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Indústria química nacional precisa de 30 mil milhões para atingir carbono zero

Setor químico nacional pede estabilidade regulatória, mais apoios públicos ao CO2 ou eletricidade barata para promover investimentos rumo à descarbonização até 2050. Manter centros de Estarreja, Sines e Lisboa/Setúbal nas próximas décadas será crucial para a economia nacional.

A indústria química nacional precisa de investimentos de 30 mil milhões de euros até 2050 para se descarbonizar. Esta é a conclusão do Roteiro de Neutralidade Carbónica para a Indústria Química Portuguesa 2050 (RNCIQ).

O estudo da Associação Portuguesa da Indústria Química, Petroquímica e Refinação (APQuímica) destaca a necessidade de proteger e reforçar a competitividade do setor nacional para assegurar a manutenção dos clusters químicos de Sines, Estarreja e Lisboa/Setúbal nas próximas décadas.

Os 30 mil milhões de euros é o valor estimado para transformar os atuais processos produtivos que emitem gases de efeito de estufa (GEE) em processos carbono zero, como eletrificação, hidrogénio verde e outras gases renováveis e de baixo teor de carbono, economia circular e biomassa, captura, utilização e armazenamento de carbono.

"A descarbonização da economia até 2050 é mais do que uma meta, é um compromisso legal, tem força de lei na União Europeia", disse o presidente da APQuímica Luís Gomes.

O "ritmo de descarbonização mais acelerado" vai ter lugar entre 2030-2035, quando ocorre o pico. "Cada empresa vai escolher o seu próprio caminho, a sua própria tecnologia" para atingir o carbono zero.

Sobre os clusters químicos de Sines, Estarreja e Lisboa/Setúbal, defende que é "preciso manter estas empresas em Portugal. Estes clusters contribuem com resiliência para o tecido industrial do país".

As empresas do setor a atuarem em Portugal são "competitivas", exportando anualmente para 180 países. "Apesar de operarem num contexto desfavorável, competem com empresas de todos os grandes blocos económicos: China, EUA, Canadá ou Índia".

"Portugal até parece ser um país bastante competitivo nos custos de energia. Mas há PME onde os custos de energia chegam a pesar 60%-70% dos custos totais", aponta o responsável num encontro com jornalistas.

É atualmente o segundo maior emissor de GEE da indústria nacional, pesando 32% (química e refinação) apenas atrás do setor mineral (42%, vidro, cal, cimento e cerâmica).

O setor químico gera 17 mil milhões de euros de volume de negócios em Portugal, pesando 13% nas exportações nacionais de bens, exportando para mais der 180 países. Responsável por 52 mil empregos diretos e indiretos, investe em média mil milhões de euros por ano.

Para promover estes investimentos, o Roteiro pede previsibilidade regulatória em Portugal e na União Europeia, e também a garantia de existência de equilíbrio nas condições de mercado para evitar distorções, isto é, que alguns estados-membros recebam mais apoios europeus, por exemplo, do que outros. Outro dos apelos é o evitar a fuga de carbono para outros países, ou seja, que empresas que antes produziam na Europa vão produzir num país fronteiriço à UE, não sujeito às mesmas regras, e com liberdade para continuar a vender o mesmo produto à UE. O risco de deslocalização de unidades industriais para países com menos regras ambientais é outro dos alertas feitos pelo Roteiro.

A APQuímica (que conta com mais de 60 associados) também vai apresentar hoje em Estarreja aos ministros do Ambiente e da Energia e da Economia, o Estudo da Competitividade da Indústria Química, onde aponta que várias unidades industriais têm fechado na UE nos últimos anos, incluindo a Indorama em Sines, que fechou portas em março de 2025, e que exportava 550 milhões de euros por ano.

O Roteiro defende a integração de Portugal na Critical Chemicals Alliance que junta a Comissão Europeia, estados-membros e outras partes interessadas com o objetivo de reavivar a indústria química europeia. Uma das medidas é precisamente identificar unidades industriais críticas para o setor europeu. Na UE, este setor emprega 1,2 milhões de trabalhadores diretamente, gerando um volume de negócios anual de 655 biliões de euros.

Um dos temas críticos para o setor nacional é o acesso a eletricidade limpa e barata. Entre as medidas defendidas pelo Estudo para a Competitividade, encontram-se a recuperação do mecanismo ibérico do gás, e o 'Apoiar Gás' para lidar com a volatilidade de preços.

O setor exige também o reforço da compensação indireta do CO2, colocando-o em linha com outros países europeus. Por outro lado, uma das medidas defendida é a execução "com urgência" dos mecanismos previstos no Estatuto do Cliente Eletrointensivo. Outro ponto é o reforço das infraestruturas da rede elétrica e dos pontos de entrega/injeção para clientes industriais.