O Reagrupamento Nacional (RN), de extrema-direita, lidera consistentemente as sondagens para as eleições legislativas de 30 de junho e o seu presidente, Jordan Bardella, pede uma maioria absoluta para poder governar.
Jordan Bardella foi o cabeça de lista do RN às eleições europeias, que venceu, com 31,37% dos votos, mais do que duplicando os 14,6% conquistados pela coligação do presidente da República, Emmanuel Macron, que reagiu convocando eleições legislativas antecipadas.
Os mercados reagiram negativamente à instabilidade política e à ascensão da extrema-direita, com a queda do principal índice bolsista, o CAC 40, depois de ter registado máximos, e com o aumento das taxas de juro da dívida francesa, num movimento que também alastrou a outros mercados europeus.
“Os futuros do índice francês CAC40 caíram quase 10% desde o seu máximo anterior, uma correção bastante forte, numa altura em que as restantes praças apresentaram um desempenho bastante superior, como por exemplo os EUA, onde os índices continuaram a fazer máximos históricos”, diz ao Jornal Económico (JE) Vítor Madeira, analista de mercados financeiros da corretora XTB.
No caso da dívida, as taxas de juro das obrigações do tesouro (OT) francês a 10 anos subiram 12 pontos de base a seguir a estes acontecimentos.
“Este valor foi seis pontos de base superior ao aumento observado nos bunds [obrigações do tesouro alemães], sugerindo que já está a ser estabelecido algum prémio para refletir o risco político”, nota a Schroders.
“Esta dinâmica é fruto de uma mudança de postura dos investidores que, imediatamente após o anúncio das eleições antecipadas em França, começaram a precificar nos ativos financeiros a incerteza do impacto de uma potencial vitória de movimentos com agenda económica e política mais radical”, reforça Ricardo Evangelista, diretor-executivo da ActivTrades Europe, em declarações ao JE.
RN à frente
As sondagens indicam uma liderança do RN, com os últimos estudos, do final da semana passada, a apontarem para votações sempre superiores às que o partido de Marine Le Pen obteve nas eleições europeias, situando-se agora entre 33% e 36%.
“O grande problema está na expetativa de um aumento dos gastos públicos sem que tenham sido apresentadas as necessárias soluções de financiamento”, explica Ricardo Evangelista.
Paralelamente, a segunda força política com mais intenções de voto não é o movimento de Macron, mas sim a Nova Frente Popular, que integra socialistas e ecologistas ou os populistas da França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, e que é dominada por grupos mais conotados com a extrema-esquerda. As sondagens apontam para entre 26% e 29% para esta plataforma de esquerda, enquanto a coligação Juntos pela República, que inclui o Renascimento, de Emmanuel Macron, surge em terceiro, com entre 19% e 22%.
“Tendo em conta este panorama, os mercados estão, agora, num momento de alguma expetativa face ao desenrolar da campanha eleitoral. Alterações de postura das principais forças, apresentando, por exemplo, planos mais realistas para as contas públicas, poderão ajudar a recuperar a confiança dos investidores, mantendo-se, no entanto, o risco de que o contrário também possa suceder”, diz Evangelista.
Por outro lado, “não há certezas de que mesmo vencendo eleições, Bardella possa liderar um governo, com ou sem uma aliança com outros partidos. Outros cenários incluem uma ampla coligação de partidos tradicionais ou um parlamento suspenso. Portanto, é normal o mercado acionista passar por um período atribulado”, aponta Vítor Madeira.
O candidato da RN tem-se esforçado por minimizar a perceção do risco relacionado com uma vitória, incluindo o geopolítico, garantindo, agora, ao contrário do que o partido sempre defendeu, que manterá a França no comando estratégico da NATO.
“Não planeamos questionar os compromissos assumidos pela França no plano internacional”, disse.
Internamente, os patrões franceses já se afirmaram preocupados com a ascensão da extrema-direita, mas temem ainda mais a possibilidade de a extrema-esquerda chegar ao poder.
Dívida mais cara
Os analistas consideram que a situação de instabilidade política deverá manter-se, até porque uma vitória do RN implica uma coabitação com Macron, que poderá não ser, de todo, pacífica.
Mesmo que o RN não consiga obter uma maioria absoluta nas próximas eleições, a Zurich Insurance Company e a Neuberger Berman afirmam que o mercado continuará a exigir um rendimento mais elevado para comprar dívida francesa, noticia a Bloomberg. Outros, incluindo a Societe Generale, preveem que a incerteza política que tem pesado sobre as obrigações persistirá até às eleições presidenciais de 2027, a que Emmanuel Macron não pode concorrer e em que a RN terá como candidata a sua líder de facto, Marine Le Pen.
“Embora já tenha ocorrido uma correção na yield [das OT gaulesas], ainda se encontra num valor alto e acima da yield portuguesa a 10 anos, por exemplo, algo que demonstra um risco acrescido para a dívida francesa”, aponta Madeira, acrescentando que, tendo em conta a pressão despesista sobre a despesa pública, “existe uma maior probabilidade de que o total de dívida pública em função do PIB atinja patamares mais altos, como o dos 120%, nos próximos anos”.
Tudo começará a decidir-se já no próximo fim de semana.