Incredulidade, hostilidade, desconfiança e desinteresse. Estas são algumas das expressões que revelam o sentimento que o mercado imobiliário português vive atualmente, no final de um ano que fica marcado pelo pacote ‘Mais Habitação’ e o impacto provocado pelo fim do regime dos Residentes Não Habituais (RNH).
“Este foi um ano em que já se começou a desacelerar em termos de volume de transações e parece-me que o mercado português está a perder interesse por vários motivos”, refere em declarações ao JE, o economista João Duque, acrescentando que o ambiente tem sido “muito hostil” com as ameaças ao investimento e isso acaba por se refletir.
Uma hostilidade que o economista considera vir do próprio Governo que “em vez de tentar acalmar, foi um grande promotor para muito azedume e antipatia em relação ao mercado imobiliário e ao investimento no mercado imobiliário”.
João Duque vai mais longe e acredita que “a luz começou a apagar-se” no mercado imobiliário em 2023. “As coisas a continuarem assim, e não vejo razões para mudarem, em 2024 vai continuar a tendência do princípio de um apagão”, alerta.
Quem se mostra também pessimista sobre o rumo do mercado é José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties, que ao JE assume que neste momento, o sentimento é de “incredulidade e de desconfiança”.
“Há claramente um arrefecimento ao nível do investimento e expetativa por parte de muitos clientes e empresa que pensavam instalar-se em Portugal”, afirma, acrescentando que para 2024 a oferta irá reduzir, já que há menos licenças emitidas. “No caso da Vanguard Properties fruto, nomeadamente, de problemas e demoras no licenciamento, em 2024, não prevemos entregar um único fogo”, sublinha.
Pelo mesmo diapasão alinha. Patrícia Barão, head of residential da JLL, “Prevejo que possa existir uma diminuição do número de transações e de vendas. Acredito que isso vá acontecer, mas que não seja uma situação muito extrema”, refere ao JE, acreditando que apesar de todas as medidas Executivas, Portugal ainda irá merecer a atenção dos investidores e promotores.
“Continua a existir essa vontade, apesar de alguns promotores e alguns investidores estarem obviamente a repensar as suas estratégias”, afirma.