Pela primeira vez nos últimos quatro anos o mercado imobiliário irá registar um volume de investimento comercial abaixo dos dois mil milhões de euros. E é preciso recuar a 2016 para se ver um valor tão baixo. Depois de os últimos três anos terem registado valores na ordem dos três mil milhões de euros, a incerteza da pandemia em 2021, aliada ao facto de pela primeira vez não terem sido transacionados centros comerciais, ajuda a explicar um volume que no final do ano deverá ficar entre os 1,7 e 1,8 mil milhões de euros. Em entrevista ao Jornal Económico (JE), Pedro Lencastre, diretor-geral da consultora JLL, considera que apesar de este não ser o melhor dos resultados, para o sector o futuro é animador.
“Esta notícia não é a melhor porque, no fundo, não traduz toda a dinâmica que o mercado teve. Acho que para o ano [de 2022] há uma expetativa muito grande de que podemos voltar mais aos níveis de 2018 e 2019”, principalmente devido ao pipeline que transita para 2022. “Diria que há um portefólio grande de logística, que mete também hotelaria e um portefólio de escritórios que acaba por nos fazer encarar o que aí vem com algum otimismo quanto ao volume do imobiliário comercial”, realça Pedro Lencastre.
O diretor da JLL destaca também a presença de novos investidores estrangeiros, que representam 80% do volume de investimento comercial. Trata-se, sobretudo, do “mercado americano e inglês, que é onde os fundos são maiores e estão sempre muito atentos”, juntando os canadianos e brasileiros. Já no mercado residencial o responsável salienta que as vendas em planta continuam a ter muito sucesso, pelo facto de não existir habitação nova. “Continuamos com um parque habitacional velho, faltam casas em Portugal e é muito difícil nesta altura colmatar esta lacuna, por causa dos custos de construção, que são elevados, e no desastre que é licenciar projetos em Portugal, cada vez mais lento”, afirma.
Uma tendência que acredita possa vir a mudar em Lisboa com o novo presidente da Câmara, Carlos Moedas. “Não pode continuar tudo na mesma, porque pior é impossível. Tenho a certeza que só pode melhorar”, salienta.
Sobre o ritmo a que se vendem casas em Lisboa, Pedro Lencastre realça que este ano venderam-se mais habitações do que em 2020, embora não consiga quantificar o ritmo a que são vendidas. “Não consigo traduzir isso em números, não posso dizer que em média demora três, cinco ou dez semanas a vender uma casa”, sublinhando, contudo, que a velocidade das vendas não depende tanto da ação dos mediadores, mas sim das “barreiras” que têm vindo a ser criadas pelo Estado.
Uma dessas barreiras aos investidores internacionais poderá ser o fim do regime dos Vistos Gold. “Foi um cartão amarelo do Governo aos investidores, porque não vamos conseguir, certamente, que os que compravam no centro da cidade agora comprem ao interior. Se era essa a ideia, isso não vai acontecer”, refere, mostrando-se contudo, confiante de que os investidores vão continuar a chegar ao país. “Fomos super criativos a criar o regime de golden visa. Agora devemos ser criativos a inventar outras coisas para manter Portugal no radar”, sublinha Pedro Lencastre.
No que toca ao investidor português, o diretor da JLL diz que o principal mercado de ação é o residencial. “No imobiliário comercial são operações típicas de alguns milhões e portanto os portugueses têm menos espaço. No imobiliário residencial é ao contrário, ocupam cerca de 85% do espaço e a esmagadora maioria das operações são feitas por portugueses e vão continuar a ter esse espaço. É uma questão também de continuar a investir não só no segmento de luxo. Mesmo no segmento de luxo temos tido algumas surpresas com muito mais portugueses do que nós imaginaríamos”, conclui.