Tudo indicava que o primeiro dia do debate da investidura do líder do Partido Popular, Alberto Núñes Feijóo, seria tenso, algo agressivo e provavelmente barulhento. Mas ninguém conseguiu antecipar o que aconteceu: depois de ouvir Feijóo, o líder socialista, Pedro Sánchez, nem sequer se deu ao trabalho de responder.
Sánchez optou por um golpe de efeito para mostrar a sua rejeição à tentativa de investidura de Alberto Núñez Feijóo, que descreveu como "perda de tempo": mandou Òscar Puente, ex-presidente da câmara de Valladolid responder. E se o golpe já seria suficientemente humilhante, Sánchez ainda quis aumentar a dimensão da estocada: é que a escolha de Òscar Puente também não foi inocente. Afinal, Puente é um vencedor das regionais de Valladolid, mas não com o número de votos suficiente para governar a cidade.
Portanto, foi uma conversa "de vencedor em vencedor", brincou Puente. "Porque teria você mais direito de ser presidente do governo que eu de ser governador da minha cidade? Nem você nem eu ganhámos as eleições", disse Puente – apesar de ambos terem ganho.
Sánchez riu audivelmente dos ataques e das puadas com que Puente ‘brindou’ Feijóo, enquanto da bancada do PP gritava contra a “falta de respeito” de Sánchez por não discursar na investidura. Com o ambiente em pré-explosão, o debate foi, por isso, aquilo que o PSOE quis: um circo. Com uma mensagem: lá mais adiante, por altura da verdadeira investidura – ou seja, na sua própria – Pedro Sánchez falará.
Entretanto, houve também o debate. O presidente do PP iniciou o seu discurso no debate de investidura (para o qual não tinha limite de tempo) dizendo que “o debate de investidura é decisivo para Espanha”. De substancial, começou desde logo por referir-se à lei da Amnistia – aquela que está a ‘rasgar’ a Espanha ao meio.
“A amnistia ou qualquer fórmula equivalente ou análoga é um instrumento adequado para superar o conflito catalão; da mesma forma, este conflito não será resolvido definitivamente se não contemplarmos o direito do povo de decidir em referendo ou qualquer fórmula equivalente ou análoga. Isso será suficiente, certo? Não, não vou defender isso porque tenho princípios e tenho a minha palavra”, disse Feijóo. Dedicou assim as suas primeiras palavras para rejeitar uma possível amnistia para os arguidos no processo (o procés) e os possíveis acordos entre Pedro Sánchez e os independentistas.
“Já posso adiantar que o projeto que estou aqui para apresentar não inclui a amnistia, nem a autodeterminação ou fórmulas análogas ou equivalentes”, acrescenta Feijóo. “Para mim, não é legal nem eticamente aceitável. Fora da Constituição não há democracia”, afirmou, apesar de juristas respeitados terem dito que a amnistia é constitucional, recorda a comunicação social.
“Não vou renunciar à igualdade dos espanhóis nem a tudo o que partilhamos para ser presidente do governo”, insistiu Feijóo. “Não concordo que a Constituição possa ser contornada por decisões que eliminem a igualdade entre todos os espanhóis com um golpe de caneta”, acrescentou. O mote estava dado.
Veio depois o programa de governo e mais tarde o regresso à política: Alberto Núñez Feijóo garantiu que dispõe de votos para realizar a investidura. E disse que os catalães do Junts per Catalunya ofereceram a mesma coisa ao PP e ao PSOE, mas que os populares não aceitaram. “Tenho os votos ao meu alcance para ser presidente do governo, mas não aceito pagar o preço que me pedem para o ser”, afirmou Feijóo, declaração que provocou risos na bancada socialista. “Puigdemont quer um presidente que seja um aliado nos seus esforços pessoais e partidários. Ele não se importa se é do PP ou do PSOE", justificou.
“Já vos disse que estou aqui porque ganhei e porque aceitei a proposta do chefe de Estado. E também porque quero oferecer ao meu país uma alternativa que restaure a harmonia, a igualdade, a ambição coletiva que o nosso país perdeu. “Espanha está a viver uma deterioração constitucional sem precedentes e com o risco de piorar ainda mais, as famílias suportam cada vez mais encargos, temos uma fragilidade económica significativa e o desafio de fortalecer o Estado-providência para as gerações futuras”, acrescentou. Tudo indica que não será ele, Núñes Feijóo, a tomar o encargo em mãos.