Skip to main content

Ilhas Kinmen: a linha da frente de Taiwan contra uma possível invasão chinesa

Desde 1949, as Ilhas Kinmen são objeto de disputa entre a China e Taiwan, que as controla. A guerra na Ucrânia transmitiu aos seus habitantes um mundo novo: o da iminência da guerra. O arquipélago está 10 quilómetros da China e a 200 de Taiwan.

Na sequência das tensões provocadas pela visita da presidenta da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan, no início de agosto de 2022, um drone chinês foi abatido pela primeira vez em território do arquipélago ‘rebelde’. Não na ilha de Taiwan propriamente dita, mas do outro lado do Estreito, junto a um pequeno arquipélago quase incrustado na costa chinesa: Kinmen.

O arquipélago é formado por doze ilhas, das quais apenas duas – a ilha de Kinmen propriamente dita (134 km²) e a ilha de Lieyu (13 km²), conhecida como Little Kinmen – abrigam toda a população civil, que está entre os 50 mil e os 60 mil habitantes.
Nas últimas décadas, as relações pacíficas (mesmo que pontualmente tensas) entre os dois vizinhos deixaram a população em paz. E longe dos holofotes da comunicação social. Mas, segundo os analistas, o aumento da tensão e também o exemplo do que se passou entre a Rússia e a Ucrânia, transformaram a vida dos habitantes num permanente estado de ansiedade: a guerra pode estar por perto.
É que vários analistas têm dito que Pequim pode optar por avançar para algo semelhante ao que sucedeu na Crimeia em 2014: uma anexação de uma parte de Taiwan que não corresponde ao grosso do seu território e que era tradicionalmente pertença da China continental. Uma movimentação militar para o arquipélago permitiria testar (mais uma vez como sucedeu com a Crimeia) se a vontade do ocidente em defender Taiwan existe mesmo ou é pura retórica dos ‘duros’ de Washington da NATO e da Comissão Europeia.

Uma reportagem da Ala Jazeera veio chamar a atenção para a sua delicada situação geográfica e para o facto de, se a tensão entre a China popular e Taiwan crescer, o território poder ser considerado muito valioso do ponto de vista militar. O arquipélago é “um pequeno peixe num mar de tubarões”, como a caracterizam agora os seus poucos habitantes.

As Ilhas Kinmen foram durante décadas uma zona de veraneio usada tanto pelos turistas chineses como pelos habitantes de Taiwan. Mas tudo isso parece ter mudado: a China deixou de ver com bons olhos a ida de turistas para o arquipélago – o que serviu para amedrontar ainda mais os seus habitantes. Os arranha-céus da metrópole chinesa de Xiamen (quatro milhões de habitantes), a menos de 10 km de distância através da baía com o mesmo nome (e a 200 km de Taiwan), continuam bem à vista de Kinmen, mas quem olha para lá está agora mais preocupado com caças bombardeiros e barcos da marinha de guerra chinesa.

Após o fim da guerra civil chinesa em 1949 (com a vitória de Mao Tsé-tung e a derrota de Chiang Kai-shek, que se refugiou em Taiwan), o arquipélago de Kinmen foi transformado na linha de frente entre a China e Taiwan. Ao longo dos anos, Taiwan transformou o arquipélago numa fortaleza militar, a primeira linha de defesa e uma testa de ponte para novas incursões contra o exército popular de Mao. Mas a verdade é que, apesar de algumas escaramuças (em 1949, 1954-1955 e 1958), os combates foram desparecendo e a vida normalizando (apesar de a lei marcial ter estado em vigor desde 1951 até 1992.

O estranho status quo foi-se mantendo e não houve novos embates a partir de 1979, quando Pequim decidiu deixar os nacionalistas em paz em Taiwan – em paz, mas não independentes, como ficou sempre claro. Mas tudo isso pode ser apenas história. Com a guerra da Ucrânia – e com o facto de o ex-presidente Donald Trump ter declarado a China como o principal inimigo dos Estados Unidos a partir de 2018 – tudo pode mudar em pouco tempo. E os seus habitantes, como demonstra a reportagem da cadeia de notícias do Qatar, têm muito bons motivos para estarem preocupados.