A entrada no ensino superior é um dos momentos mais importantes na vida de um jovem e está em marcha. Após a divulgação dos resultados da primeira fase do concurso nacional este domingo, arranca já esta segunda-feira, 28 de agosto, a segunda fase do Concurso Nacional de Acesso. O ponto de partida são 5212 vagas, menos 1,4% lugares do que em 2022/2023, o valor mais baixo desde 1999. O número final será maior, crescendo com as desistências e matrículas não efetuadas por alunos colocados na primeira fase, mas há que esperar para ver. As matrículas da primeira fase realizam-se esta segunda, terça e quarta-feira, 28 a 30 de agosto.
Quatro instituições apresentam, neste momento, lotação esgotada: Escolas superiores de Enfermagem de Lisboa, Porto e Coimbra e o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. Em contrapartida, no Instituto Politécnico de Bragança existem ainda 944 lugares disponíveis e no Politécnico de Viseu 462. Mais. Há também 38 cursos a que nenhum aluno concorreu na primeira fase.
Nos politécnicos ficam disponíveis cerca de 4.000 vagas, após a primeira fase do concurso. Maria José Fernandes, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) e do IPCA - Instituto Politécnico do Cávado e do Ave - está confiante que serão preenchidas, quer “seja por via da 2.ª e 3.ª fases de acesso ao Ensino Superior, seja através do preenchimento das vagas para Maiores de 23 ou dos Diplomados de Vias Profissionalizantes, ou do concurso especial para acesso por titulares do grau de licenciado”.
Ponto fortes e fracos da 1.ª fase
A primeira fase do Concurso Nacional de Acesso é a principal porta de entrada no ensino superior para os mais jovens.
De acordo com os resultados para o ano letivo 2023/2024, divulgados este domingo pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior que o Jornal Económico noticiou profusamente na sua edição digital, foram colocados 49.438 alunos, menos 0,7% do que em relação à mesma fase do concurso de 2022, em que foram colocados 49.806. O número desceu 368 alunos, mas os candidatos também foram menos do que em 2022 (-4%). Para já, 84% estão colocados, o que representa um incremento de três pontos percentuais face há um ano (81%).
Nesta primeira fase, foram colocados 2810 estudantes beneficiários de escalão A de ação social escolar, dos quais 1.013 através do novo contingente prioritário, criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e uma das novidades do concurso deste ano. Esta novidade permitiu que o número de estudantes com escalão A colocados em cursos de excelência aumentasse 29% face ao ano anterior.
Pedro Nuno Teixeira, secretário de Estado do Ensino Superior, destaca o facto de mais de metade dos candidatos (56%) conseguiram ficar na sua primeira opção e 87%, ou seja, nove em cada 10, ficaram numa das suas três primeiras escolhas. O mesmo faz António Sousa Pereira, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP): “há uma adaptação maior entre aquilo que é a oferta formativa das instituições e o que são os desejos dos nossos jovens”, salientou o também reitor da Universidade do Porto em nota enviada ao JE.
Ambos responsáveis evidenciam o aumento das colocações e consequentemente da procura numa área crítica para o país: a formação de professores. Com efeito, dos 26 cursos de educação com vagas a concurso na 1.ª fase apenas três deixam vagas para a segunda fase. No total sobram 36 lugares dos 1.154 abertos.
Também em Medicina se assiste ao maior número de sempre de colocados com 1595 alunos, mais 56 do que no ano passado, mas as médias baixaram. O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto, onde no ano passado o último colocado entrou com uma média de 18,9, regista este ano 18,68, o que lhe confere o segundo lugar das notas.
O Top das médias é liderado pela novíssima Engenharia Aeroespacial da Universidade do Minho, criada no ano letivo de 2022/2023, com 18,86 valores. De salientar a existência de 14 cursos onde todos os alunos entraram com mais de 18 valores.
António Sousa Pereira vê como “muito positivo” que o número de colocados em instituições localizadas em regiões com menor procura e menor pressão demográfica tenha aumentado. “Universidades como a de Évora, a UTAD ou a da Madeira aumentaram o número de estudantes colocados este ano face a 2022, o mesmo tendo acontecido a vários politécnicos do Interior”.
Os dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior revelam que os jovens portugueses continuam claramente a preferir as universidades em detrimento dos politécnicos.
A baixa atratividade faz-se sentir em cursos na área da engenharia agronómica, florestal e alguns cursos na área da informática. Cursos muito “relevantes do ponto de vista estratégico para o nosso país”, o que coloca, segundo o presidente do CRUP, um grande desafio às instituições. “Temos de conseguir convencer os nossos jovens que estas são apostas que vale a pena fazer", afirma.
Dos 38 cursos que ficaram desertos, a maioria está em politécnicos e nas áreas de engenharias. José Moreira, presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup), olha com "grande preocupação" para esta realidade. "Para o país, não dar importância aos técnicos superiores é um problema grave, porque parece que continuamos a assistir a uma economia de serviços de baixo valor acrescentado, como é o caso do turismo e hotelaria". O responsável sindical declarou à agência Lusa que o país deve "procurar outros caminhos", que passam "pela especialização tecnológica e por inverter a questão de haver pessoas altamente especializadas com salários diminutos", sob pena de continuar a formar profissionais que vão trabalhar para outros países.
A perspetiva é partilhada por outros responsáveis do ensino superior que o Jornal Económico tem ouvido.
Veja aqui os resultados da primeira fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior para 2023/2024: CNA_2023_fase1a23_resultados