A Tesla, líder do mercado de veículos elétricos, estará a planear a produção de um modelo de baixo custo, num movimento que será seguido por construtores automóveis como a Stellantis e a Volkswagen, para tentar alargar o mercado. A concorrência chinesa, com preços mais baixos, também obriga a uma resposta.
Os efeitos da concorrência, porém, não se sentirão apenas na comercialização de automóveis novos, mas também, no mercado de usados, onde a entrada de elétricos novos com preços mais competitivos vai forçar uma "depreciação forçada", de acordo com o diretor-geral do Standvirtual, Nuno Castel-Branco.
À redução de preço dos veículos novos acresce o desenvolvimento tecnológico nos elétricos, que também é um fator de pressão do preço no mercado de usados.
“Nós antecipamos, como se tem visto em outras tecnologias, que as autonomias vão aumentar. Fala-se da opção das baterias sólidas que vão provavelmente reduzir o tamanho ou automaticamente aumentar as autonomias para o dobro e já começar a aproximá-las dos mil quilómetros”, diz Nuno Castel-Branco, em entrevista ao Jornal Económico (JE). “A partir do momento em que começar a haver carros no mercado que carregam mais rápido e que fazem mil quilómetros, um carro que até não é mau, que faz 400 quilómetros, começa a ficar obsoleto”, acrescenta, apontando que, nesta perspetiva, existirá uma reação normal do consumidor, que tenderá a fazer um ajustamento da oferta/procura, que não é “tão evidente nos veículos a combustão, que já têm uma maior estabilização do que os elétricos”.
Atualmente, os veículos elétricos desvalorizam-se mais rapidamente do que os carros com motores a combustão, mas Castel-Branco diz que isto se deve, também, à conjuntura particular do mercado.
“É importante olhar para isto com uma perspetiva do momento que estamos a viver: líder de mercado nesta área dos elétricos é a Tesla e a Tesla, nos últimos anos, fez algumas reduções de preço com um significado muito grande a nível dos carros novos, o que tem sido algo muito mediatizado, pela sua magnitude”, aponta. “Os carros caíram quase 10 mil euros em novos. Isto pode dar a perceção de uma depreciação maior nos usados, mas não é obrigatoriamente assim. Se os carros novos reduzem, o preço dos usados tem de cair também. Mas isto não é uma depreciação normal. É forçada porque houve aqui um ajustamento de preços”, explica.
Um estudo do Standvirtual, que é um mercado virtual para veículos usados, compara o Tesla Model 3 e o BMW 320 a diesel, notando-se que a “depreciação do BMW é muito mais gradual”. “A mesma coisa não acontece no Tesla Model 3, porque, de facto, houve ali uma queda brutal. Há um ajustamento enorme de preço em novo e toda a gente que tem usados também teve de os ajustar”, diz Nuno Castel-Branco.
“A análise que fazemos é que, a partir dos 12 meses, os carros estão a depreciar em média 15%, o que não é muito longe daquilo que é mais ou menos expectável na depreciação dos carros, ou seja, não há aqui uma baixa muito acentuada”, refere.
Guerra de preços
“Agora, quando estamos num segmento de mercado, como são os carros elétricos, onde está a haver as marcas chinesas a entrar, onde se está a ver a Tesla a baixar preço, onde provavelmente vamos ver a Stellantis e a Volkswagen a entrar também com produtos mais low cost para fazer este mercado acelerar, isto vai empurrar os preços dos elétricos novos mais para baixo e vai acelerar a depreciação dos usados”, sustenta.
O diretor-geral do Standvirtual considera que este aumento da concorrência entre construtores automóveis vai continuar a desestabilizar o mercado dos veículos elétricos.
“Os fabricantes estão em guerra, de alguma forma, por este mercado e por market share e isso, seguramente, vai impactar e forçar de alguma forma a depreciação”, defende. “E outra coisa é que provavelmente carros elétricos mais antigos poderão vir a ter uma depreciação maior, porque começam a estar mais desatualizados tecnologicamente”, acrescenta.
“Enquanto na combustão, o carro com quatro ou cinco anos, mais extras, menos extras, mas o motor [aguenta-se]. Já um carro com quatro ou cinco anos, elétrico, se calhar tinha cento e poucos quilómetros de autonomia e agora já tem 300. Já é uma grande diferença na bateria. Isto está mais próximo quase dos telemóveis. Um telemóvel com quatro ou cinco anos já está mais obsoleto do que os carros a combustão e, por isso, haverá essa pressão adicional, que é normal, na depreciação dos elétricos”, explica ao JE.