Os analistas dão quase como garantida a baixa das taxas de juro pela Reserva Federal norte-americana (Fed), esta quarta-feira, em 0,25 pontos percentuais (p.p.), uma certeza que também se estende para dezembro, naquela que deve ser a última reunião do ano da instituição. Dados relativos ao emprego e inflação devem pesar na decisão. Shutdown do governo norte-americano, que se iniciou em outubro, devido a não existir entendimento entre os partidos sobre proposta orçamental, e que impediu a publicação de vários dados económicos, que ajudariam à tomada de decisão da Fed, não deve condicionar tomada de decisão do banco central americano.
A se confirmar a descida seria a segunda descida consecutiva das taxas de juro pela Fed. A reunião realizada em setembro, baixou as taxas de juro, em 0,25%, para o intervalo entre os 4% e os 4,25%, a primeira vez que isso aconteceu desde dezembro de 2024.
"Embora a recente estabilidade nos mercados financeiros reduza a pressão sobre a Fed para cortar as taxas, o enfraquecimento do cenário de emprego e a recente inflação contida praticamente garantem cortes adicionais nas taxas este ano", disse o estratega-chefe de multi-ativos da Morningstar Wealth, Dominic Pappalardo, relativamente aos motivos que devem levar à baixa das taxas de juro esta quarta-feira.
O vice-presidente da estratégia de investimento da Glenmede, Mike Reynolds, citado pela Morningstar, foca também a sua atenção nos indicadores da inflação e do emprego.
Na visão de Mike Reynolds o mercado laboral norte-americano necessita de uma "maior atenção" por parte da Fed e alertou que uma inflação que se "mantenha estável" pode adiar novos cortes nas taxas de juro em 2026.
Traders dão como garantia descida dos juros em outubro e novembro
A Morningstar, sustentando-se nos dados da CME FedWatch, salienta que os 'traders' de futuros de obrigações dão uma probabilidade de 99% de corte nas taxas de juro em 0,25 pontos percentuais, esta quarta-feira, e uma probabilidade de 94% de existir um novo corte de 25%, na última reunião do ano, prevista para dezembro.
A responsável pelos investimentos multissetoriais em rendimento fixo da Goldman Sachs Asset Management, Lindsay Rosner, citada pela Morningstar, considera que um corte nas taxas de juros, pela Fed, esta quarta-feira, será "uma conclusão inevitável", admitindo também que o mesmo aconteça na reunião prevista para dezembro. Contudo Lindsay Rosner refere que 2026 traz "incógnita" sobre o caminho que a Fed irá seguir.
Já o J.P. Morgan Global Research refere que devem acontecer dois cortes nas taxas de juro [na reunião de outubro e dezembro], em 2025, e mais um corte em 2026.
"A divergência entre os pontos mais dovish (política monetária mais suave) do FOMC [que mapeia as projeções de juros de curto prazo dos principais decisores políticos da Fed] e os perfis mais hawkish (política monetária mais agressiva) de crescimento e inflação sugere que a recente ação política deve ser vista como um corte que serve como seguro, em vez de uma mudança substancial na função de reação da Fed. Dito isto, acreditamos que seria necessária uma grande mudança no ímpeto do mercado de trabalho para evitar outro corte em outubro, e haverá apenas mais um relatório de emprego até lá. No entanto, se os riscos para o mercado de trabalho não se concretizarem no quarto trimestre, particularmente sob a forma de uma taxa de desemprego mais elevada, o Comité [da Fed] poderá fazer uma pausa [nos cortes das taxas de juro] após as reuniões de outubro ou dezembro", defendeu o economista-chefe para os Estados Unidos para os Estados Unidos, Michael Feroli.
Norte-americanos não se importam com descida de juros
Apesar de ser quase garantida uma descida das taxas de juro pela Fed, esta quarta-feira, isso não parece importar o cidadão norte-americano, mesmo que isso signifique uma poupança de vários milhões de dólares, tendo em conta um estudo feito pela aplicação de finanças WalletHub, transcrito pelo USA Today.
As conclusões da WalletHub refere que 65% dos norte-americanos manifestaram-se "indiferentes ou insatisfeitos" com os cortes das taxas da Fed, e 59% disse que outro corte de 25% não faria qualquer diferença nas suas vidas.
De acordo com os cálculos da WalletHub uma descida nas taxas de juro poderia gerar uma poupança de pelo menos 1,92 mil milhões de dólares, em juros, nos próximos 12 meses, para os utilizadores de cartões de crédito.
Fim do Quantative Tightening?
Outro ponto de interesse da reunião da Fed reside também naquilo que pode ser feito, ou não, ao nível do quantative tightening, processo que tem como propósito retirar liquidez do mercado. A fricção que este tipo de restrição está a provocar nos mercados monetários pode ser o motivo que leve o banco central norte-americano a tomar algum tipo de decisão, assinalam especialistas à Reuters.
O Deutsche Bank e o J.P. Morgan são alguns do bancos que consideram que a Fed deve colocar fim ao quantative tightening.
Citados pela agência noticiosa Reuters, os estrategista do Deutsche Bank espera que o Comité do Federal Open Market Committee (FOMC), que é organismo que toma decisões da Fed, "anuncie o fim do quantative tightening".
Esta expetativa é em parte partilhada pelo cofundador da LH Meyer, Derek Tang, que em declarações à agência noticiosa admitiu que "não é uma conclusão" que se coloque fim ao quantative tightening nesta reunião da Fed, mas revelou que "não ficaria muito surpreendido" se essa decisão fosse tomada pela Fed, esta quarta-feira.
A Reuters lembra também que os analistas do J.P. Morgan defenderam junto de clientes, que após o fim do quantitative tightening, que deve acontecer esta semana, a Fed deve proceder a "intervenções temporárias no mercado imediatamente".
A Evercore ISI é outra instituição que acredita que o fim do quantitative tightening pode estar para breve. "Acreditamos que a Fed irá agora sinalizar o fim do quantitative tightening na reunião de outubro, antes das pressões do final do ano, embora o fim efetivo possa ocorrer um ou dois meses após o anúncio", salientou a instituição, citada pela Reuters.
Pelo mesmo diapasão alinha a Jefferies. "Esperamos que a Fed cesse completamente na reunião de outubro", refere a agência noticiosa.