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Inteligência artificial volta a condicionar bolsas mundiais

Receios dos investidores com as elevadas avaliações das empresas tecnológicas ligadas à inteligência artificial deixaram esta semana os principais índices bolsistas europeus e asiáticos no vermelho.

Sexta-feira foi mais uma prova do poder de influência que a inteligência artificial tem tido nos mercados financeiros mundiais, arrastando esta semana as bolsas europeias e asiáticas para uma onda vermelha. Tal justifica-se pelos novos receios dos investidores com as elevadas avaliações das empresas tecnológicas ligadas à inteligência artificial.

Este cenário acaba também por ter reflexo no Fear e Greed index, um índice que mede o sentimento dos investidores, e que na última semana atingiu o grau de 'medo extremo' [nível mais baixo da escala]. A isto juntam-se vários alertas deixados por várias entidades financeiras, que colocam no centro da discussão a inteligência artificial.

"A preocupação dos investidores e analistas está centrada na capacidade de as companhias recuperarem os avultados investimentos que estão a efetuar na Inteligência Artificial, uma incerteza que a Nvidia não é capaz de debelar, uma vez que a fabricante de chips é uma das principais recetoras desse investimento", assinalou a BA&N na sexta-feira.

Na semana passada o JP Morgan Asset Management já tinha alertado que as avaliações [das empresas cotadas em bolsa] "ainda permanecem elevadas", com um aviso de que "mais riscos estão no horizonte".

O Manulife John Hancock Investments já tinha avisado para a "persistente incerteza" sobre as perspetivas da inteligência artificial.

Um alerta semelhante também foi deixado pela T. Rowe Price. A organização referia na semana passada que as "preocupações relativamente às elevadas avaliações" e o "aumento do escrutínio" em torno dos gastos com inteligência artificial parecem ter contribuído para uma mudança de foco, [levando a que os investidores] se afastassem de "muitas das ações orientadas para o crescimento que ajudaram a impulsionar os índices a atingirem máximos históricos recentes".

A Merrill Lynch foi outra entidade a se pronunciar sobre a inteligência artificial. Na semana passada salientava que a digitalização impulsionada pela Inteligência Artificial e a crescente procura de centros de dados "irão provavelmente aumentar" as necessidades de eletricidade, mas, com tecnologia, investimento e diversificação, o sistema energético dos Estados Unidos "deverá adaptar-se sem grandes perturbações económicas".

Foi ainda dito pela Merrill Lynch que a procura energética da inteligência artificial ​​irá provavelmente "remodelar, e não sobrecarregar", o sistema energético e a economia dos Estados Unidos. "Além disso, o investimento relacionado com a inteligência artificial já impulsionou a economia este ano e cria potencial para ganhos de produtividade futuros", salienta a mesma organização.

Na manhã de sexta-feira, logo após a abertura no vermelho dos principais índices europeus, a BA&N salientava que as "quedas acentuadas" registadas ao momento encaminhavam os mercados "para a pior semana" desde o início de abril. A justificação? "Os investidores [estão] a fugir dos ativos de risco perante os receios mais intensos com as elevadas avaliações das empresas tecnológicas ligadas à Inteligência Artificial", acrescentava a instituição.

"Este medo ficou patente na sessão de quinta-feira em Wall Street, em que os índices registaram a reversão mais acentuada desde abril apesar da Nvidia ter apresentado resultados que foram classificados de robustos de forma quase unânime", acrescentou a BA&N.

Recorde-se que a Nvidia reportou resultados na quarta-feira. A tecnológica dirigida por Jensen Huang apresentou uma subida de 65% no seu lucro líquido e operacional, no terceiro trimestre, para os 31,9 mil milhões de dólares (27,7 mil milhões de euros) e os 36 mil milhões de dólares (31,3 mil milhões de euros), enquanto que as receitas dispararam 62% para os 57 mil milhões de dólares (49,5 mil milhões de euros).

A onda vermelha registada nos mercados estendeu-se também ao MSCI ACWI, que mede o desempenho das ações globais, que já acumulava na manhã de sexta-feira uma queda semanal de 3%, "na pior prestação desde o anúncio das primeiras tarifas recíprocas do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump", referia a BA&N.

O vermelho estendeu-se também ao mercado das criptomoedas que em seis semanas perdeu mais de um bilião de dólares, de acordo com os dados da CoinGecko, citados pela agência noticiosa Reuters.

Europa fechou semana e último mês no vermelho

Quanto aos principais índices europeus fecharam a semana num tom vermelho. O DAX (Alemanha) acumulou uma perda de 3,3%, o CAC 40 (França) desvalorizou 2,3%, e o FTSE 100 (Reino Unido) desceu 1,7%. O AEX (Países Baixos) deslizou 2,9%, o IBEX 35 (Espanha) caiu 3%, e o FTSE MIB (Itália) quebrou 2,9%. O índice português PSI teve uma descida de 2,4%.

No espaço de um mês o sentimento é maioritariamente vermelho. O DAX (Alemanha) acumulou uma perda de 5%, o CAC 40 (França) desvalorizou 3,5%, e o FTSE 100 (Reino Unido) subiu 1,2% O AEX (Países Baixos) deslizou 4,4%, o IBEX 35 (Espanha) valorizou 0,3%, e o FTSE MIB (Itália) avançou 0,1%. O índice português PSI teve uma descida de 2,5%.

Quanto às bolsas asiáticas o índice japonês Nikkei desvalorizou 3,2% na última semana e deslizou 1,3% no espaço de um mês enquanto que a bolsa de Shangai desceu 3,8% na última semana e quebrou 2% no espaço de um mês.

Índice coloca investidores com medo extremo mas taxas de juro deixam Wall Street no verde

O fear and greed index, que na tradução portuguesa mede o medo e a ganância dos investidores, ilustra bem o atual momento dos mercados. No último mês o fear and greed index situava-se nos 28, que é uma nota indicativa de 'medo'. Na última semana o cenário é ainda mais agressivo com o índice a marcar nos 21, que é indicativo de 'medo extremo'. Na sessão de quinta-feira este índice baixou ainda mais atingindo uma nota de 8.

Contudo este medo acabou por não se alastrar, na sexta-feira, a Wall Street. O mercado norte-americano conseguiu abrir a sessão em tom verde justificado pela expetativa de poder existir um novo corte nas taxas de juro.

"Wall Street arranca em alta, depois de um dia de reação mais negativa. A trazer otimismo podem estar declarações de John Williams, membro da Reserva Federal norte-americana, Fed, que alimentam expetativas de corte de juros em dezembro", referia a research do Millennium.

O fecho de Wall Street manteve o verde da abertura. O S&P 500 fechou o dia a valorizar 0,98%, o Nasdaq valorizou 0,88%, e o Dow Jones avançou 1,08%.

Contudo tal não foi suficiente para travar as perdas dos índices norte-americanos na semana e no espaço de um mês.

O S&P 500 fechou a semana com uma quebra de 1,6% e no espaço de um mês desvalorizou 1,9%, o Nasdaq quebrou 2,2% na semana e deslizou 2,9% no espaço de um mês, enquanto que o Dow Jones deslizou na semana 1,7% e no espaço de um mês caiu 1,4%.

Volatilidade aumenta no mercado

O Vix, indicador que mede a volatilidade do mercado, tem também dado sinais de aumento da volatilidade na bolsa. Entre 10 e 21 de novembro este indicador subiu 55%, de 17 para 26. Na última semana este disparou 26% e no espaço de um mês sofreu um incremento de 49%. Contudo fica bem longe dos 52 que atingiu em abril, devido ao anúncio das tarifas por parte da administração dos Estados Unidos.