Portugal apresentou um dos crescimentos homólogos mais exuberantes da OCDE no segundo trimestre, mas em cadeia estagnou, deixando a economia nacional para o meio da tabela dos Estados-membros da organização. O enquadramento internacional não ajuda, com as principais economias europeias a perderem fôlego, mas o fraco trimestre nacional não deve colocar em causa os objetivos de crescimento para este ano.
A economia nacional avançou 2,3% em comparação com igual trimestre do ano passado, o sexto país com a melhor performance na OCDE. Olhando para o bloco, o seu PIB cresceu 0,5% em termos homólogos, sublinhando bem a magnitude do crescimento português. Por outro lado, Portugal estagnou em cadeia, o que fica atrás dos 0,4% para o grupo como um todo e deixa a economia nacional no meio da tabela.
A zona euro apresenta fragilidades, com as suas principais economias em sub-rendimento, mas conseguiu escapar à estagnação com um avanço de 0,3% em cadeia no seu PIB, ao contrário da UE como um todo, que não apresentou variação. Em comparação com o segundo trimestre de 2022, a moeda única viu o seu PIB crescer 0,6%.
Estes resultados não diferem muito das mais recentes divulgações do Eurostat para a economia europeia e do INE para Portugal, que apontavam já a estagnação do segundo trimestre. Na comparação homóloga, os 2,3% divulgados pela OCDE coincidem também com os números avançados pelo INE.
António Nogueira Leite, economista e professor universitário, mostra-se pouco surpreendido com os resultados, que, na sua opinião, não colocam em causa o objetivo de crescimento do Governo de 1,8% que consta do Programa de Estabilidade 2023-2027 e, entretanto, revisto pelo Ministério das Finanças para cerca de 2,7% em 2023.
“Os números não são surpreendentes, embora venham pôr alguma água na fervura de um certo otimismo exagerado que existia nalguns analistas e comentadores”, começa por referir. “Devem ser encarados com naturalidade. Não é possível Portugal estar a crescer sustentadamente muito acima dos outros países sem nada de especial a acontecer no país e dependendo de uma conjuntura externa muito pouco aquecida”, explica.
Os problemas na zona euro não são novos, mas os sinais de perigo têm-se adensado nas últimas semanas, com inquéritos privados e indicadores de confiança em terreno negativo. Com a Alemanha em recessão, Itália em risco de se juntar e Espanha ameaçada pela indefinição política, o comércio internacional português pode sofrer com a dinâmica, mas Nogueira Leite confia nas projeções existentes.
“[Os números] Apontam para um crescimento no final do ano que não deve ser muito diferente daquilo que são as projeções em cima da mesa”, continua, porque estas projeções já “têm de alguma forma incorporada a performance que temos agora e a expectativa para o final do ano”.
A Alemanha é um fator de risco, mas há um processo ao qual a Europa não pode fugir, que terá custos e para o qual a guerra da Ucrânia não serve de justificação: a desglobalização.
“Parte desses custos refletem-se em menos crescimento, portanto não vamos ter grande crescimento durante os próximos anos, não é de esperar algo exuberante. Tudo depende de um contexto de estratégias dos diferentes blocos que, por enquanto, ainda não estão bem cimentados”, argumenta.