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FMI deixa avisos a Lagarde e a Powell: cuidado com os cortes das taxas de juro

BCE e Fed devem “evitar cortar muito cedo ou muito rápido”, avisou a diretora-geral do Fundo, perante os riscos de uma nova subida da inflação. BCE reúne-se esta semana pela segunda vez este ano.

A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) deixou um aviso aos principais bancos centrais: cuidado com os cortes das taxas de juro.

Kristalina Georgieva considera que existe o risco de cortes muito cedo ou muito rápidos deitarem por terra todo o trabalho anterior feito no combate à inflação.

“Os banqueiros centrais estão focados corretamente em terminar o trabalho de colocar a inflação de novo na meta. Isso é especialmente importante para as famílias pobres e países com baixo rendimento que foram disproporcionalmente atingidos por preços elevados”, disse a diretora-geral do FMI.

“Mas o progresso na redução da inflação significa que a questão de quando e quanto no alívio das taxas de juro vai ser necessário ter em conta pelos principais bancos centrais este ano”, acrescentou.

“À medida que a inflação principal permanece elevadas em muitos países, os riscos de subida da inflação permanecem, e os decisores devem monitorizar atentamente a inflação subjacente e evitar cortar muito cedo ou muito rápido”, segundo Kristalina Georgieva em texto publicado no blog do FMI na semana passada.

A mensagem da responsável máxima do FMI foi transmitida antes da segunda reunião do ano do Banco Central Europeu (BCE) que vai ter lugar na quinta-feira e a da Reserva Federal norte-americana que acontece no dia 20 de março.

No caso da zona euro, em janeiro o FMI reviu em baixa a previsão para o crescimento económico este ano: 0,9%, menos 0,3 pontos face à previsão anterior. Já a economia global deverá crescer 3,1% (-0,2% face à estimativa anterior).

O corte foi resultado das revisões do crescimento das duas maiores economias do euro: a Alemanha (de 0,9% para 0,5%) e a França (de 1,3% para 1%).

“O crescimento económico deverá ter sido mais mais forte do que o esperado na segunda metade de 2023 nos Estados Unidos e em várias grandes economias emergentes e em desenvolvimento”, segundo o FMI.

No caso da zona euro, o Fundo destaca o “crescimento subjugado da zona euro, refletindo o sentimento fraco do consumidor, os efeitos duradouros dos preços elevados de energia e a fraqueza no investimento nos negócios e na produção”.

Em 2023, a economia da zona euro cresceu muito ligeiramente (+0,1%), com crescimento negativo no terceiro trimestre (-0,1%) e mantendo-se estável (0%) no quarto trimestre, escapando por pouco a uma recessão técnica.

A inflação na zona euro recuou para 2,6% em fevereiro (2,3% em Portugal), muito longe do pico de 10,6% registado em outubro de 2022, depois da crise energética na Europa, causada pela invasão russa da Ucrânia, ter feito disparar os preços da energia. Em dezembro de 2023, a inflação tinha subido para 2,9%, mas tem vindo a descer.

Já a inflação subjacente, que exclui os preços mais voláteis, como a energia ou os alimentos, recuou para 3,1% em fevereiro para o nível mais baixo desde março de 2022.

Entre as componentes mais elevadas, a inflação sobre o preço da energia (que tem em conta a eletricidade, gás e combustíveis) recuou para os 3,7%, com o preço dos alimentos a recuar de 5,6% para 4%.

Por parte dos mercados, as expetativas estão a começar a moderar. No início do ano, o mercado estava a descontar cortes de 175 pontos base por parte do BCE e da Fed em 2024, mas agora descontam cortes de 91 pontos (BCE) e de 82 pontos (Fed).

Para os analistas, a expetativa é um corte de 100 pontos pelo BCE e de 75 pontos pela Fed, com ambos a arrancarem em junho, segundo Paolo Zanghieri, economista da Generali AM.

Já o ING, espera um primeiro corte pelo BCE em junho com 75 pontos de cortes a terem lugar ainda este ano.

Por seu turno, o Goldman Sachs também espera um primeiro corte do BCE em junho, acreditando no recuar da inflação na zona euro.

“Continuamos à espera de cortes seguidos até serem atingida uma taxa terminal de 2,25%”, com cinco cortes seguidos em 2024 (contra seis antes) e dois cortes em 2025 (contra um antes), todos de 25 pontos base, abaixo da expetativa do mercado.