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FMI alerta para incerteza nas últimas etapas da luta contra a inflação

A possibilidade de uma inflação mais persistente do que se espera, um cenário que conta ainda com bastantes fatores de risco, pode obrigar a um ambiente de juros elevados durante mais tempo, com todos os efeitos negativos que tal traz a famílias e empresas.

Os últimos capítulos da atual luta contra a inflação elevada são incertos e propícios a surpresas, avisa o Fundo Monetário Internacional (FMI) na sua atualização de previsões macro de verão. A entidade liderada por Kristalina Georgieva considera, por isso, que as populações devem preparar-se para uma realidade de juros mais elevados, sobretudo dado o passado recente na zona euro de política ultra-acomodatícia.

A atualização de verão do World Economic Outlook publicada esta terça-feira, 16 de julho, destaca a duração do atual ciclo de aperto monetário, argumentando que, por um lado, este se tem revelado mais prolongado do que se previa, ao mesmo tempo que, por outro lado, continua a impactar negativamente o rendimento disponível das famílias e a capacidade de investimento das empresas.

Apesar de manter como cenário base uma descida dos juros nas economias mais desenvolvidas, nomeadamente na zona euro, EUA e Reino Unido, o FMI alerta para os riscos que um rumo incerto da inflação cria, sendo que vários fatores podem contribuir para um agravamento temporário dos indicadores de preços.

Um destes riscos é o agravamento das tensões geopolíticas globais, sobretudo as que afetem o comércio internacional. Tal pode significar uma subida do “custo dos bens importados ao longo das cadeias de fornecimento”, contribuindo para leituras mais elevadas do lado dos preços que poderão condicionar os bancos centrais.

“No caso de estas ameaças se materializarem, os bancos centrais devem evitar cortar taxas demasiado cedo e manterem-se abertos a mais subidas, caso sejam necessárias”, lê-se no relatório. Acresce a isto que “derrapagens orçamentais nos últimos anos em alguns países podem requerer uma postura significativamente mais rígida do que previsto”, algo particularmente relevante após os anos de disparo na despesa causado pela pandemia e pela crise energética.

Recorde-se que a política monetária europeia e norte-americana foram dos temas em debate no Fórum do Banco Central Europeu (BCE) realizado no final do passado mês em Sintra. Naquele evento, os presidentes das autoridades monetárias europeia e norte-americana sublinharam os riscos de manter uma postura demasiado rígida por muito tempo, bem como de cortar juros antes de a situação nos preços estar sob controlo.

Zona euro cresce 0,9% este ano

Do lado do crescimento, o Fundo reviu a projeção para a zona euro este ano em ligeira alta, por 0,1 pontos percentuais (p.p.), mantendo inalterada a expectativa para 2025. O bloco europeu deve assim crescer 0,9% este ano e 1,5% no próximo, uma evolução sustentada pelo desempenho acima do esperado do lado dos serviços e do comércio internacional.

A juntar a isto, a economia europeia tem experienciado “um consumo mais forte apoiado por salários reais crescentes, tal como mais investimento proveniente de condições de financiamento aliviadas” pelo esperado recuo dos juros diretores para moeda única. No entanto, tal “pode gerar mais persistência na inflação nos preços e nos salários”, alerta o relatório.

Olhando no detalhe, Espanha destaca-se como a grande economia do bloco europeu com a mais significativa revisão para a projeção de crescimento este ano, com o FMI a apontar agora a um avanço de 2,4%, ou seja, 0,5 p.p. acima do projetado em abril. De referir que o relatório contém apenas projeções para as quatro maiores economias europeias, ou seja, Espanha, França, Alemanha e Itália.

No que respeita aos EUA, o FMI cortou a previsão para este ano em 0,1 p.p., mantendo inalterada a expectativa para 2025. Assim sendo, o Fundo projeta um avanço de 2,6% este ano e 1,9% no próximo, ambos acima do esperado para a zona euro. Já o Reino Unido deve crescer 0,7% este ano, uma revisão em alta de 0,2 p.p., mantendo-se a projeção de 1,5% no próximo.