Até a cautelosa Jordânia está a perder a paciência com Israel: o ministro das Relações Exteriores do país, Ayman Safadi, pediu uma investigação internacional sobre eventuais “crimes de guerra” cometidos durante a guerra de Israel em Gaza. As palavras de Safadi surgem depois de Israel ter morto pelo menos 31 pessoas no campo de refugiados de Nuseirat como consequência da intensificação dos ataques aéreos e terrestres em Gaza. Por outro lado, e em entrevista exclusiva à Al Jazeera, o primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, falou em genocídio e apelou aos Estados Unidos para que interrompessem o fornecimento de armas a Israel.
Entretanto, Estados Unidos e Arábia Saudita discutem um acordo de segurança que inclui a normalização das relações do país árabe com Israel. A imprensa de Riad diz que o conselheiro de segurança nacional dos EUA e príncipe herdeiro saudita mantiveram conversas sobre “uma versão semifinal do rascunho” que compreende o fim da guerra em Gaza e a criação do Estado palestiniano.
Jake Sullivan e o príncipe Mohammed encontraram-se em Dhahran, uma cidade no extremo leste do reino que abriga sua gigante estatal do petróleo, a Saudi Arabian Oil ou Aramco. “A versão semifinal dos projetos de acordos estratégicos entre o reino e os Estados Unidos da América, que estão quase a ser finalizados – e o que está a ser trabalhado entre os dois lados na questão palestiniana para encontrar um caminho credível – foram discutidos”, lê-se num comunicado divulgado após as conversações.
Os acordos incluem “uma solução de dois Estados que atenda às aspirações e direitos legítimos do povo palestiniano” e “a situação em Gaza e a necessidade de parar a guerra e facilitar a entrada de ajuda humanitária”, acrescenta o comunicado.
Após a visita à Arábia Saudita, Sullivan deve visitar Israel, onde se reunirá com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para o colocar a par das conversas em Riad e também para discutir a planeada operação militar em Rafah.
A Arábia Saudita há muito pede a criação de um Estado palestiniano independente ao longo das fronteiras de Israel de 1967, com Jerusalém Oriental como capital. No entanto, essa hipótese é insustentável para Netanyahu, cujo governo depende do apoio de linha-dura que se opõe a uma solução de dois Estados e apoia o regresso dos colonatos israelitas a Gaza e o aumento do seu número na Cisjordânia.
A guerra na Faixa de Gaza e a sua influência nas relações com a Arábia Saudita voltaram ao topo da agenda quando o ministro do gabinete de guerra Benny Gantz emitiu um ultimato sobre uma série de tópicos, incluindo a normalização saudita, como condição para manter o seu partido, o Unidade Nacional, no governo de emergência, a que se juntou após o início da guerra. Em resposta, o gabinete do primeiro-ministro emitiu um comunicado dizendo que Netanyahu se opõe ao “estabelecimento de um Estado palestiniano que inevitavelmente será um Estado terrorista”.
Durante a última visita a Riad do secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, em abril, ele e o seu homólogo saudita disseram que um acordo final EUA-Arábia Saudita estava próximo. A Arábia Saudita há muito confia nos EUA – como outras nações árabes do Golfo – para manter a garantia de segurança no Oriente Médio. Segundo os observadores, o acordo deverá também contemplar o facto de haver um programa nuclear no Irão. Mas também a permissão dos EUA para a Arábia Saudita enriquecer urânio no reino – algo que preocupa os adeptos da não proliferação nuclear.
Recorde-se que o príncipe Mohammed já disse que o reino buscaria apetrechar-se com armas nucleares se o Irão as tiver. A missão do Irão nas Nações Unidas, por seu lado, confirmou que Teerão manteve conversas indiretas com autoridades norte-americanas em Omã na semana passada. “As negociações não foram as primeiras e não serão as últimas”, disse fonte da missão, de acordo com a agência estatal iraniana IRNA.