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Fed prepara-se para pausa nas mexidas dos juros enquanto navega incerteza da política de Trump

O banco central norte-americano, cujo presidente foi alvo de repetidas e fortes críticas de Trump no primeiro mandato e na campanha eleitoral, deve manter a política monetária inalterada até perceber melhor os impactos das mexidas (ainda não conhecidas) decretadas pela nova administração.

A Reserva Federal conclui esta quarta-feira a sua primeira reunião de política monetária de 2025 e do segundo mandato de Trump, esperando-se que fique tudo inalterado nos juros diretores, mas com o presidente do banco central a tentar navegar águas traiçoeiras: por um lado, a incerteza face à política económica da nova administração dificulta as perspectivas da Fed; por outro, Powell procurará manter-se à margem da discussão política e imune a acusações de interferência, algo que Trump tentará claramente explorar.

Do lado dos juros, o mercado dá como praticamente certo que não haverá alterações nesta primeira reunião do ano, com a FedWatch Tool do CME Group a mostrar uma probabilidade calculada pelo mercado de 99,5% para um cenário em que as taxas diretoras se mantêm entre 4,25% e 4,5%. A inflação tem vindo a subir nas últimas três leituras, saltando de 2,4% em setembro para 2,9% em dezembro, mas tal já era previsto, dados os efeitos base desfavoráveis.

O foco da decisão da Fed vai, portanto, para o discurso de Jerome Powell. O líder do banco central foi um alvo recorrente dos comentários negativos de Trump durante o seu primeiro mandato, com o regressado presidente a sugerir que teria poder para despedir Powell caso assim entendesse durante a campanha eleitoral do ano passado – possibilidade que o presidente da Fed rejeitou, recusando que a Casa Branca tenha esse mandato.

A expectativa é assim de uma Fed mais prudente, procurando não dar sinais que possam ter interpretação política e esperando para ver os efeitos na economia real da política (ainda incerta) económica americana nos próximos quatro anos.

“A Fed está preocupada em manter uma postura política mais cautelosa, mantendo as taxas inalteradas a curto prazo, à medida que avalia os dados de crescimento e de inflação”, escreve Michael Krautzberger, diretor de Investimento Global em Obrigações na AllianzGI. Já o Capital Group lembra que “as prioridades de tarifas, cortes fiscais e desregulamentação podem suportar o crescimento nos EUA […], mas também levar a um dólar mais forte e mais inflação”, obrigando a mais precaução por parte do banco central.

Prevendo que as posições económicas da nova administração não sejam tão extremadas como Trump havia prometido durante a campanha, a Ebury avança que “os decisores quererão ouvir mais do presidente antes de decidirem sobre cortes adicionais”, reforçando esta ideia de cautela por parte do banco central.

Com um mandato duplo abrangendo o pleno emprego além da estabilidade de preços, a Fed terá de manter sob vigilância a dinâmica laboral, sublinha o banco neerlandês ING, sobretudo em setores onde a mão-de-obra migrante é mais importante e onde possíveis planos de deportação criem problemas de falta de trabalhadores – outra fonte de pressão nos preços.

De qualquer das formas, Powell procurará não fazer comentários alargados a possíveis alterações de política económica ainda não conhecidas, continua a Ebury, antecipando apenas que o presidente da Fed reconheça que “mais protecionismo arrisca prolongar a inflação por mais tempo ou enfraquecer o crescimento”.