Foram cumpridos este domingo seis anos sobre o referendo que a Catalunha promoveu e Madrid considerou ilegal sobre a independência – que, recorde-se, o ‘sim’ ganhou com 92%, mas as abstenções também ganharam, quase tendo chegado aos 57%. Não podia haver melhor cenário para o que se passa atualmente em Espanha: quem quiser formar o próximo governo, terá de se colocar ‘nas mãos’ dos independentistas de direita. Desta vez, o que é uma novidade para o PSOE (como teria sido para o PP), dos independentistas conservadores e de direita, liderados por Carles Puigdemont.
Passado o ‘finca pé’ do líder do PP, Alberto Núñes Feijóo, é agora a vez do líder do PSOE e presidente do governo interino, Pedro Sánchez, tentar a sua sorte. E sobre esta matéria, insistiu este fim-de-semana nas suas ‘linhas vermelhas’: como se fosse uma palavra de ordem, “amnistia sim, referendo não”.
Puigdemont, que não recebeu nenhuma proposta da parte do PP – ou pelo menos é isso que se infere do discurso de Feijóo na investidura fracassada da semana passada – está agora à espera do que lhe dirá Sánchez. E os caminhos são dois: ou o que o PSOE tem para dizer ao Junts per Catalunya, o partido do deputado europeu exilado na Bélgica, será do agrado dos independentistas, ou em pouco tempo os espanhóis serão chamados a eleições antecipadas.
Para os analistas, ainda não é absolutamente certo que o Junts per Catalunya venha a dar o seu aval a um governo socialista – e se os catalães votarem contra ou mesmo se se absterem, não restará a Filipe VI alternativa se não convocar eleições. “A possibilidade de haver eleições antecipadas não é grande, mas não pode ser descartada”, disse ao JE o analista Francisco Seixas da Costa.
Longe de Madrid (em Barcelona), o presidente da Generalitat, Pere Aragonès, aproveitou a sua mensagem institucional por ocasião do aniversário do referendo para insistir que o apoio do Junts e do seu partido, a Esquerda Republicana da Catalunha, à investidura de Pedro Sánchez está condicionado ao compromisso de avançar para uma votação semelhante, mas acordada. O republicano insiste que o referendo é a única solução possível para o conflito de soberania na Catalunha. Aragonés, depois de reconhecer que as posições estão distantes, tem defendido deixar espaço para a negociação política onde, defendeu, a unidade independentista é mais necessária.
"Seis anos depois de 1-O [parece um-zero, mas não: é 1 de outubro] quero enfatizar a clareza de objetivos: a autodeterminação e a amnistia. E firmeza em todas as áreas, também na negociação, como forma de torná-las possíveis", disse Aragonès, citado pela imprensa espanhola. A proposta do presidente, na passada terça-feira no Parlamento, de ligar o apoio vital da ERC e do Junts a Sánchez ao facto de haver um compromisso do executivo "de trabalhar para tornar efetivas as condições" para um referendo, abalou o quadro de negociações já muito incerto.
Uma das partes terá de ceder: ou o PSOE admite um referendo – num quadro em que este será sempre, novamente, ilegal: a Constituição não foi mudada – ou os independentistas deixam cair o assunto e concentram-se na amnistia. Sendo certo que, convém recordar, Filipe VI não quer ouvir falar em referendos, mas também está muito pouco confortável com qualquer diploma que amnistie o chamado ‘procés’, o ‘processo’.
Aragonès saudou os textos de apoio às negociações para a amnistia e a autodeterminação elaborados pelo Parlamento catalão. "Todos devem ter claro que a amnistia por si só não resolve o conflito", disse.
Em termos formais, Filipe VI irá esta segunda-feira voltar a ouvir os partidos com assento parlamentar. Segundo os jornais espanhóis, Pedro Sánchez está convicto de que irá ser indigitado pelo rei para a tentativa de investidura já amanhã, terça-feira.