O Fundo de Capitalização e Resiliência, financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e com uma verba inicial de 1,3 mil milhões de euros, tem ainda 1.1 mil milhões de euros para investir em empresas nos próximos dois anos, sendo que até ao final de novembro tinham sido investidos 130 milhões de euros.
A revelação é de Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR, em entrevista exclusiva ao JE, no âmbito da realização da segunda edição da conferência Madeira Blockchain que decorreu no final da semana passada no Funchal.
Esta segunda edição propôs-se a fazer uma “imersão profunda na intersecção entre tecnologia blockchain e cibersegurança” com um painel de 30 oradores e uma gama diversificada de keynotes, mesas redondas e workshops, todos dedicados a um objetivo: a exploração das aplicações multifacetadas dessa tecnologia no mercado contemporâneo.
Note-se que, no que diz respeito ao Fundo de Capitalização e Resiliência, e de acordo com informação disponibilizada pelo Governo, este instrumento visa "recapitalizar as empresas mais afetadas pela crise pandémica e outras que possam ter possibilidade de desenvolvimento, crescimento ou consolidação".
“Temos muito dinheiro para colocar no mercado mas precisamos de projetos com maturidade e potencial e alicerçados em modelos de negócio que respondam a necessidades de mercado. No caso português, isso tem que ser feito até ao final de 2025”, começou por explicar este responsável ao JE.
Em termos de investimento e de acordo com os números aferidos até ao final de novembro, Pedro Dominguinhos revela que “foram investidos 130 milhões de euros; portanto, há 1,1 mil milhões de euros (por parte do Banco de Fomento) para investir durante dois anos, algo que para o mercado português é particularmente significativo: estamos a falar de 550 milhões em cada um dos anos que falta para cumprir este programa. E não são apenas 550 milhões de euros porque depois os privados têm que meter parte do capital”.
No que diz respeito às verbas do PRR destinadas à inovação das empresas portuguesas, Pedro Dominguinhos detalhou que “estamos a falar de cinco mil milhões de euros direcionados às agendas mobilizadoras com incentivos de três mil milhões de euros com investimentos na ordem dos 7,7 mil milhões de euros. E isto tem um efeito multiplicador de dois e meio: por cada euro investido pelo estado, estamos a gerar investimento na economia 2,5 vezes maior”, destacou.
Este responsável explicou ao JE que a linha de 1,3 mil milhões de euros de fundos ou capitalização estratégica “em que o Banco de Fomento investe com um co-investidor em empresas, é dedicada a empresas que se queiram internacionalizar, que queiram implementar uma nova linha produtiva, que estão em reestruturação”.
“Temos um outro programa cujos fundos são PRR mas que são geridos por intermediários financeiros, basicamente capitais de risco. Já está contratualizado investimento com onze entidades que já estão no mercado a fazer investimento. Até final de novembro, já investiram uma parte do seu capital com 70% do Banco de Fomento nessas mesmas empresas e até ao final deste ano vão ser assinados 14 contratos com mais empresas de capitais de risco para seed, pré-seed e scale up. Este universo tem aqui um potencial muito grande”, detalhou.
O coordenador desta Comissão de Acompanhamento do PRR sublinha que, neste caso, “estamos a falar de consórcios que têm de ser liderados por uma empresa que lancem novos produtos e serviços no mercado. Temos uma agenda relevante associada à Inteligência Artificial, na área da saúde, o fabrico de um novo avião a partir de Portugal, construção de vagões para a ferrovia, projetos relacionados com hidrogénio para a transição verde. Vamos também produzir satélites para tratar de um problema exigente relacionado com o lixo espacial”, explicou.
Desafio às tecnológicas
Mais concretamente no que diz respeito às tecnológicas nacionais e aos profissionais que estão a fazer crescer este ecossistema, Pedro Dominguinhos enalteceu “o conjunto muito talentoso de engenheiros, de profissionais com uma forte capacidade tecnológica e que acima de tudo estão a desbravar novos caminhos, sobretudo na interligação entre diferentes campos de saber”. No entanto, este responsável deixa o aviso relativamente ao que será o crescimento deste sector em Portugal: “Não é apenas a tecnologia, é a tecnologia com impacto. Talvez seja esse um dos grandes desafios que tem de ser ultrapassado”.
“Para quem não é especialista, quando nos falam de blockchain associamos a bitcoin e a uma fase que foi interessante no início mas, face aos casos que vivemos ultimamente, tem conotações que não são as mais positivas”, sublinhou o presidente da Comissão de Acompanhamento do PRR. Pedro Dominguinhos destaca que “hoje, a comunidade de blockchainers está a desenvolver quer aplicações quer modelos de negócio que estão e podem causar um grande impacto na comunidade em temáticas como a segurança, saúde, espetáculo, entretenimento. Há aqui um desafio que me parece relevante que é perceber qual é o impacto que este movimento pode criar”.
Tecnologia e capital de risco
Para o coordenador da Comissão de Acompanhamento do PRR, é “particularmente importante” perceber como é que o tecido tecnológico em Portugal se conjuga com as sociedades de capital de risco. “Estas sociedades trazem capital mas também trazem conhecimento de gestão, networking, acesso a outro capital e as outras pessoas em termos de competência de gestão. Portanto, não é um mero “angel” mas sim uma entidade que potencia recursos que aportam valor e podem catapultar estas startups para modelos de negócio robustos. Estamos a falar de negócios que, pela sua natureza, são globais”, considera Pedro Dominguinhos.
Quanto à questão da regulamentação, este responsável considera que há aqui “desafio adicional”: “A Comissão Europeia está a trabalhar nesta área e a aconselhar-se com um conjunto de peritos para que consigamos ter uma moldura legislativa global. Depois há a questão fiscal de tudo isto: são transações que envolvem muitos milhões de dólares e a parte fiscal ainda está por tratar. Parece-me que nesta fase, precisamos desses tradutores”.