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Geórgia vai a votos e reserva mais uma derrota para a União Europeia

Depois do referendo na Moldávia, que correu muito mal para as pretensões da União Europeia, seguem-se agora eleições legislativas na Georgia, onde o partido Sonho Georgiano, pró-russo, deve sair vitorioso, o que sucede desde 2012.

Por uma qualquer razão que nunca se explica, a União Europeia convenceu-se que a Moldávia e a Geórgia, duas antigas repúblicas soviéticas, estariam determinadamente na rota de aproximação aos 27 – e que a sua entrada seria apenas uma questão de tempo e de oportunidades política. Terá sido por isso com alguma surpresa e certamente com muito desconforto que o referendo do passado fim-de-semana, que perguntava aos moldavos se queriam entrar na União Europeia, acabou com uma curtíssima vitória do ‘sim’ (50,4%). É verdade que é uma vitória, mas está muito longe dos pré-anunciados 60% (era o resultado mínimo indicado pelas sondagens) e retira capacidade política aos dois lados das negociações.

Segue-se agora a Geórgia, que tem eleições legislativas marcadas para o próximo sábado, e de onde sairá, segundo as sondagens, a vitória do partido Sonho Georgiano, uma formação populista e eurocética. Há, evidentemente, a interferência da Rússia em várias áreas – mas talvez fosse conveniente que a Europa encontrasse outra explicação para as suas derrotas políticas. É de recordar que a ‘longa mão’ do Kremlin é insistentemente apontada como responsável pelas derrotas de todos partidos pró-europeus na Europa, para além de ter sido responsabilizada pela vitória de Donald Trump em 2016. Talvez nem o Kremlin possa tanto!

O que sucede, dizem alguns comentadores, é que – para além da influência milenar da Rússia naquelas geografias, sendo certo que o mundo eslavo é complexo e conflituoso – é que a União Europeia tem demonstrado fortes reticências e ações muito titubeantes face à entrada de novos membros como países de pleno direito (a lista é grande: Turquia, Ucrânia, Balcãs Ocidentais) e apresentado exigências que podem ser consideradas, com alguma facilidade, pura ingerência em assuntos internos. Claro que os países aderentes podem não aderir, dir-se-á, mas talvez a União não esteja a fazer tudo para fortalecer a sua posição relativa no globo. Como fica demonstrado pelo que aconteceu em Kazan, na Rússia, estes dois últimos dias, outros estão a fazê-lo.

O partido Sonho Georgiano tem uma agenda que tornará difícil a adesão à União. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que, apesar do resultado do referendo na Moldávia, Bruxelas seguirá em frente com as negociações para a entrada no bloco – mas falta saber se, depois de sábado, terá na Geórgia alguém que a queira ouvir.

Contudo não há qualquer dúvida sobre a influência russa: há poucos meses, o país aprovou legislação restritiva inspirada em Moscovo, a organizações não governamentais financiadas pelo Ocidente, aos media e à comunidade LGBTQ. Agora, o Sonho Georgiano diz que, se tiver votação expressiva suficiente, quer banir toda a oposição – o que por certo não desagradaria ao georgiano mais conhecido de sempre, José Estaline.

O Sonho Georgiano, liderado por Irakli Kobakhidze, está no poder desde 2012, mas perdeu terreno desde as eleições de 2020. O maior partido de oposição, o Movimento Nacional Unido (UNM), sofreu divisões internas, mas, mesmo assim, vários partidos da oposição conseguiram criar coligações informais para formarem listas eleitorais conjuntas, Unidade - Movimento Nacional, Geórgia Forte e Coligação para a Mudança foram alguns deles. Toda a oposição concordou em não apoiar nem cooperar com o Sonho Georgiano para um governo de coligação. Para além de tentar manter-se em paz com o Kremlin (a guerra de 2008 ainda está presente), o partido também tem realizado uma aproximação à China – e apesar de em tempos ter dito que podia aceitar a adesão à União, esse objetivo parece ter-se dissipado.

Ao contrário, a oposição quer uma rápida adesão à União e à NATO, tendo mesmo assinado um memorando "para defender e proteger o caminho da Geórgia para a integração europeia". A União concedeu à Geórgia o estatuto de candidata à adesão em dezembro passado, mas congelou a decisão (em julho) e já este mês suspendeu fundos que deveriam ser enviados pata Tbilissi, a capital: foram 121 milhões de euros em assistência que não chegaram a ser transferidos, como resultado do “retrocesso democrático", dizia Bruxelas em comunicado.