O presidente francês falou esta terça-feira da crise interna profunda à margem da sua visita à Arábia Saudita e, sobre o assunto dos pedidos de renúncia da oposição, considerou que "é ficção política". As duas moções do RN e da esquerda serão discutidas esta quarta-feira às 16 horas locais (15 horas de Lisboa) na Assembleia Nacional, e a votação ocorrerá depois disso.
Emmanuel Macron fecha assim as portas a qualquer renúncia da sua parte, contrariando vários políticos e diversos analistas, que consideram que o presidente já não tem margem de manobra para continuar à frente do país. Desde que Macron decidiu dissolver a Assembleia na sequência do desastre eleitoral do seu partido nas eleições parlamentares de junho passado, tem estado sob pressão. A vitória da extrema-direita nas eleições antecipadas seguintes – só ultrapassada por uma coligação de esquerda que não teria continuidade parlamentar – e o espectro do tripartidarismo na Assembleia fizeram ainda mais estragos ao presidente.
Pior ainda, sendo a frente externa um palco especial para Macron, também ele acabou por escurecer face aos resultados eleitorais que se manifestaram no Parlamento Europeu em junho: com a exceção dos portugueses da Iniciativa Liberal, os liberais europeus saíram derrotados.
O presidente disse, citado pelo “Le Monde”, ainda que "não posso acreditar no voto de desconfiança" ao governo de Michel Barnier, e acrescentou que "confiava na coerência do povo". "A minha prioridade é a estabilidade", disse o chefe de Estado, e a União Nacional seria "insuportavelmente cínica" se votasse a favor da moção apresentada pela esquerda, "que insulta os seus eleitores". O Partido Socialista, e em particular o ex-presidente François Hollande, mostraria uma "completa perda de rumo" ao votar pela censura.
O presidente francês também disse que "as pessoas não devem ter medo", evocando o risco de uma crise financeira. "Temos uma economia forte", afirmou. "A França é um país rico e sólido, que fez muitas reformas e que as está a manter, que tem instituições estáveis e uma Constituição estável", disse.
Voltando aos pedidos de renúncia que o visam, Emmanuel Macron acredita que isso é "ficção política" e garante que nunca pensou em deixar o Palácio do Eliseu antes do final do seu mandato em 2027. "Não faz sentido", disse o presidente da República. "Acontece que, se estou diante de vocês, é porque fui eleito duas vezes pelo povo francês. Estou extremamente orgulhoso disso e honrarei essa confiança com toda a energia que tenho até o último segundo para ser útil ao país", acrescentou.
Entretanto, o governo dramatiza: se aceites, a moção – ou as moções – equivaleria a "correr o risco de desacelerar consideravelmente o rearmamento, num momento em que o resto do mundo não estará à nossa espera", disse o ministro das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, citado pela imprensa. "A simples renovação de um orçamento para 2024 significa uma perda líquida de 3,3 mil milhões de euros para as forças armadas" e um orçamento militar que "não chegaria a 50 mil milhões no próximo ano", afirmou.
Em particular, existe o risco de um "atraso" no lançamento do porta-aviões de nova geração (PANG), destinado a suceder ao Charles-de-Gaulle. "Se atrasarmos o pedido do PANG, podemos acabar com vários anos sem um porta-aviões", disse. Seria "um choque de confiança" que afetaria a indústria da defesa: "estamos a falar sobre economia de guerra há dois anos, estamos a pedir a essas empresas que produzam mais rápido, que confiem no nosso rearmamento. E agora vamos dizer-lhes que pode não haver orçamento para o próximo ano?" perguntou.
Bem menos dramáticos estão os investidores: só esta terça-feira, a Bolsa de Valores de Paris ganhou 0,26% e o principal índice, o CAC 40, ganhou 18,53 pontos, terminando em 7.255,42 pontos. No dia anterior, o índice tinha avançado apenas 1,78 pontos.