Os conselheiros russos vão continuar a trabalhar com as forças da República Centro-Africana, mas as operações do Grupo Wagner que ali estão em curso são geridas separadamente em relação à organização militar privada, disse o Kremlin. Desde 2018 que centenas de agentes russos, incluindo muitos do Grupo Wagner, têm ajudado o governo local a combater insurgências rebeldes contra o presidente Faustin-Archange Touadera.
Em declarações públicas, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, disse que o envolvimento de elementos do grupo de Wagner naquele país africano “como instrutores (...) continuará” e que os acontecimentos do passado fim-de-semana não afetarão as relações entre Moscovo e os seus parceiros e aliados exteriores.
Da República Centro-Africana chegam declarações veiculadas pela France-Presse segundo as quais com a ministra e conselheira presidencial Fidèle Gouandjika disse que o país tem em vigor “um acordo de defesa com a Rússia e não com o grupo Wagner. Moscou subcontratou a Wagner e, se a Rússia não concordar, enviar-nos-á um novo contingente” para substituir os mercenários. Será de recordar que, tanto naquele país como no Burkina Fase e no Mali, os militares do grupo Wagner foram repetidamente acusados de múltiplas violações dos direitos humanos.
Entretanto, uma das linhas de força da resposta do Kremlin aos acontecimentos do passado fim-de-semana parece ser a de levar o sucedido para a área dos negócios que correram mal. É pelo menos essa a perceção que os analistas retiram do facto de o governo russo se ter preocupado em apresentar uma espécie de ‘relatório & contas’ da ligação entre as duas partes.
O governo russo garantiu totalmente o financiamento da Wagner Private Military Company (PMC), disse o presidente Vladimir Putin numa reunião com militares do Ministério da Defesa, citado pela agência russa TASS.
“Quero registar e quero que todos saibam que o financiamento de todo o grupo Wagner foi totalmente assegurado pelo Estado”, disse. “Financiámos totalmente esse grupo através do Ministério da Defesa, do orçamento do Estado", acrescentou.
E especificou: de maio de 2022 a maio de 2023, só o Estado destinou 86,2 mil milhões de rublos (cerca de mil milhões de dólares) ao PMC Wagner na forma de salário aos combatentes e de recompensas e incentivo, observou o presidente. “Desse montante, as remunerações corresponderam a 70,38 mil milhões de rublos e a as recompensas e incentivo totalizaram 15,87 mil milhões. Os pagamentos de seguros totalizaram 110,17 mil milhões de rublos (cerca de 1,3 mil milhões de dólares”.
Ao mesmo tempo, a dona da Wagner, a empresa Concord, recebeu 80 mil milhões de rublos (cerca de 940 milhões de dólares) do Estado no último ano para fornecer serviços de alimentação ao exército, acrescentou Putin. "O Estado garantiu totalmente o financiamento do grupo Wagner, enquanto uma parte desse grupo, essa empresa Concord, ganhou 80 mil milhões de rublos durante o mesmo período”.
Ainda segundo a TASS, Vladimir Putin disse que esperar “que ninguém tenha roubado nada durante estas atividades ou, digamos, roubado pouco”. “Vamos obviamente analisar tudo isto, concluiu.