“Qualquer mobilização militar na zona de separação entre Israel e Síria é uma violação do acordo de retirada de 1974”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de França, exigindo que o governo de Benjamin Netanyahu pare de imediato as incursões – constantes nos últimos dias – sobre o território sírio, e que já chegaram à capital, Damasco.
O primeiro-ministro ordenou ao exército que tomasse a zona desmilitarizada na parte controlada pela Síria nas Colinas de Golã, depois de os rebeldes terem tomado o poder ao presidente sírio Bashar al-Assad.
“A França pede que Israel se retire da zona e respeite a soberania e a integridade territorial da Síria”, disse o ministério francês – num ato claro de recusa de aceitar as investidas de Israel, com a maioria das restantes chancelarias relevantes sem tomar uma posição firme do mesmo calibre. Com a exceção da ONU, que já alertou Israel para a evidência da violação do acordo que encerrou a guerra de 1973 entre a Síria e o Estado hebraico.
A intervenção da França segue condenações da Arábia Saudita, do Irão, da Rússia e da Turquia – e é bastante mais vincada que o tímido apelo dos Estados Unidos para que a incursão israelita seja "temporária".
Para os analistas, Netanyahu está a tentar construir uma narrativa favorável ao envio de militares para as os Montes Golã ocupados. O primeiro-ministro israelita disse, durante uma visita à fronteira no passado domingo, que o Acordo entre Israel e a Síria de 1974, que pôs fim à Guerra do Yom Kippur, “entrou em colapso”.
Desde domingo, Israel atacou na Síria locais onde supostamente existem armas químicas e mísseis de longo alcance, para evitar que caíssem nas mãos de "atores hostis", como disse o ministro das Relações Exteriores do país. "O único interesse que temos é a segurança de Israel e dos seus cidadãos", disse Gideon Saar. "É por isso que atacamos sistemas de armas estratégicas, como, por exemplo, armas químicas ou mísseis de longo alcance, para que não caiam nas mãos de extremistas."
Israel realizou centenas de ataques aéreos na Síria nos últimos anos, visando o que diz serem locais militares relacionados com o Irão e o Hezbollah, ambos aliados próximos do presidente deposto Bashar al-Assad. Recorde-se que a Síria concordou em destruir as suas armas químicas em 2013, depois de o governo ter sido acusado de lançar um ataque perto de Damasco que matou centenas de pessoas. Mas os observadores acreditam que al-Assad tenha mantido algumas dessas armas, tendo mesmo sido acusado de as ter usado novamente nos anos seguintes.
Saar disse que os ataques na Síria são “uma medida limitada e temporária que tomamos por razões de segurança". Mas não foi isso que disse Benjamin Netanyahu, que anunciou que ordenou ao exército que "assumisse o controlo" da zona desmilitarizada após a queda de al-Assad. "Tropas terrestres estão envolvidas em combates em quatro frentes: na Judeia e Samaria [conhecida internacionalmente por Cisjordânia], em Gaza, no Líbano, e no território sírio", disse ainda o ministro das Relações Exteriores.