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"Investimento com medicamento hospitalar cresce mais de 10% ao ano desde 2020", diz bastonário

Um dia pós a primeira reunião com a ministra da Saúde, o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos deixou ainda a advertência de que o programa do novo Governo está apenas centrado na despesa e não tem nada sobre a criação de riqueza.

O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos disse esta terça-feira, 23 de abril, que o investimento no medicamento em Portugal tem vindo a aumentar “muito significativamente” e esse crescimento deverá continuar nos próximos anos.

Embora o investimento nos medicamentos de ambulatórios não suba ao mesmo ritmo, nos medicamentos hospitalares “cresce mais de 10% ao ano desde 2020”, afirmou Hélder Mota Filipe, num pequeno-almoço promovido pelo Jornal Económico (JE) sobre o sector farmacêutico, que decorreu no Hotel Intercontinental Lisboa.

Hélder Mota Filipe diz que, como o país necessita de garantir o acesso aos medicamentos adequados a quem deles precisa deles e fazer “a melhor” gestão possível do mercado, é aí que pode entrar o papel dos genéricos e biosimilares. Na sua opinião, “são uma das formas de manter os sistemas com capacidade para financiar a inovação”.

No dia após a primeira reunião com a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos deixou ainda a advertência de que o programa do novo Governo está apenas centrado na despesa e não tem nada sobre a criação de riqueza.

“O aumento da esperança de vida é só uma das consequências dos resultados da saúde. Muitos desses ganhos, resultam das tecnologias dos medicamentos. É importante que continuemos a criar condições para que, no caso particular do SNS e dos sistemas de saúde, se continue a assegurar o acesso às terapêuticas aos doentes que delas precisam”, sublinhou.

Em termos mais económicos, o bastonário elencou uma série de dados estatísticos sobre saúde da OCDE, nomeadamente o facto de a percentagem de despesa em saúde financiada por fontes privadas estar entre as mais elevadas da União Europeia (UE).

Porém, alertou a despesa out of pocket (direta) superior à de outros Estados-membros e outra leitura deste problema: “Na média da UE em percentagem do PIB, estamos bem. Só que em valores absolutos e per capita, a média da UE está muito acima da de Portugal. Temos menos dinheiro para pagar a saúde. Temos as mesmas necessidades que os países mais ricos e menos capacidades para pagar a preços europeus”.

“Não sei se a saúde está subfinanciada, mas sei que o dinheiro não chega para pagar as despesas”

Relativamente ao caso da bebé Matilde ou das gémeas luso-brasileiras, Hélder Mota Filipe lembrou que foram “episódios para esquecer e comunicados no ângulo incorreto”. “As bebés tiveram acesso ao medicamento indicado para a sua situação, custasse dois milhões de euros ou dois euros”, atirou.

E deixou uma mensagem para o legislador e para o utente em Portugal: “Temos de nos habituar a esta realidade de que os medicamentos para tratamento custam isto. Os sistemas têm de estar preparados para dar acesso aos doentes. Por enquanto, os medicamentos muito caros são só para doenças raras, mas pode ser que aconteça ser preciso um medicamento muito caro para uma doença mais comum”.

Hélder Mota Filipe referia-se ao facto de o Zolgensma – para as gémeas que foram tratadas no Hospital de Santa Maria – custar cerca de dois milhões de euros, mas existirem atualmente medicamentos cujo preço é de três ou até 4,25 milhões de dólares (cerca de quatro mil milhões de euros), como o Lenmeldy para crianças com leucodistrofia metacromática (MLD).

A proposta legislativa da Comissão Europeia sobre o sector farmacêutico, apresentada a 26 de abril de 2023, é virtuosa