Skip to main content

Espanha: Puigdemont continua a vender caro o apoio catalão a um governo PSOE

A menos de dez dias da tentativa de investidura de Alberto Núñes Feijóo – que todos vaticinam impossível – a alternativa socialista ainda só conta com vontades. Tarda um compromisso concreto, por causa do ‘fantasma’ do unilateralismo.

Elevado inesperadamente a ‘fiel da balança’ da política espanhola, o líder exilado do Junts per Catalunya, Carles Puigdemont, está a vender caro o apoio no qual prometeu pensar quanto a uma coligação com o PSOE de Pedro Sánchez. É que, mais de um mês e meio depois das eleições, Puigdemont ainda não assegurou aos socialistas, sem margem para dúvidas, que se prestará a votar favoravelmente uma – para já, apenas hipotética – investidura de Sánchez.

Com os socialistas a entrarem em regime de desespero, a fase em que afirmavam fazer tudo para convencer o líder catalão deu lugar a algum endurecimento do discurso do PSOE  – que agora parece ter optado por tentar encostar Puigdemont ‘à parede’: ou aceita um acordo com os socialistas, ou será o responsável pela próxima crise política espanhola.

Com a tentativa de investidura do líder do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo, a ir a plenário no próximo dia 27 de setembro – a coligação entre a esquerda do PSOE e a direita do Junts per Catalunya ainda está em fase embrionária, segundo fontes socialistas citadas pela imprensa espanhola.

Mas o líder socialista e primeiro-ministro interino está convencido de que terá sucesso. "Os espanhóis falaram e haverá um governo progressista, claro que haverá", disse Sánchez este domingo durante um comício em Oroso (Corunha). "Vamos fazer o que prometemos na campanha: disse que procuraria votos mesmo debaixo das pedras para continuar a fazer políticas progressistas, garantindo a igualdade e a harmonia entre os povos de Espanha, e é isso que vamos fazer", acrescentou.

O socialista não fez qualquer menção à possibilidade de aprovar, no âmbito desse acordo, uma Lei de Amnistia para os arguidos do processo de independência, que é a principal reivindicação de Puigdemont e que o PSOE sempre rejeitou mas que agora está disposto a negociar. Resta saber se, perante a eventualidade de a lei surgir, o rei Filipe VI estará disposto a ‘atravessar’ o seu nome e eventualmente o seu prestígio político aceitando-a. Segundo alguma imprensa, esta dúvida minou em absoluto a relação entre Filipe VI e o líder socialista – que até agora parecia ser irrepreensível e até próxima da amizade – mas, evidentemente, os dois políticos não estão disponíveis para comentarem diretamente o assunto.

No comício na Corunha, Sánchez não fez qualquer alusão aos pormenores ou condições das negociações mantidas com o líder catalão, mantendo o foco em Feijóo, sobre quem disse que será “o próximo líder da oposição”. “O PSOE vai continuar a governar por mais quatro anos", insistiu, para voltar a censurar o líder popular pela "enorme perda de tempo" que é a sua tentativa de investidura.

No meio desta falta de resultados entre possíveis futuros parceiros e de algumas palavras menos simpáticas trocadas entre figuras dos dois lados, oficialmente, as negociações ainda não começaram: os socialistas sustentam que a negociação aprofundada com o Junts per Catalunya só começará após a sessão de investidura de Feijóo. Ninguém parece acreditar neste calendário, mas o certo é que o lado catalão já ameaçou que, se não vir forma de atingir os seus objetivos com os socialistas, pode testar outro ‘processo’ – aquilo a que os analistas chamam a unilateralidade: a possibilidade de lançar outro processo em torno da independência. Este domingo, em entrevista ao “La Vanguardia”, a líder do Sumar e segunda vice-presidente do governo em exercício, Yolanda Díaz, apontou que renunciar ao unilateralismo, ou seja, comprometer-se a não haver mais um desafio à legalidade como em 2017, é um pré-requisito para os socialistas (e o Sumar) falarem com o Junts per Catalunya. Foi a primeira vez que Yolanda Diaz colocou esta condição, ficando agora à espera de uma eventual resposta por parte de Puigdemont.

"O acordo deve ser amplo. E nesse acordo não há espaço para o unilateralismo [...] Onde há acordo, não há espaço para o unilateralismo", disse a vice-presidente do executivo. O problema é que, há cerca de duas semanas, Carles Puigdemont afirmou que "o Junts não se demitiu e não renunciará ao unilateralismo". E no passado sábado, após a reunião do conselho nacional do Junts per Catalunya, a porta-voz parlamentar, Míriam Nogueras, avisou, citada pela imprensa: "Não vamos ceder um centímetro. Não vamos afrouxar. Não vamos baixar as nossas propostas". Ou dito de outra forma: o unilateralismo continua na agenda.