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Hamas diz aceitar acordo proposto pelo Qatar de cessar-fogo em Gaza

A suspensão de hostilidades inclui a troca de reféns, aumento da ajuda humanitária e retirada das tropas israelitas das partes residenciais. O acordo parece mais próximo do que nunca, isto apesar da objeção dos membros mais radicais do governo israelita, que ameaçam quebrar a coligação que suporta Netanyahu.

Após os avanços recentes nas negociações entre Israel e o Hamas em Doha, no Qatar, o movimento palestiniano já terá aceitado as condições propostas pelos mediadores internacionais, segundo os seus representantes. Do lado israelita, os sinais também são positivos, apesar das palavras de alguns membros do governo, dando esperança num acordo antes da tomada de posse de Donald Trump, no próximo dia 20.

O acordo proposto passa, numa primeira fase, pela libertação de 33 reféns ainda detidos na Faixa de Gaza durante um período de seis semanas, incluindo mulheres, menores de idade, pessoas acima de 50 anos e feridos ou doentes. Em troca, Israel libertará um número não especificado de detidos palestinianos, com vários órgãos de comunicação social a apontarem para mais de mil libertações, com prioridade dada a mulheres e menores.

Além destes, e numa fase posterior, 47 palestinianos detidos em 2011 e subsequentemente presos novamente serão libertados, enquanto 22 outros condenados a prisão perpétua serão exilados para o Qatar, Turquia ou Egito.

A primeira fase incluirá ainda a retirada das forças israelitas de partes atualmente ocupadas na Faixa, sobretudo o norte do enclave, que está cercado há mais de 100 dias, sem entrada de qualquer ajuda humanitária. Os civis destas zonas poderão regressar às suas casas – ou ao que restar delas, dado que a maior parte da infraestrutura de Gaza foi danificada ou completamente destruída. No entanto, a presença do exército no Corredor Philadelphi, que separa Gaza do Egito, deverá permanecer, naquele que era um dos aspetos mais sensíveis e geradores de discórdia entre os dois lados.

Além da suspensão dos combates, as atividades militares aéreas israelitas, incluindo de reconhecimento, estarão limitadas a 10 horas por dia. A ajuda humanitária a entrar no enclave será finalmente autorizada, sendo definido um objetivo de 600 camiões diários, incluindo 50 de combustível.

O acordo surge após largos meses de avanços e recuos, troca de acusações de ambos os lados e frustração por parte dos mediadores, que ameaçaram várias vezes abandonar as conversações, dada a falta de vontade das duas partes em ter posturas construtivas. Os detalhes da segunda fase, que deverá acabar com a violência na Faixa, deverão começar a ser limados ao fim de 16 dias de implementação do acordo.

Na mesma linha, o ministro israelita da Segurança Interna, Itamar Ben-Gvir, revelou esta segunda-feira ter sucessivamente bloqueado qualquer acordo para a libertação dos reféns em Gaza, algo que vários órgãos de comunicação social locais vinham reportando há alguns meses. O líder do partido Poder Judaico, da extrema-direita ultraconservadora, usou a sua plataforma na rede social X para exaltar o seu parceiro de coligação Bezalel Smotrich, ministro das Finanças e líder do Partido Nacional Religioso – Sionismo Religioso, para boicotar o que chama de “acordo de rendição”.

A posição de Ben-Gvir gerou uma forte reação das famílias dos reféns, que o acusaram de privilegiar a sua posição política em detrimento das vidas dos cidadãos ainda em Gaza.

Apesar desta postura, os líderes das agências de segurança israelitas, incluindo o Mossad e o Shin Bet, estão em Doha, um sinal de que o governo de Netanyahu estará, pelo menos, a considerar a proposta apresentada. Yair Lapid, a principal face da oposição ao atual pacto governativo, diz-se disponível para conferir a estabilidade necessária.

Em sentido inverso, Joe Biden elogiou a proposta apresentada pelos qataris, que contou com a colaboração dos enviados da atual administração para a política externa e dos futuros, já nomeados por Trump, numa rara cooperação entre administrações cessantes e futuras nos EUA. O ainda presidente destacou o aumento da ajuda humanitária para os palestinianos e a libertação dos reféns ainda vivos, incentivando à sua adoção.

Por sua vez, Anthony Blinken, o responsável da Casa Branca pela pasta dos negócios estrangeiros, colocou a bola do lado do Hamas, como fez repetidas vezes no passado. Ainda assim, o responsável pela política externa norte-americana teve palavras duras para os líderes israelitas, pedindo-lhes que “abandonem o mito de que podem levar a cabo uma anexação de facto sem custos nem consequências para a sua democracia”.

“O governo de Israel tem sistematicamente minado a capacidade e legitimidade da única alternativa viável ao Hamas, a Autoridade Palestiniana (AP)”, afirmou Blinken numa sessão do Conselho Atlântico esta terça-feira, lembrando as centenas de milhões de dólares que Telavive apreendeu à AP em receitas fiscais.

“Os israelitas têm de decidir que relação querem ter com os palestinianos e deixar de lado a ilusão de que estes aceitarão ser um não-povo sem direitos nacionais”, acrescentou.

Já Donald Trump voltou a usar das ameaças, prometendo que “haverá muitos sarilhos” caso este acordo não seja firmado. Ainda assim, o sinal que recebeu vindo dos seus enviados à região é que “houve um aperto de mão e agora estão a limar arestas”, dando mais indícios de que uma suspensão das hostilidades poderá estar perto.