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Inflação e custos da construção vão marcar 2022

Especialistas encaram o novo ano com otimismo, mas pedem estabilidade fiscal e legislativa para atrairem mais investidores. Economista acredita que só um “cataclismo político” nas eleições poderá desalinhar os “astros” do sector.

Apesar da instabilidade provocada pela pandemia e das estimativas apontarem para o volume de investimento comercial mais baixo desde 2016, o sector imobiliário acabou por mostrar-se resiliente no ano que agora termina e os especialistas encaram 2022 com otimismo, mas alertam para os perigos do aumento dos custos da construção e da subida da inflação, pedindo por isso que o próximo Governo tome medidas que possam captar mais investidores.

Mesmo com a já anunciada redução do IVA para 6% na construção a custos controlados, José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties, diz ao Jornal Económico (JE) que “apenas existem condições para um crescimento do investimento se os preços de construção baixarem”, e alerta para a necessidade de normalizar os “custos das matérias-primas, a disponibilidade de mão-de-obra e a redução importante e efetiva nos processos de licenciamento”. Um sentimento partilhado por José Carvalho, CEO do Grupo Omega, assumindo que existe uma “turbulência” com o aumento significativo dos preços e dos prazos de fornecimentos, da falta de mão de obra, da inflação e de um eventual agravamento das taxas de juro. “Mas o sector imobiliário é de uma grande inercia e depois de os projetos estarem em marcha, é difícil pará-los”, contrapõe.

Já o CEO do Ombria Resort, Júlio Delgado, diz ao JEque “o mercado imobiliário residencial e turístico foi o que mostrou maior resiliência durante este ano”. E Portugal continua a ser um dos países mais atrativos para estes investimentos, na Europa, salienta. no entanto, para que esta dinâmica se mantenha em 2022, pede uma “agilização dos processos e burocracias na relação das empresas e dos privados com o Estado”, dado que os “elevados tempos de resposta geram muitas dificuldades ao desenvolvimento de projetos imobiliários”.

Oeconomista António Nogueira Leite tem uma visão mais otimista. Ao JE, afirma que o sector “continua a ter um potencial de crescimento que é assinalável”, e que a nível macroeconómico o cenário central continua a ser de crescimento e de aumento dos rendimentos para as famílias e independentemente dos resultados eleitorais.

“A não ser que aconteça alguma catástrofe que ninguém está a antecipar, penso que o alinhamento dos astros é propício ao sector imobiliário”, sublinha. Ou seja, só “um cataclismo político ou se tomar conta um Governo que altere radicalmente para pior o cenário da fiscalidade sobre os imóveis”, poderá causar efeitos negativos ao sector, mas é algo que neste momento considera ser “pura especulação”.

Sobre os custos da construção, António Nogueira Leite admite que os empresários menos eficientes “não vão conseguir pôr produção nova no mercado enquanto esta situação se mantiver”. Isto porque “o aumento da energia, dos materiais e de toda uma série de outros custos associados – porventura até dos custos laborais – se isso vier a acontecer vai ter um impacto muito grande nos custos de construção. Aliás, já tem”, salienta.

No lado das consultoras, as perspetivas para 2022 são animadoras e existe a esperança de uma retoma dos volumes de investimento pré- pandemia. “Acho que é muito provável que para o ano possamos ter um ano equivalente aos de 2018 e 2019. Ainda é muito cedo para fazer essas estimativas, mas acho que o ano vai começar bem. Houve transações muito importantes que vão resvalar para 2022, o que significa que o novo ano começa com um pipeline muito forte”, referiu em recente entrevista ao JE, Pedro Lencastre, diretor-geral da JLL.

Já a consultora Savills admite nas suas previsões para 2022 divulgadas na quinta-feira, que o novo ano poderá trazer um volume de investimento em imobiliário comercial superior aos três mil milhões de euros, com base na recuperação do investimento estrangeiro e de operações que não ficaram concluídas em 2021.

“Apesar dos avanços e recuos da questão pandémica, o mercado imobiliário apresenta níveis de actividade que parecem ignorar a sua presença e a incerteza que nos traz no dia a dia, reflectindo-se em níveis de atividade que atingem máximos absolutos (investimento imobiliário na Alemanha) e outros que se afiguram aos níveis pré-Covid. Mantendo-se esta linha operativa, 2022, mesmo num quadro de incerteza política, irá trazer-nos, de uma forma genérica, uma melhoria nos níveis de actividade alcançados no mercado imobiliário em 2021”, diz Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal.

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