vitória ao terror, ao Irão", acrescentou.
Referindo-se a um incidente na noite anterior, na qual um ataque contra dois comandantes do Hamas desencadeou um incêndio que se espalhou por um acampamento de tendas, matando dezenas de pessoas, Netanyahu afirmou, segundo a imprensa local, que Israel fez tentativas de manter os civis seguros, evacuando mais de um milhão de pessoas de Rafah.
Aparentemente, não foram bem-sucedidos: "apesar dos nossos esforços para não haver feridos, houve um trágico percalço. Estamos a investigar o incidente", disse o primeiro-ministro. "Para nós é uma tragédia, para o Hamas é uma estratégia", acrescentou.
Com famílias de reféns presentes na galeria do parlamento segurando fotos de pessoas que ainda se encontram entre os reféns e gritando "agora", para exigirem um acordo imediato que os liberte, Netanyahu negou as acusações de que está a evitar chegar a um entendimento com o Hamas – de onde resultaria a necessidade de interromper os combates em Rafah. "Rejeito totalmente a ideia de que não estou a dar à equipa de negociação o mandato" para negociar o fim dos combates, afirmou. "Aprovei todas as sugestões, respondi a todos os pedidos", disse – desmentidos assim fontes do exército (as IDF), citadas pelos jornais israelitas durante o fim-de-semana, de que não há empenho do governo nas negociações.
"São afirmações mentirosas que repetem a alegação de que somos a barreira, que não só prejudicam as famílias dos reféns, mas muito pior, afastam a sua libertação e prejudicam as negociações. Em vez de pressionarem o líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, colocam pressão sobre o governo israelita".
O “percalço” ocorrido no campo de refugiados de Jabaliya matou pelo menos 45 pessoas. Como vem sendo costume, a comunidade internacional – que na sua maioria antecipou que este tipo de “percalço” iria ocorrer se as IDF avançassem sobre a região de Rafah – condenou o sucedido. Segundo a imprensa, o presidente francês, Emmanuel Macron, classificou o ataque como “ultrajante”, especialmente por acontecer pouco mais de 24 horas depois de o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) determinar que Israel interrompesse de imediato as operações militares na cidade. Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, disse, por seu turno, estar horrorizado com as mortes e lembrou que as decisões do TIJ devem ser respeitadas por todos os países. Mesmo o Reino Unido, um dos países europeus com mais fortes ligações com Israel, divulgou uma nota oficial dizendo não apoiar “operações militares em Rafah, sem um plano claro de proteção aos civis e refugiados”.
Em nota na rede social X, a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) escreveu que as imagens de Rafah mostram, mais uma vez, que a agressão israelita em Gaza tornou o enclave um “inferno na terra”.
O Qatar condenou o ataque a Rafah como grave violação da lei internacional, que só vai agravar a crise humanitária em Gaza. O país, mediador no conflito, reiterou que o incidente afetará esforços de negociação para um cessar-fogo e troca de prisioneiros, conforme nota do Ministério de Relações Exteriores em Doha.
O Egipto também condenou o “bombardeio deliberado” a Rafah, cidade que, destacou, abriga cerca de 1.5 milhão de refugiados. Em nota, o Ministério dos Negócios Estrangeiros exigiu a Israel a “implementação às ordens do TIJ para cessar de imediato as ações militares”.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, responsabilizou Benjamin Netanyahu por mais um sangrento incidente em Gaza. “Faremos todo o possível para levar esses bárbaros e assassinos à Justiça”, disse.
O trio de países europeus que vão reconhecer um Estado palestiniano foram unânimes na condenação de Israel. O ministro de Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, reiterou que o bombardeamento representa “mais um dia em que civis inocentes palestinianos são assassinados. E disse que a gravidade do ataque “é ainda maior” depois dos mandados do TIJ. O seu homólogo irlandês, Micheal Martin, classificou os ataques como “bárbaros”. Segundo o ministro, “não é possível bombardear uma área como Rafah sem consequências em termos de civis e de crianças inocentes. Instamos Israel a parar, parar agora mesmo, a sua operação militar em Rafah”. O ministro de Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide, destacou que os bombardeamentos abrangem uma “violação material da decisão do mais alto tribunal global”, em referência à “ordem vinculativa do TIJ para que Israel cesse os ataques a Rafah”.