A indústria europeia continua em queda livre, pressionada por problemas do lado da oferta, mas também com fraquezas do lado da procura como raramente se têm visto nas últimas duas décadas. A Alemanha continua a ser o caso mais gritante, passando de motor industrial europeu ao Estado-membro com perspetivas mais negativas no sector industrial, mas a fragilidade é generalizada.
As leituras finais dos índices de gestores de compras (PMI) para a zona euro confirmaram a estimativa rápida de 43,4 para o sector secundário, ou seja, uma queda de 0,1 em relação aos 43,5 de agosto. O cenário é negativo, dado que valores abaixo de 50 indiciam uma esperada contração da atividade – uma situação que os PMI europeus têm verificado há largos e seguidos meses.
Apesar de melhor do que o mínimo de 38 meses registado em julho, com 42,7, o resultado de setembro marca o décimo quinto mês seguido de expectativas negativas no sector secundário, uma tendência sem fim à vista. Um dos principais fatores nesta equação é a queda sucessiva do número de novas encomendas, um sinal claro da fraqueza da procura interna e global.
Segundo a HCOB, responsável pelo inquérito privado, “o ritmo de queda [das novas encomendas] manteve-se dos mais abruptos na história de 26 anos” dos PMI, ao que os produtores responderam com “reduções de produção pelo décimo quarto mês em 16”. Não é, portanto, de estranhar que a produção industrial continue a cair, com o subindicador referente a esta dimensão a recuar novamente em setembro para 43,1 face aos 43,4 do mês anterior.
Recorde-se que os dados oficiais do Eurostat para a produção industrial na zona euro mostraram um recuo em cadeia de 1,1% em julho, interrompendo três meses de avanços. Na análise homóloga os resultados são menos positivos, com o indicador em terreno negativo há cinco meses seguidos, recuando 2,2% em julho. Para a semana serão conhecidos os dados de agosto, para os quais o mercado projeta novo recuo de 1,6%.
Outro sinal evidente da fraca procura que as fábricas europeias enfrentam foi a rapidez de resolução de entupimentos de encomendas, com setembro a trazer o ritmo mais elevado desde maio de 2020 nesta dimensão. Na mesma linha, o emprego tem vindo a recuar, com o mês em análise a reportar a maior queda em três anos.
Já os custos das empresas continuam a cair, mas menos rapidamente do que as expectativas de preço, à medida que o sector industrial europeu tenta recuperar competitividade. O ritmo de recuo nas previsões de preços de venda foi dos mais acelerados desde 2009.
Por país, as principais economias europeias mantiveram-se em terreno de contração da atividade, com a Alemanha a assumir o valor mais negativo, a par da Áustria. Argumenta Cyrus de la Rubia, economista chefe da HCOB, “França e Alemanha lideram a corrida para o fundo” do ranking, enquanto “Itália e Espanha vão atravessando com menos mazelas”.
Ainda assim, e “considerando a duração deste recuo, Itália apresenta a pior performance, dado que o sector secundário está envolvido numa recessão desde a segunda metade de 2022”. De seguida na lista de preocupações surge a Alemanha, que vive já em recessão, enquanto franceses e espanhóis mantêm uma janela para evitar cair na mesma situação.
EUA volta ao crescimento industrial
Do outro lado do Atlântico, os EUA voltaram a surpreender pela positiva, mostrando uma resistência acima da europeia ao aperto monetário. O PMI referente à indústria norte-americana foi revisto em alta e, apesar de continuar em terreno de contração, aproxima-se bastante da barreira dos 50 pontos.
O indicador foi revisto em alta para 49,8 em relação aos 48,9 da estimativa rápida para setembro, o que representa uma subida assinalável dos 47,9 registados em agosto. O PMI aproxima-se assim de valores consistentes com o crescimento do sector, colocando para trás os dias mais complicados de maio e junho.
As encomendas continuam em rota de redução, mas a um ritmo bastante mais lento do que em agosto, tal como as encomendas para exportação. Tal sinaliza uma ligeira recuperação do sentimento dos consumidores, o que também ajuda a explicar os esforços de contratação e expansão da força laboral das fábricas norte-americanas.
Fruto desse crescimento do emprego, a produção também voltou a crescer, embora a um ritmo marginal. É, no entanto, um resultado a destacar dada a tendência de queda do output nos últimos meses, com o crescimento registado em setembro a ser o mais elevado das últimas cinco leituras. Em linha com esta evolução, a confiança dos empresários tocou máximos de abril de 2022, espelhando um otimismo contido quanto à melhoria do consumo.